Por Eduardo Freitas* –
Como já foi amplamente noticiado, na última sexta-feira (25/1) aconteceu um dos maiores desastres ambientais já registrados em solo brasileiro, quando a Barragem do Feijão se rompeu no município de Brumadinho (MG). Além dos danos no local que foi atingido pelos rejeitos de minério, ao longo de vários dias a lama está viajando pelos rios da região, afetando diretamente e indiretamente milhares de pessoas.
Apesar de muitos desejarem incluir este acontecimento no rol dos “desastres naturais”, não podemos nos conformar que algo dessa dimensão seja tratado como normal. Afinal, a movimentação atípica da estrutura poderia ter sido identificada a tempo e, assim, tomadas as devidas medidas para evitar o desastre. O projeto das instalações também poderia ser revisto, sem colocar os escritórios e refeitório justamente na linha de escoamento dos rejeitos. E, após o rompimento da barragem, ações de alerta rápido e resposta mais ágil à emergência teriam evitado a perda de muitas vítimas.
Em casos como este, as Geotecnologias são uma ferramenta para salvar vidas…
As Geotecnologias estão presentes em todas as fases de uma grande obra, como a barragem do Feijão, desde o mapeamento de uma região com potencial para implantação da barragem, passando pelo estudo de impacto ambiental, desenvolvimento do projeto, locação da obra, implementação da barragem e posterior monitoramento.
Sensoriamento Remoto na resposta ao desastre
Poucas horas após o desastre de Brumadinho apareceram as primeiras imagens de satélites do local, que davam a real dimensão da abrangência da catástrofe ambiental. Muitas empresas e instituições rapidamente voltaram suas atenções para a região e se mobilizaram para gerar dados, a fim de registrar os impactos do rompimento da barragem do Feijão. Comunidades de mapeamento colaborativo e de drones também se mobilizaram para apoiar na resposta ao desastre, mostrando a força do setor.
Uma das primeiras imagens do local foi obtida com o satélite Pleiades na manhã de sábado (27/1), ortoretificada, com 8 bits e cores naturais. A imagem foi adquirida com muitas nuvens, mesmo assim foi processada pela Airbus Defence and Space e disponibilizada pela empresa brasileira Engesat:
Link para baixar a imagem de satélite pelo Wetransfer (arquivo de 4.8 GB) https://bit.ly/2WsfL57
Link alternativo para arquivo mais leve em jpg (264 MB) https://we.tl/t-niYbpgdi44
Os arquivos podem ser abertos no aplicativo gratuito Avenza Maps, disponível na Play Store e Apple Store
A empresa DigitalGlobe também forneceu imagens obtidas com o satélite WorldView-3, que mostram a extensão da tragédia em Brumadinho:
Link para a imagem em jpg https://bit.ly/2DFdbBt
O mapa a seguir utilizou dados do satélite Radarsat-2, que foi um dos primeiros a imagear a cena do desastre no final da tarde do dia 26 de janeiro. Com base nesta imagem, e com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi delimitada a área atingida pela lama:
Link para baixar o mapa em formato pdf https://bit.ly/2B7phSr
O mapa abaixo utilizou o satélite de alta resolução RapidEye, que foi capaz de imagear o desastre na manhã do dia 27 de janeiro. Os limites da área atingida por esta imagem têm por objetivo orientar as equipes de resgate aos locais onde havia edificações. Também foram fornecidas as coordenadas de cada uma das edificações para as equipes de resgate:
Link para baixar o mapa em formato pdf https://bit.ly/2sSlsfq
Esta é uma imagem mais recente, também obtida com o Pleiades, nesta segunda-feira (28/1):
Link para a imagem em formato jpg https://bit.ly/2BbPa3n
A comunidade de mapeamento colaborativo OpenStreetMap Brasil também se mobilizou em tempo recorde para apoiar as atividades de resposta ao desastre. O mapa a seguir, do OpenStreetMap, mostra a região do rompimento de barragem em Brumadinho. Produzido com imagens de antes e depois do desastre, é o mais atualizado da região e indica a área devastada, bem como edificações potencialmente afetadas:
Link para acessar o mapa online https://www.openstreetmap.org/
Link para baixar a imagem em jpg https://bit.ly/2Us3UT5
Sistemas de Gestão Ambiental
Podemos conceituar um Sistema de Gestão Ambiental como sendo um mecanismo que provê o ordenamento e consistência para organizações empresariais de acordo com as preocupações ambientais. Por meio da definição de responsabilidades e avaliação contínua das práticas empresariais, busca-se desenvolver e implementar a política ambiental estabelecida por normas ambientais adotadas e aceitas internacionalmente, como as normas da Organização Internacional para Padronização (ISO).
A implementação de um Sistema de Gestão Ambiental agrega ferramentas que propiciam à empresa identificar estratégias de redução de seus impactos na natureza, orientando de forma otimizada os investimentos para a implementação de uma política ambiental eficaz, capaz de gerar receita e oportunidades de trabalho. Ou seja, ao implantar uma barragem, por exemplo, a empresa tem que garantir que o empreendimento seja seguro e sustentável.
