Por Eliane da Fonseca Dare,
Fotos: Antoninho Perri / Edição de imagem: André Vieira
Identificar competências e organizar grupos de áreas afins para realizar pesquisas e estudos relacionados ao rompimento da barragem em Brumadinho, MG. Esse foi objetivo central de um encontro que ocorreu na segunda, 11, no Auditório do Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) na Unicamp, e que reuniu a comunidade acadêmica, além de representantes de entidades ligadas a diferentes áreas do conhecimento interessados em colaborar.
A ideia surgiu em uma reunião entre o reitor Marcelo Knobel, o pró-reitor de pesquisa Munir Skaf e o docente do Instituto de Geociências Jefferson Picanço, que esteve em Brumadinho e que vai liderar o grupo formado. Segundo Knobel, que conversou com Picanço após o evento, “a Unicamp está tentando buscar competências para realizar uma pesquisa adequada e poder realmente colaborar não só com as vítimas, mas também na prevenção”.
O pró-reitor de pesquisa abriu o evento ressaltando o papel da academia e lembrando o episódio que ocorreu há três anos em Mariana. “Temos a oportunidade de fazer diferente. A sociedade precisa do apoio da Universidade. A ideia, portanto, é tentar estudar, que é o que nós sabemos melhor fazer, ajudar e criar parâmetros de ações, mitigando a médio e longo prazo as consequências do desastre”, disse Skaf. O pro-reitor também levantou a possibilidade de buscar recursos em diferentes fontes financiadoras.
Em seguida, Jefferson Picanço falou sobre sua atuação no Centro de Apoio Científico em Desastres (CENACID), da Universidade Federal do Paraná, e sobre o que vivenciou em sua viagem a Brumadinho, relatado no Diário de Brumadinho. O docente também falou sobre o momento vivido no ciclo de gerenciamento de desastres, em que se busca entender o que ocorreu, e o caráter multidisciplinar e colaborativo do grupo a ser formado. “É preciso levantar as demandas da comunidade, complementar as ações que já estão sendo realizadas e relacionar as etapas de recuperação e mitigação, pensando no que será feito daqui para frente”, destacou.
O pró-reitor de pesquisa destacou a presença dos cerca de 100 pesquisadores, docentes, funcionários e alunos de diferentes áreas do conhecimento, que “se disponibilizaram a fornecer bases científicas para a mitigação desse enorme desastre que foi o rompimento da barragem em Brumadinho”. Um grupo multidisciplinar participou da reunião. Havia profissionais da área de matemática, direito, química, antropologia, geociências, computação, arquitetura, enfermagem, biologia, jornalismo, de áreas ligadas aos estudos da população e estudos do meio ambiente, entre outros. Foram levantadas possibilidades de estudos nas mais diversas áreas ligadas ao assunto, como licença ambiental, legislação, geoquímica ambiental, segurança de barragem, apoio aos desabrigados, traumas, treinamento de professores e caracterização de material coletado.
Membros de entidades externas à Unicamp, mas ligadas a áreas científicas e sociais, interessadas em colaborar também participaram do encontro. Dentre eles, Natália Alves e Rodrigo Neiva, do Grupo Anima de Educação, que tem sede em Belo Horizonte. Na região entre 20 e 40 Km do entorno do Feijão há oito campi do Anima, com estrutura física e corpo técnico e administrativo à disposição da Universidade de Campinas. “Dada a distância da Unicamp, podemos ser um parceiro no campo, usando a equipe de lá para fazer coleta de amostras, por exemplo”, disse Natália. Silvia Brandalise, diretora do Centro Boldrini, ofertou a parte clínica da assistência médica e da parte laboratorial para análises de espectometria de massa e análise de quebra de DNA. Ela destacou a participação da Universidade. “A Unicamp sempre se insere nas políticas públicas. É um grande exemplo para dar aos alunos”, disse. Já a pesquisadora e chefe da linha de tomografia de raio-x do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Natalie Lopes, citou a possibilidade de colaboração na área de caracterização de materiais. “Conseguimos, por exemplo, determinar qual o contaminante e qual sua concentração”, disse.
Um cronograma preliminar definirá os próximos encaminhamentos. Uma nova reunião deve ocorrer em meados de março, já com os grupos formados para definir os passos seguintes. Picanço avaliou o evento de forma positiva. “Nesse primeiro encontro ocorreram as declarações de apoio e intenção. Devemos agora aprofundar conversas. Vamos separar grupos distintos de pesquisadores para trabalhar em coisas mais específicas para caminhar de uma maneira mais assertiva”, finalizou.
Veja o vídeo https://www.youtube.com/watch?time_continue=10&v=pb2Wmv1-rA4
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