por Carol Domigues, especial para a Envolverde –
No dia 05 de abril, por volta das 13h, o sol batia forte sob as águas do rio Tatuamunha. A equipe do ICMBio fez o manejo de Ive, o 47o peixe-boi a ser reintroduzido na natureza. Os últimos cuidados foram tomados, verificaram os possíveis machucados, acompanharam à respiração do animal, reajustaram o GPS. Após alguns minutos encaminharam-se para as águas do rio. Brevemente, ela se apossou de sua liberdade. “Quando os animais saem de Itamaracá e vão para Porto de Pedras é como se eles saíssem da escola e fossem para a faculdade. Começam a conviver com outras pessoas. Agora é o momento dele ganhar a liberdade. Ele se formou.” A veterinária Fernanda Attademo faz um paralelo para explicar a comemoração.
O Programa Peixe-Boi, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene/ICMBio), com apoio da Fundação Toyota do Brasil e da organização não-governamental SOS Mata Atlântica, realiza a reintrodução de indivíduos na natureza desde 1994. O programa ainda efetua ações de conservação, manejo, pesquisa e monitoramento dos animais e do habitat natural. A preservação dos mangues é parte importante desse trabalho, uma vez que, é o berçário da vida marinha.
A criação da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APA) em 1997 foi feita com intuito de preservar o ecossistema. Na região de Alagoas a Amapá, encontra-se a população remanescente de peixes-bois, extintos no Espírito Santo, na Bahia e no Sergipe em função da caça. Hoje, o encalhe pode levar a morte. Iran Normande, biólogo e analista ambiental do Instituto Chico Mendes e chefe da APA Costa dos Corais, explica o papel do projeto no combate ao encalhe. “Muitos peixes-bois se perdem da mãe e encalham nas praias. Os encalhes ocorrem mais frequentemente no Ceará e no Rio Grande do Norte. Esses animais são resgatados e levados para Itamaracá (PE), onde tem os oceanários para cuidar desses animais. Quando atendem um protocolo específico, são trazidos para Porto de Pedras.”
O projeto Toyota APA Costa dos Corais, uma parceria público-privada desde 2011 da Fundação Toyota com a SOS Mata Atlântica e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), oferece recursos financeiros e estruturais para uma ampla gama de ações e projetos, dentre eles o Programa Peixe-Boi, com compromisso de promover a sustentabilidade por meio da preservação e educação ambiental e também de práticas de formação de cidadãos. A APA abrange 10 municípios em Alagoas e 3 em Pernambuco.
O projeto visa também à conservação e sustentabilidade da Área de Proteção Ambiental e recifes de corais. Um dos objetivos com qual foi feita a delimitação dessa área é a conservação dos recifes de coral e toda a sua fauna e flora associadas. A importância dos serviços ambientais prestados pelos recifes de corais para a nossa qualidade de vida é ressaltada por Iran Normande, biólogo e analista ambiental do Instituto Chico Mendes e chefe da APA Costa dos Corais. “Os recifes de coral são as florestas tropicais dentro do mar, é o local com maior biodiversidade. Ele afeta diretamente a nossa qualidade de vida, impede o avanço do mar; oferece alimento porque produz peixe; proporciona lazer porque podemos visitar essa área.”
Por meio do plano de manejo, o ICMBio faz um estudo do uso sustentável das áreas dentro da Unidade de Conservação para manter a biodiversidade e corresponder aos interesses da sociedade, dessa forma, faz-se o zoneamento. A APA Costa dos Corais é pioneira no cenário nacional, como a primeira unidade de conservação a criar áreas fechadas, onde a pesca e a visitação não são permitidas.
O Instituto Recifes Costeiros junto com a Faculdade de Pernambuco fazem a gestão dessa zona de preservação da vida marinha (ZPVM), fechada para conservação e para pesquisa. O uso dessa área encontrada em Maragogi, Japarati e Tamandaré gera resultados que mostram que a biodiversidade não se recupera apenas dentro da área, mas também no entorno, há aumento no número e no tamanho dos peixes.
