Ambiente

Há um mês fogo devasta Unidade de Conservação na Amazônia mato-grossense

Proprietários rurais formam brigada para combater os incêndios

O Parque Estadual Cristalino I e II, situado no sul da Amazônia, norte de Mato Grosso está sendo destruído pelo desmatamento e queimadas. Já perdeu 5.080 hectares desde o dia 13 de agosto. Na área de entorno da unidade de conservação, o fogo atingiu mais 1.800 hectares e atingiu propriedades rurais e habitações. A unidade de conservação tem ao todo 184.900 hectares e está localizada entre os municípios mato-grossenses, de Alta Floresta e Novo Mundo, divisa entre Mato Grosso e Pará.

Os dados foram divulgados pelo projeto Observatório Socioambiental de Mato Grosso (ObservaMT). Até ontem, 11, não foi registrada a presença de instituições públicas de defesa do meio ambiente no combate ao fogo. Foi criada uma Brigada de Combate aos Fogo, iniciativa de propriedades privadas para combater os incêndios no parque e em propriedades particulares do seu entorno. “Estamos tentando salvar o parque Cristalino e as propriedades rurais no entorno, mas não temos brigadistas e equipamentos adequados, como, por exemplo, aeronaves. Aguardamos reforços do Governo de Mato Grosso”, disse a coordenadora da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação (Rede Pró-UC), Ângela Kuczach.

Tudo começou há um mês, depois do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) anunciar decisão judicial favorável a uma empresa agropecuária reivindica a extinção do Parque Cristalino II, com 118 mil hectares.

A consultora jurídica e de articulação do Observa-MT, Edilene Amaral explica que o Ministério Público de Mato Grosso conseguiu reverter em parte a ação que deve ter ainda uma decisão final junto aos órgãos superiores de justiça.

“Apesar do ganho jurídico que manteve ainda recorrível a decisão judicial do processo que tenta extinguir o Parque do Cristalino II, o que vemos é que mesmo que irreal, a possibilidade da extinção da UC estimula as ações criminosas de grilagem, desmatamentos e de incêndios florestais na região. O cenário piora com a inércia do Poder Público de combater essas práticas criminosas.”

O Parque Cristalino I e II é uma das unidades de conservação mais importantes da Amazônia, com 600 espécies de aves registradas, das 850 existentes em toda a Amazônia brasileira. Dessas 600 espécies, 25 delas estão oficialmente ameaçadas de extinção. Outra espécie única no mundo é o macaco-aranha-de-cara branca (Ateles marginathus), símbolo do parque.

Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais — INPE, foram registrados 112.749 focos de calor no Brasil entre os dias 1 de julho até o dia 9 de setembro, 60% deles, na Amazônia.

Mato Grosso responde por 30% das queimadas na Amazônia Legal. Conforme dados coletados pela plataforma Global Fire Emission Data Base ( GFED/NASA), de 1 janeiro de 2022 até o dia 7 de agosto, foram queimados 3,7 milhões de hectares, sendo 1,9 milhões de hectares queimados no período proibitivo (1 de julho a 30 de outubro).

A região norte de Mato Grosso, no Arco do Desmatamento, é alvo de grilagem de terras públicas e invasão de unidades de conservação e territórios indígenas. A área do Parque Estadual Cristalino I e II pertencia à União e foi doada ao Governo de Mato Grosso quando o parque foi criado a partir de 2000 e 2001, respectivamente.

Alertas do INPE

Entre os dias 1 de julho até o dia 2 de setembro, O Inpe emitiu 3.099 alertas referentes a uma área de 5.719,67 km² na Amazônia, 2.770,57 km² na Amazônia mato-grossense. Ainda em agosto, o MapBiomas, iniciativa do SEEG/OC (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) divulgou que o Brasil já perdeu 13% da vegetação nativa da floresta amazônica nos últimos 37 anos.

O desmatamento atingiu 830.429 km² até 2021, ou uma perda de cerca de 21% da área total original da floresta (Prodes, Inpe). Em 2021, a cobertura vegetal dessa região distribuía-se em floresta nativa (63%) e vegetação nativa não florestal (19%). O restante da área (2%) é composto pela rede hidrográfica de rios e lagos.

Preservar a Amazônia é fundamental para a manutenção dos serviços climáticos, como a chuva, além de contribuir para as metas de gases de efeito estufa e reduzir os efeitos do aquecimento global.

*Crédito da imagem destaca: João Paulo Trajeswki

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