Normas Ambientais
As normas de Gestão Ambiental mais utilizadas no Brasil são as da Série ISO 14000, que foram desenvolvidas pelo Comitê Técnico 207 da International Organization for Standardization.
O ISO trata-se de um conjunto de normas que fornece ferramentas e estabelece um padrão de Sistema de Gestão Ambiental, agregando seis áreas:
• Sistemas de Gestão Ambiental (Série ISO 14001 e 14004)
• Auditorias Ambientais (ISO 14010,14011, 14012 e 14015)
• Rotulagem Ambiental (Série ISO 14020, 14021 e 14025)
• Avaliação de Desempenho Ambiental (Série ISO 14031 e 14032)
• Avaliação do Ciclo de Vida do Produto (Séri ISO 14040, 14041, 14042 e 14043)
• Termos e Definições (Série ISO 14050)
O uso das Geotecnologias está intrinsecamente conectado com os trabalhos desenvolvidos dentro de um Sistema de Gestão Ambiental, pois auxilia no planejamento de várias atividades relacionadas ao tema, como por exemplo o uso das imagens de satélite e de drones para a localização de áreas e de determinadas feições.
Também podemos citar seu uso para delimitações e vetorização de feições, utilização de receptores GPS de alta precisão e Estação Total para o georreferenciamento de áreas, os softwares de Sistemas de Informação Geográfica e de Processamento Digital de Imagens para análise espacial de dados, edição e apresentação de mapas temáticos, tratamento e correções em imagens orbitais e aéreas, entre outros.
De forma geral, quando bem aplicadas, as Geotecnologias auxiliam – ou, ao menos, deveriam auxiliar – no planejamento de estratégias de conservação e preservação dos recursos naturais. Da implantação da obra ao monitoramento…
Monitoramento de Estruturas
Mas de nada adianta um bom Sistema de Gestão Ambiental, se na hora de implantar e monitorar a obra, não são utilizadas de forma eficiente as Geotecnologias.
No caso do monitoramento de barragens, como a que se rompeu em Minas Gerais, pode-se aplicar diferentes técnicas de levantamentos, como triangulações, trilaterações, nivelamento geométrico e rastreamento com receptores GPS. Além disso, é feito o ajustamento dos dados para verificar a rigidez da rede de pontos com coordenadas conhecidas sobre a estrutura.
Dentre os sistemas de monitoramento, o rastreamento com satélites está entre os de maior destaque. O GPS tem encontrado largo emprego no monitoramento de deformações. Em geral, deformações estruturais – como as de barragens – requerem precisão milimétrica dos deslocamentos que estão sendo monitorados.
Nestas situações, o GPS torna-se uma valiosa ferramenta ao ser combinado com outras técnicas de monitoramento de alta precisão, dentro do conceito de um acompanhamento integrado da estrutura.
Futuro…
O comportamento de fluidos e de estruturas já e amplamente conhecido e estudado, sem margens para interpretações ou dúvidas quanto ao que pode acontecer quando há algum tipo de movimentação atípica. O Brasil tem profissionais capacitados e tecnologias que não ficam a dever a países mais desenvolvidos. Isso não garante que acidentes de grande porte deixarão de ocorrer no futuro, no entanto, através da excelência técnica, o uso correto das Geotecnologias deverá minimizar a frequência e as consequências destes grandes acidentes, que geram cada vez mais impactos negativos à sociedade.
*Eduardo Freitas, Engenheiro Cartógrafo, Técnico em Edificações, Especializando em Drones para Aplicações Civis. Coordenador da programação técnica dos congressos MundoGEO Connect e DroneShow. Contato: [email protected]
Sobre o MundoGEO Connect e DroneShow
Nós trabalhamos para disseminar conhecimento, conectar os profissionais e fortalecer os ecossistemas de GEOLOCALIZAÇÃO e DRONES na América Latina. Para isso, geramos conteúdo online e realizamos eventos, como o MundoGEO Connect e a DroneShow. Envolvemos no conceito de GEOLOCALIZAÇÃO as diversas plataformas terrestres, aéreas e orbitais de coleta de dados, bem como o processamento, análise e compartilhamento das informações. Entendemos os DRONES como uma plataforma tecnológica disruptiva de coleta de informações para muitas finalidades além do mapeamento, como agricultura, infraestrutura, meio ambiente, recursos naturais, segurança, filmagens profissionais, entre outras. Acreditamos nas novas soluções e modelos de negócios gerados pela integração da GEOLOCALIZAÇÃO e DRONES com Inteligência Artificial, Internet das Coisas, Realidade Virtual e Aumentada, Big Data, Machine Learning e Mobilidade Autônoma. Mais informações em https://mundogeoconnect.com e https://droneshowla.com. (#Envolverde)