Ambiente

Falta de saneamento no Brasil é responsável por 350 mil internações no país

Mais de 102 milhões de brasileiros vivem em residências sem acesso a serviços considerados básicos e 35 milhões sofrem com escassez hídrica   

A situação do saneamento básico e acesso à água potável no Brasil revela uma realidade preocupante, tanto por conta da baixa qualidade de vida, quanto no âmbito da saúde. De acordo com a décima quinta edição do Ranking de Saneamento Básico do Instituto Trata Brasil, mais de 102 milhões de brasileiros vivem em residências sem acesso a serviços considerados básicos, como abastecimento de água, coleta de esgoto ou banheiro adequado.

Essa carência afeta diretamente uma em cada duas pessoas no país, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE. A porcentagem de esgoto tratado no país é extremamente baixa. Somente 51,2% de toda a água consumida no Brasil é tratada devidamente. Isso significa que quase metade do volume total é descartado de forma incorreta na natureza.

A disparidade regional também é marcante, com o Norte sendo uma das regiões mais afetadas. No território, apenas 60% da população tem acesso à água e 14% à coleta e tratamento de esgoto. Isso ocorre por conta do baixo investimento no setor. A região investe em média R$50 por ano por habitante em saneamento básico, quando o valor ideal que deveria ser alocado por cidadão é de R$203/ano.

A negligência por parte do governo afeta todos os âmbitos da sociedade. Ainda em relação à pesquisa realizada pela Trata Brasil, o investimento ideal para os cuidados do saneamento básico é, em média, R$44,8 bilhões. Entretanto, o Governo Federal tem investido apenas R$20 bilhões, menos da metade do valor necessário.

Fernando Silva, CEO da PWTech, startup de purificação de água contaminada, comenta sobre a falta de capital alocado para condições básicas necessárias: “A precariedade na hora de disponibilizar verba é extremamente prejudicial para a população, uma vez que afeta, na maioria das vezes, a parcela mais pobre do país. E isso chega ao dia a dia das pessoas, desde dentro de casa até a escola”.

A falta de dinheiro direcionado ao saneamento básico chega à educação, e consequentemente, afeta os jovens. Um relatório consolidado pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), em conjunto com o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCEPS), apontou que 38,58% das escolas – dentre as 1.082 de redes estaduais que foram utilizadas para a pesquisa – não tinham sabão para higienização das mãos nos banheiros e 26,90% estavam sem papel higiênico.

O problema se agrava quando não há banheiros nas instituições de educação. Segundo informações do Censo Escolar 2021, são cerca de 5,2 mil escolas sem banheiros e mais de 8 mil não têm acesso à água potável. Fernando comenta as possíveis consequências desse desafio: “A falta de infraestrutura básica nas escolas acaba afastando os alunos e aumentando a porcentagem de evasão escolar. Este é um grande causador do aumento do número de crianças que deixam a escola”. Segundo a Trata Brasil, o atraso escolar para jovens que não têm acesso ao saneamento básico é de 2,07 anos.

Como consequência da precariedade vivida por essa parcela da população, o número de enfermos por conta de doenças que são disseminadas nesses ambientes também aumenta. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde estimou que, anualmente, 15 mil pessoas morrem ao ano e 350 mil são internadas no Brasil, devido a doenças ligadas à precariedade do saneamento básico. Entre as crianças, são mais de mil com menos de cinco anos de idade que, todos os dias, morrem no mundo por conta de doenças causadas por falta de água potável, saneamento e higiene, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),

Além disso, o Brasil sofre com a escassez de água. Aproximadamente 35 milhões de brasileiros não têm acesso a água potável. Essa disparidade se reflete nas reservas hídricas, com a Região Norte concentrando 68% destas reservas. Entretanto, apenas 7% da população brasileira está concentrada nesta região. Sudeste e Nordeste, as mais populosas, apresentam apenas 6% e 3% das reservas, respectivamente, segundo dados do Mundo Educação.

Uma aliada para o fim desse problema pode ser a tecnologia, servindo como uma auxiliar para diminuir os impactos que a falta de saneamento e água potável causam. Os aparelhos de purificação de água, que podem diminuir o número de enfermos por doenças transmitidas pela água, é um dos exemplos.

Fernando Silva reforça que a tecnologia pode ser uma contribuinte para solucionar os problemas que já existem e evitar alguns futuros: “A partir dos meios tecnológicos, é possível iniciar pesquisas que contribuem para entender melhor as regiões mais afetadas pela falta de saneamento. A partir de filtros, medidores da qualidade de água, a tecnologia pode contribuir para aprimorar e tornar mais eficaz as formas de tratamento de esgoto, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos moradores das regiões em estado precário.”

A startup criou uma solução em conjunto com duas universidades de renome: a Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) e a USP (Universidade de São Paulo). A tecnologia, 100% brasileira, possibilita a filtragem e a purificação de água contaminada. Com capacidade de gerar 5.760 litros de água potável por dia, eliminando 100% dos vírus e bactérias.

Além dessa tecnologia, o empresário possui em seu escopo de produtos e serviços a especialização em monitoramento à distância de ETEs e ETAs. Criado pela SWTECH, empresa integradora de tecnologias em IOT (internet das coisas), a solução traz os dados dos processos em tempo real de sensores aplicados em campo a qualquer dispositivo móvel ou plataformas de monitoramento. Com a utilização da tecnologia, é possível medir a qualidade da água (PH, Turbidez, Temperatura e Oxigênio Dissolvido), além da disponibilização de métricas de vazão e pressão em tubulação.

(Envolverde)