Por Felipe Storch do ISA –
Pesquisadores e cientistas brasileiros e britânicos e pesquisadores e conhecedores indígenas do Rio Negro, estão reunidos em oficina, em São Gabriel da Cachoeira, cujo tema é Etnobotânica e Ilustração Botânica, a partir de material coletado na região pelo naturalista britânico Richard Spruce
O material botânico coletado pelo naturalista britânico Richard Spruce, há mais de 150 anos na região do Rio Negro e em outros locais amazônicos, é o tema de um encontro que está acontecendo em São Gabriel da Cachoeira, noroeste amazônico. A ideia é que cientistas, pesquisadores britânicos e brasileiros e pesquisadores e conhecedores indígenas do Rio Negro façam uma reflexão sobre dois mundos distintos – o do conhecimento científico e o do conhecimento indígena – e de que forma eles podem caminhar juntos.
Para o coordenador adjunto do Programa Rio Negro, Aloisio Cabalzar, a oficina de Etnobotânica e Ilustração Botânica que acontece na sede do ISA e na maloca da Foirn, em São Gabriel, é parte de um esforço para aproximar instituições de pesquisa brasileiras e britânicas, em torno de pesquisas colaborativas – interculturais e interdisciplinares. Participam da oficina especialistas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, do Jardim Botânico de Kew (Inglaterra), do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) e da Universidade de Londres Birkbeck, além do Instituto Socioambiental e de pesquisadores indígenas dos rios Tiquié, Içana, de outros locais do Rio Negro, da comunidade de Itacoatiara Mirim com apoio da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). O encontro, que se iniciou em 27 de outubro e se estenderá até 5 de novembro, promove o intercâmbio de conhecimentos sobre as plantas e ainda contempla um treinamento em metodologias de pesquisa botânica.
William Milliken fala sobre os objetivos da Oficina Etnobotânica na maloca da Foirn
Na avaliação do etnobotânico William Milliken (Kew), a oficina reflete sobre perguntas como: “O que podemos aprender com a coleção de Spruce? Como podemos juntar os dois mundos, se é que existe esta distinção, do conhecimento indígena e do conhecimento científico? Como podemos usar a coleção de Spruce para promover a pesquisa indígena aqui na Amazônia?”. Cláudia Lopez, do Museu Paraense Emílio Goeldi, acredita que a oficina é uma oportunidade de auto-reflexão para quem trabalha em institutos de pesquisa. “Nós podemos construir conhecimento em diálogo com os povos indígenas.”
Interculturalidade
Os temas abordados ao longo dos próximos dias incluem taxonomia botânica básica, coleção e manejo de plantas para um herbário, coleção de dados etnobotânicos, fotografia para pesquisas bioculturais, coleção de artefatos e classificação, interpretação em diferentes contextos culturais, manejo e armazenagem de dados. Alguns dos participantes estão em um workshop paralelo de ilustração botânica coordenado por Patrícia Villela e Rachel Rosadas, ambas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Na sexta (28), os pesquisadores indígenas apresentaram suas pesquisas sobre os ciclos anuais no Rio Tiquié, agrobiodiversidade, cultura material, pimenta baniwa e paisagens florestais. A interação entre os pesquisadores indígenas e os cientistas abre um diálogo para que as comunidades possam ter acesso a todo conhecimento já gerado sobre a região.
Durante as noites, haverá um ciclo de palestras aberto ao público sobre o legado de Richard Spruce e os conhecimentos indígenas, além de lançamento de livros do ISA sobre pesquisas interculturais. (Instituto Socioambiental/#Envolverde)
*Publicado originalmente no site do Instituto Socioambiental