Fora de catálogo e eventualmente encontrado em sebos, o livro acaba de ganhar uma primorosa 2ª edição, por iniciativa do Documenta Pantanal. Disponível para compra no site da instituição e na rede de lojas da Livraria da Travessa, a reimpressão promete repetir o sucesso anterior junto aos mais diferentes públicos.
PhD em Ecologia pela Durham University (Inglaterra) e professor de Biologia da Conservação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernandez não só tem feito grandes contribuições científicas em pesquisas sobre ecologia de populações, biologia da conservação e paleoecologia, como também tem contribuído para a formação de novos profissionais e para a conscientização da opinião pública sobre a necessidade de uma perspectiva histórica para o enfrentamento de problemas contemporâneos como a devastação ambiental, a emergência climática e a extinção de espécies da fauna em nosso país e em todo o planeta.
Com mais de 400 palestras ministradas no Brasil e em diversos países, Fernandez também é reconhecido pela dedicação com que atua como divulgador científico em plataformas especializadas como o site ((0)) Eco, onde publicou textos, de 2006 a 2016, como colunista a convite do jornalista ambiental Marcos Sá Corrêa.
Agrupada em seis seções temáticas – Históricas, Conservacionistas, Gouldianas, Filosóficas, Biofílicas e Utópicas –, a coletânea de crônicas também foi originalmente composta de textos inéditos e uma narrativa ficcional, Um Caminho Para a Empatia, presente na seção dedicado ao conceito de biofilia – a compreensão de que gostar da natureza e de outros seres vivos é um dos instintos mais fundamentais do ser humano, que mais que nunca precisamos reconhecer e fomentar nos dias atuais.
“A ideia que permeia todo o livro, que aprendi com Stephen Jay Gould, é que a divulgação científica pode perfeitamente ser gostosa de ler, e isso não faz mal algum para passar as ideias da ciência para um público amplo – pelo contrário. Pelo menos essa é a tentativa. Gould, a pessoa que mais me influenciou para que eu me interessasse por escrever coisas assim, defendia que a divulgação científica pode e deve se referir a contextos amplos da cultura e da vida cotidiana. A ciência não só é maravilhosa e fascinante; é também bem mais próxima do nosso dia a dia e da natureza humana do que costumamos perceber”, explica Fernandez no texto de apresentação da nova edição, fazendo referência ao biólogo e paleontólogo norte-americano que, além de ter sido homenageado no título da terceira seção de Os Mastodontes de Barriga Cheia e Outras Histórias, segundo o autor, também inspirou os escritos “mais livres, os mais experimentais, ou talvez os mais especulativos” do livro.
Em texto impresso na orelha da edição sugerida por Mônica Guimarães e Teresa Bracher, as Coordenadoras do Documenta Pantanal refletem sobre como as lições de preservação reveladas nas crônicas de Fernandez também dialogam com elas e podem inspirar as ações do Documenta Pantanal e de outras instituições parceiras que atuam em defesa do bioma Sul-mato-grossense.
“Patrimônio Nacional pela Constituição Nacional de 1988, e reserva de vida e de água doce de relevância mundial, O Pantanal é, para Fernandez ‘um microcosmo do mundo, onde a ação das ameaças à biodiversidade planetária é particularmente óbvia’. Além dessas visões, nos atraiu para esta reedição a perspectiva de educar mais públicos sobre nossa responsabilidade de entender e proteger os processos naturais em toda a sua complexidade”, defendem as coordenadoras.
Na orelha oposta, a apresentação do autor é feita pelo biólogo e escritor Bernardo Araujo, que também assina a capa da reedição e resume o prazer da leitura de Os Mastodontes de Barriga Cheia e Outras Histórias com semelhante poder de síntese.
“Com a mente de um ecólogo e o coração de um paleontólogo, Fernando Fernandez fala sobre biologia, conservação e evolução com a paixão de um torcedor fanático e a leveza de um amigo sentado à nossa frente numa mesa de bar.”
Em tempo: a analogia entre futebol e biologia, aliás, rende uma das mais irresistíveis crônicas do livro de Fernandez, A Seleção Húngara de 1954 e a Origem dos Filos. Sem mais spoilers, fica o convite à leitura.
Das páginas para as telas
Na ocasião de sua publicação original,feita a convite do livreiro Josué Nunes, Mastodontes de Barriga Cheia e Outras Histórias rompia um hiato de 16 anos desde que, em 2000, Fernandez surpreendera seus pares de ambiente acadêmico e também fascinara leitores comuns com a publicação de seu primeiro livro, O Poema Imperfeito – crônicas de biologia, conservação da natureza e seus heróis. Editado pela UFPR em parceria com a Fundação Grupo Boticário, a publicação inspirou, em 2018, a produção do documentário Poema Imperfeito, de Zulmira Coimbra, vencedor do prêmio de Melhor Filme Ambiental do Festival Internacional de Cinema Socioambiental de Nova Friburgo.
O núcleo editorial do Documenta Pantanal
Em 2023, Fernando Fernandez traduziu para o núcleo editorial do Documenta Pantanal o livro Rewilding na Argentina, de Sebastian Di Martino, Sofia Heinonen e Emiliano Donadio. A publicação destaca os desafios e êxitos da Fundação Rewilding Argentina, instituição que mantém o foco de suas ações em uma das estratégias que tem apresentado maior eficácia para a restauração da vida selvagem em ecossistemas onde espécies foram submetidas a processos locais de extinção, o chamado rewilding. Desde 2010, o projeto reinseriu em santuários como a Estepe Patagônica e a Patagônia Azul, animais como tamanduás-bandeiras, onças-pintadas e ariranhas.
Com cerca de 20 títulos publicados, o foco da ação editorial do Documenta Pantanal é contribuir para a construção de uma biblioteca de referência sobre a história, a cultura e a natureza pantaneiras, reeditando obras fundamentais ou apoiando publicações que revelem ângulos e aspectos relevantes dessa paisagem brasileira singular. Confira o catálogo, que contém títulos como: Pantanal – Serra do Amolar, de Araquém Alcântara; Pantanal, de João Farkas; Mulheres Inspiradoras na Conservação das Aves, de Rosemary Low; Cozinha Pantaneira – Comitiva de Sabores, de Paulo Machado, Diário de Uma Repórter no Pantanal, de Cláudia Gaigher, e Memórias de um Pantanal, de Teté Martinho.