por Robson Rodrigues, especial para a Envolverde –
Estudo apontou que a proteção de áreas de berçário não é suficiente e que é preciso implementar outras estratégias adicionais para preservar a espécie. Anualmente são pescadas cerca de 24 toneladas do peixe na região
Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) mostrou que a população do peixe budião azul reduziu em 30% em seis anos nos recifes dos Abrolhos, litoral sul da Bahia, por causa da sobrepesca.
Conhecido como peixe-papagaio, o budião-azul é fundamental para manter o equilíbrio do ecossistema marinho. Herbívoro, ele se alimenta de algas, ajudando a mantê-las sob controle em recifes e costões, o que permite que corais e criaturas marinhas se estabeleçam saudáveis.
Os pesquisadores responsáveis pela pesquisa avaliaram a abundância da população do budião azul a partir de amostras coletadas em mais de 3.000 censos entre os anos de 2003 a 2008 em 28 recifes dos Abrolhos. A região tem um dos ecossistemas com maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul, mas não é totalmente protegido. Ali também estão localizadas quatro Áreas Marinhas de Proteção Ambiental, sendo duas de proteção integral, do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.
A quantidade de budiões foi contabilizada com o uso da técnica de censo visual estacionário aninhado. Modelagens matemáticas também foram usadas para predizer a tendência de densidade populacional dos peixes nos diferentes locais analisados.
Mesmo sendo área de berçário protegido, a pesca fora dessa região não é regulada e a delimitação de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) se mostrou uma estratégia insuficiente para preservar espécies de peixes. Segundo os pesquisadores, a explicação para essa queda de densidade populacional está nas atividades de pesca realizadas ao redor das áreas de proteção.
“Apesar de essas áreas sensíveis estarem protegidas, isso não é suficiente para proteger a espécie porque a pesca é mais intensa fora das áreas protegidas”, afirma a pesquisadora Natália Roos.
Manejo da pesca
Desde 2014 o peixe budião azul entrou para a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, mesmo assim isso não impediu que o peixe continuasse sendo pescado de forma indiscriminada no Banco dos Abrolhos e no resto da costa brasileira. Anualmente, são pescadas cerca de 24 toneladas da espécie na região, pela pesca artesanal e esportiva.
Desde 2018 existem regras de manejo para o budião azul estabelecida pelo Plano Nacional de Recuperação de Espécies Ameaçadas. Entretanto, o plano nunca saiu do papel – fator que repercute negativamente na efetividade das áreas marinhas protegidas.
“O Plano permitia a pesca do budião azul apenas em áreas de uso sustentável para pescadores cadastrados, respeitando uma janela de captura determinada que protegesse peixes jovens e grande reprodutores da espécie, mas nenhum esforço foi feito para e implementar essas regras de manejo e o budião azul continua sendo pescado de forma indiscriminada e a população cada vez mais declinando”, diz Natália.
Seria preciso implementar outras estratégias adicionais para promover a pesca sustentável, como medidas de manejo pesqueiro. A cientista afirma ainda que caso essas medidas não sejam tomadas o mais rápido possível, a proibição total da pesca será a única forma de promover a recuperação das populações desta espécie no futuro.
Na ponta do Anzol
O Budião azul se tornou alvo da pesca predatória há pouco mais de 20 anos. Os pescadores iam atrás dos grandes predadores, como garoupas, peixes vermelhos e outras espécies de maior valor comercial. Mas com o declínio de indivíduos destas espécies, o alvo agora são animais que estão em posições mais baixas da cadeia trófica.
“Características biológicas tornam essa espécie ainda mais vulnerável à sobrepesca: o peixe vive muito e demora a crescer e a chegar a sua idade reprodutiva e muitos indivíduos imaturos são pescados antes de se reproduzirem”.
Robson Rodrigues é jornalista e formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha como repórter em jornais, revistas e internet em temas relacionados a meio ambiente, energia e desenvolvimento sustentável.