por Projeto Albatroz –
Com os sucessivos aumentos de temperatura na região Antártica, que registrou, recentemente, seu dia mais quente da história, com 20.7ºC, aves e mamíferos marinhos que vivem e se reproduzem por lá tendem a ser afetados pela diminuição do gelo marinho e da abundância de krill, principal alimento para muitas espécies. Mas nem todas serão impactadas de forma negativa. Pesquisa publicada recentemente pelo coordenador científico do Projeto Albatroz, Dr Dimas Gianuca, no Journal of Animal Ecology, apontou que os petréis-gigantes (Macronectes giganteus) serão beneficiados pelas mudanças climáticas que atingem a região.
O estudo analisou 15 anos de dados sobre a sobrevivência e reprodução dos petréis-gigantes coletados pela British Antarctic Survey na Ilhas Bird, Geórgia do Sul, e Antártica, para investigar como variações climáticas e da intensidade de pesca afetam a vida desta espécie, além de fazer projeções sobre o futuro da população desta ave frente aos prováveis cenários de mudanças ambientais. Esta é a primeira pesquisa sobre o assunto a focar em como variações ambientais e impactos humanos como a pesca afetam machos e fêmeas de uma mesma espécie diferentemente.
Segundo a análise feita por Dr Dimas Gianuca durante o seu doutorado no Reino Unido, orientado pelo Dr. Stephen Votier (University of Exeter) e Dr. Richard Phillips (British Antarctic Survey), e financiado pelo Programa Ciências Sem Fronteiras (CNPq), machos e fêmeas se beneficiarão temporariamente do aquecimento na região antártica, porém, de forma distinta.
Os petréis-gigantes machos, naturalmente maiores e mais pesados, levam vantagem sobre as fêmeas na disputa por alimento em terra firme, como lobos e elefantes marinhos mortos, precisando viajar distâncias menores para encontrar comida. Consequentemente, a abundância de lobos marinhos se reproduzindo nas ilhas favorece a sobrevivência dos machos apenas. Como os machos são mais pesados e precisam de ventos mais fortes para voar, eles se distribuem mais ao sul do que as fêmeas, o que diminui suas chances de captura incidental em pescarias de espinhel pelágico em águas subtropicais.
Já as fêmeas, por outro lado, por serem menores e mais leves, serão beneficiadas por mudanças nos padrões de ventos – já que terão que fazer menos esforço para planar sobre as águas em busca de alimento. Além disso, temperaturas mais altas significam menos gelo sobre a superfície do mar, aumentando a extensão de áreas abertas propícias para encontrar comida em alto-mar, beneficiando as fêmeas. Como as fêmeas se alimentam mais ao norte do que os machos, a captura incidental pelas frotas de espinhel pelágico nessas áreas afeta negativamente a sua sobrevivência.
No entanto, esses benefícios associados a condições ambientais mais quentes são temporários. Uma vez que as mudanças climáticas sejam agravadas a ponto de gerar profundas alterações no ecossistema, o colapso previsto nas populações de krill desencadeará uma reação em cadeia que comprometerá a sobrevivência das espécies de mamíferos e aves marinhas que dependem do ecossistema antártico, incluindo os petréis-gigantes. A pesquisa faz outro alerta: caso a pesca de espinhel se intensifique no Atlântico sul, poderá haver um aumento na mortalidade das fêmeas, ameaçando essas aves.
“É muito difícil, mas muito importante, analisar como os diferentes sexos de uma mesma espécie responderão às mudanças climáticas, especialmente as espécies com grande dimorfismo sexual, como é o caso dos petréis-gigantes”, afirma o coordenador científico do Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras.
Segundo os pesquisadores, os efeitos populacionais das alterações climáticas e dos impactos humanos podem ser subestimados se as respostas específicas de cada sexo não forem levadas em consideração.
O Projeto Albatroz, de acordo com as recomendações oficiais do Acordo Internacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), sugere três tipos de medidas mitigadoras da captura incidental na pesca de espinhel brasileira: a largada noturna, período em que as aves são menos ativas; regime de peso, que faz com que os anzóis afundem mais rápido, impedindo as aves de fisgá-los; e o toriline, constituído de fitas coloridas que balançam com o vento em alto-mar, assustando albatrozes e petréis.
Intitulada “Sex‐specific effects of fisheries and climate on the demography of sexually dimorphic seabirds”, a pesquisa é de autoria do Dr Dimas Gianuca com colaboração de outros 11 cientistas. O resumo do estudo (em inglês) pode ser acessado neste link.
Projeto Albatroz
Reduzir a captura incidental de albatrozes e petréis é a principal missão do Projeto Albatroz, que tem o patrocínio da Petrobras. O Projeto é coordenado pelo Instituto Albatroz – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que trabalha em parceria com o Poder Público, empresas pesqueiras e pescadores.
A principal linha de ação do Projeto, nascido no ano de 1990, em Santos (SP), é o desenvolvimento de pesquisas para subsidiar Políticas Públicas e a promoção de ações de Educação Ambiental junto aos pescadores, jovens e às escolas. O resultado deste esforço tem se traduzido na formulação de medidas que protegem as aves, na sensibilização da sociedade quanto à importância da existência dos albatrozes e petréis para o equilíbrio do meio ambiente marinho e no apoio dos pescadores ao uso de medidas para reduzir a captura dessas aves no Brasil.
Atualmente, o Projeto mantém bases nas cidades de Santos (SP), Itajaí e Florianópolis (SC), Itaipava (ES), Rio Grande (RS) e Cabo Frio (RJ).
Mais informações: www.projetoalbatroz.org.br
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