Ambiente

Hyundai é pressionada a bloquear máquinas do garimpo em terras indígenas

por Amazônia Latitude –

Greenpeace revela uso maciço de escavadeiras hidráulicas da sul-coreana nas TI Kayapó e Munduruku; Empresa tem tecnologia para travar maquinário via satélite

A Hyundai é a principal fornecedora de escavadeiras hidráulicas para garimpos ilegais nas Terras Indígenas (TI) Yanomami, Kayapó e Munduruku, segundo um levantamento da ONG (Organização Não Governamental) Greenpeace. A empresa sul-coreana, com fábrica no Brasil, agora é pressionada a acionar uma tecnologia já disponível para bloquear o funcionamento de máquinas que estejam dentro das TI.

As informações fazem parte do relatório “Parem As Máquinas! Por uma Amazônia Livre de Garimpo”, lançado na quarta-feira (12) pelo Greenpeace Brasil, em parceria com o Greenpeace do leste asiático.

Foram identificadas 176 escavadeiras sendo utilizadas de maneira ilegal dentro de três TI, de 2021 até 2023, sendo que 75 delas (cerca de 42%) são da Hyundai HCE Brasil. As Terras Indígenas são a Kayapó (PA), Munduruku (PA) e Yanomami (RR/AM).

Elaborado com contribuições da equipe da Greenpeace do leste asiático, o documento destaca que cada máquina pode custar mais de R$ 700 mil e representa um ótimo investimento, porque faz em apenas um dia o que três pessoas fazem em 40. Segundo a ONG, a maior frota de escavadeiras está na TI Kayapó, que é alvo de disputas por parte de madeireiros e da siderurgia.

Reprodução: Greenpeace Brasil

Protesto em frente à sede da Hyundai HCE Brasil

O lançamento do relatório foi marcado pela realização de uma ação pacífica próximo à entrada da fábrica da Hyundai, em Itatiaia (RJ), na manhã de quarta-feira (12).

Ativistas do Greenpeace Brasil e lideranças indígenas se posicionaram junto a um balão inflável simulando uma máquina escavadeira e seguraram faixas com as mensagens: “Amazônia Livre de Garimpo”, “Parem as Máquinas” e “Fora Garimpo”. Elementos cenográficos como lama, sangue e barras de ouro também foram utilizados para lembrar os danos e prejuízos causados pelas máquinas escavadeiras nas Terras Indígenas.

As lideranças indígenas participantes da ação pacífica são dos povos Munduruku, Kayapó e Yanomami, que vêm sofrendo há anos com os efeitos do garimpo ilegal. Elas seguraram quadros com imagens da atividade criminosa em seus territórios, junto à mensagem “Fora Garimpo”.

Foto: Tuane Fernandes/Greenpeace Brasil

Garimpo ilegal disparou com ajuda das escavadeiras

Em 35 anos, a mineração ilegal cresceu 1.217% em terras indígenas da Amazônia Legal, revela estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade do Sul do Alabama, dos EUA.

Especialistas apontam constantemente a relação entre a atividade do setor mineral e o desmatamento, e os números confirmam o fato. No intervalo entre outubro de 2018 e dezembro de 2022, por exemplo, o desmatamento resultante do garimpo ilegal na TI Yanomami subiu 309%, de acordo com levantamento elaborado pela Hutukara Associação Yanomami. Em dezembro de 2022, a área devastada era de 5.053,82 hectares, ante 1.236 hectares detectados no início do monitoramento.

Tecnologia para bloquear as escavadeiras do garimpo

Um dos aspectos que surgem em meio às discussões que permeiam o relatório diz respeito ao deslocamento das escavadeiras. Para o Greenpeace, é possível rastrear as máquinas.

No caso da Hyundai HCE Brasil, a ONG informa que dispõe de um sistema de gerenciamento remoto, chamado Hi Mate, que utiliza GPS para coletar dados. A ferramenta também seria capaz de emitir um comando para interromper o funcionamento das máquinas.

É isso que a ONG cobra das empresas fabricantes das escavadeiras: que a indústria pare de vender unidades que sejam usadas para o garimpo ilegal e paralise as máquinas, quando estiverem trabalhando com tal objetivo, ao serem localizadas nesse contexto.

De acordo com o relatório, as máquinas encontradas começaram a ser vistas na Terra Yanomami a partir do segundo semestre do ano passado. Quatro delas foram achadas em uma estrada clandestina. Perto do local, vive um grupo de indígenas em isolamento voluntário. “Como se vê, o garimpo ilegal está investindo na construção de rodovias dentro de florestas intactas para levar as escavadeiras para o interior dos territórios indígenas”, alerta a ONG.

“A introdução dessas máquinas ajuda a explicar a expansão muito rápida e muito violenta dessa atividade [garimpo ilegal] na Amazônia”, disse o diretor de programas do Greenpeace Brasil, Leandro Ramos, à Agência Brasil.

A Agência Brasil entrou em contato com a Hyundai, mas a empresa não deu retorno até a manhã desta segunda-feira (17).

* Com informações de Letycia Bond (Agência Brasil) e Greenpeace Brasil