Dentre os diferentes usos de cada zona, há também as áreas voltadas para a pesca e áreas voltadas para o turismo. “Um dos objetivos de criação da APA Costa dos Corais é ordenar as atividades econômicas que ocorrem dentro da unidade. Esse talvez seja o objetivo mais difícil de ser trabalhado, porque a gente ordena a economia que ocorre dentro dessa área.” Segundo Iran Normande, biólogo e analista ambiental do Instituto Chico Mendes e chefe da APA Costa dos Corais, ordenar a vida econômica da população da região são um dos desafios, que é trabalhado diretamente com o preparo e engajamento da sociedade.
Com o propósito da visitação turística não causar impactos negativos às piscinas naturais de Galés, Barra Grande, Taocas e Ponta de Mangue, o acesso se restringe a 1700 pessoas por dia. Apontado como o destino mais procurado pelo turismo de massa e a sétima Unidade de Conservação mais visitada do país, com aproximadamente 230 a 260 mil visitantes por ano, a conscientização do turista ao fazer uso desse espaço mostra-se parte essencial para que a preservação tenha continuidade.
A Associação de Jangadeiros de Tamandaré associada ao IRCOS através de ações de capacitação dos jangadeiros fortalecem o turismo de baixo impacto, ou seja, estímulo ao uso de embarcação à vela. Em relação às áreas de pesca, o ICMBio trabalha na questão da sustentabilidade da pesca artesanal, através da realização de seminários e pesquisas com diagnóstico de monitoramento pesqueiro. O envolvimento de ONGs, o trabalho junto aos conselhos, o preparo de professores e o incentivo da participação popular fortalece o êxito do Projeto Toyota APA Costa dos Corais.
No conselho gestor da unidade a sociedade está representada por 80 conselheiros de diversos setores da sociedade, do turismo, da pesca, de órgãos públicos, da academia e ONGs ambientalistas. Um trabalho de educação ambiental é desenvolvido pela ONG parceira Bioma Brasil que por meio do Guia Maravilhosos Manguezais do Brasil; desenvolvido por Clemente Coelho Júnior, biólogo e oceanógrafo, professor da Universidade de Pernambuco e fundador e diretor do Instituto Bioma Brasil; capacita os professores para capacitar as crianças. Na região, são 200 professores formados pelo projeto.
A participação popular se expressa no monitoramento comunitário da biodiversidade. O Instituo Biota, criado em 2009, promove a conservação dos mamíferos aquáticos e tartarugas marinhas. O Projeto Biota Mar é uma iniciativa do Instituto Biota para atuação no sul da APA Costa dos Corais, nos municípios: Passo, Barra de Santo Antônio, Maceió e Paripueira. As oficinas de capacitação oferecem conhecimento prático e teórico para que o cidadão esteja apto para agir caso se depare com um animal encalhado. Informações sobre encalhe e desovas são recebidas pelo aplicativo Biota Mar.
A Associação de Peixe-Boi de Condutores trabalha com o turismo de base comunitária, o passeio de jangada conduzido por ex-pescadores que foram capacitados e credenciados conduz os visitantes para avistar os peixes-bois e entender o processo de conservação dos animais. O passeio limitado à visitação de 70 pessoas por dia ocorre desde 2009 no rio Tatuamunha. Desde 2017, fazem o monitoramento de encalhe do peixe-boi e tartarugas e estão tendo treinamento de primeiros-socorros para antes da equipe do ICMBio chegar. O turismo de observação de peixe-boi sustenta 50 famílias na região, levando em consideração as mulheres que costuram os peixes-bois de pelúcia vendidos como souvenir, são 60 empregos diretos. (#Envolverde)
Passeio de visitação aos peixes-bois no rio Tatuamunha. Crédito: Rafael Munhoz
A escolha da região como foco do Projeto Toyota APA Costa dos Corais foi feita diante dos problemas que foram percebidos e do anseio da Fundação Toyota do Brasil de aproveitar a oportunidade de resolvê-los. Percival Maiante, presidente da Fundação Toyota do Brasil, destaca a importância de se olhar para as oportunidades. “Temos que olhar os problemas como oportunidade. Nós estamos aqui por uma questão de oportunidade, de fazer melhor a cada dia. Quando olhamos não temos um problema, temos a oportunidade de mudar, de fazer diferente. Muitas vezes a oportunidade está na frente dos nossos olhos e não enxergamos.”