Mais de 300 líderes e cientistas se reuniram para fazer um apelo em favor de uma bioeconomia inclusiva e sustentável entre os nove países que integram a Amazônia. A Conferência Pan-Amazônica de Bioeconomia, realizada nos dias 21 e 22 de junho em Belém (PA), insta os líderes políticos que se reunirão na Cúpula da Amazônia no início de agosto a estabelecer um pacto regional que promova uma bioeconomia sustentável, fundamental para evitar o ponto de degradação irreversível do bioma amazônico.
“A bioeconomia é uma enorme oportunidade para a Amazônia, que demanda a participação de diferentes atores e setores, o encontro de saberes tradicionais com conhecimento científico e uma responsabilidade compartilhada para manter a floresta em pé”, explica Luz Marina Mantilla, diretora do Instituto Sinchi.
Durante a conferência, mais de 300 especialistas locais, regionais e internacionais, incluindo representantes governamentais, líderes comunitários e empresariais, investidores, cientistas, pesquisadores, ONGs e movimentos sociais, reuniram-se para debater e compartilhar conhecimentos e propostas. As recomendações resultantes desses debates serão consolidadas em um documento que estará pronto nas próximas semanas e será entregue aos presidentes dos nove países da região antes da reunião de agosto.
Para gerar as recomendações, os especialistas foram divididos em nove grupos de trabalho para discutir diferentes aspectos-chave do desenvolvimento da bioeconomia, como financiamento, tecnologia, legalidade das cadeias produtivas, cidades como multiplicadoras de valor dos produtos e serviços da bioeconomia, entre outros. Uma das recomendações mais enfáticas é a urgência de eliminar de forma definitiva o desmatamento, que pode levar a destruição da Amazônia a um ponto de não-retorno. Outro consenso é a necessidade de valorizar e respeitar o conhecimento e as práticas dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, integrando-os como elementos orientadores para a ciência e a inovação.
“A bioeconomia é uma grande promessa para a transição para uma economia de baixas emissões e mais justa, que agrega valor à florestas em pé. Mas deve se basear na diversidade cultural e na biodiversidade, que só existem graças aos povos indígenas e às comunidades locais. Se a bioeconomia não servir a essas populações, então não serve de modo algum”, enfatiza Patrícia Pinho, subdiretora de ciência do IPAM. Nessa linha, Fany Kuiru, coordenadora da COICA, comenta que “a bioeconomia para os indígenas é a economia da abundância, com alma, que preserva a natureza e a cultura”.
Durante a reunião, o cientista Carlos Nobre, co-presidente do Painel Científico para a Amazônia, comentou: “Nunca houve um encontro como este, que reúne tantos participantes para discutir uma nova bioeconomia da floresta em pé e dos rios fluindo. Se não desenvolvermos essa bioeconomia, se continuarmos expandindo a economia tradicional, que não enxerga valor na floresta em pé, a Amazônia desaparecerá. Este evento é muito importante para comunicar a importância e a urgência do fortalecimento dessa nova bioeconomia, e como ela beneficiará a região, combaterá a emergência climática, protegerá a imensa biodiversidade da floresta e melhorará a qualidade de vida de todos os povos amazônicos, tanto rurais quanto urbanos”.
O evento foi facilitado e apoiado por Aliança Empresarial pela Amazônia, Amazon Sustainable Landscapes Program, Banco Mundial, Bezos Earth Fund, CLUA, Uma Concertação pela Amazônia, Conservação Internacional, Cooperação Alemã implementada por GIZ, Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), GEF, Governo da França, Governo do Canadá, IADB, Instituto Sinchi, IPAM, Nature Finance, NESst, Painel Científico pela Amazônia, Partnerships for Forest, USAID, Visão Amazônia, WRI e WWF.
A Conferência deixou como legado a intenção de construir uma rede pan-amazônica multiatores e multinível para estimular a troca de conhecimentos e aprendizados sobre bioeconomia. Essa rede atuará como um órgão consultivo para os governos e organismos da região. Seu objetivo será influenciar as políticas relacionadas à bioeconomia em nível regional, nacional e local, promovendo a conscientização e defendendo políticas inclusivas. (Envolverde)