Ambiente

Quais espécies dominariam o Planeta se a democracia fosse extinta?

Por Lúcia Chayb e René Capriles, da revista Eco21 – 

Edição 265

O professor de Ciências Biológicas da Universidade de Stirling, Luc Bussiere, perguntou: “Quais espécies dominariam a Terra se os humanos fossem extintos?”.

O ser humano pode entrar na Lista Vermelha da IUCN? A organização responde que por enquanto os humanos não correm perigo, tal como os milhares de espécies que desaparecem diariamente.

A democracia pode desaparecer? Centenas de filósofos trabalham para responder essa pergunta. As propostas políticas atuais não são uma opção. A resposta está na nova geração que surge das entranhas do capitalismo. As velhas pregações da esquerda não significam mais nada; não dão uma resposta; as da direita muito menos. A corrupção e o crime instituídos nas últimas décadas em muitos países revoltaram grande parte da sociedade que busca soluções. O evangelismo político que elegeu Donald Trump nos EUA já teve a sua resposta nas recentes eleições parlamentares que optaram por nomes novos como o de Alexandria Ocasio-Cortez, líder do “Movimento do Amanhecer”, um grupo político-climático de jovens que não aceitam a imposição negacionista de Trump e de seu ideólogo Steve Bannon.

Capa: Michal Kurtyka, Presidente da COP-24 pula no encerramento do encontro Foto: IISD

Mas, a esperança está na nova geração, aqui e no mundo em geral. Greta Thunberg, uma estudante sueca de 15 anos, uma vez por semana se manifesta diante do Parlamento sueco para protestar contra a política do seu país em relação ao clima. Ela disse: “A primeira vez que ouvi sobre o aquecimento global, pensei: isso não pode estar certo, de jeito nenhum, há algo sério o suficiente a ameaçar a nossa própria existência”. Outra jovem lutadora é a filipina Joanna Sustento de 26 anos, sobrevivente do tufão Haiyan, lidera o movimento que responsabiliza os “gigantes do carbono”: Shell, BP, Chevron, ExxonMobil, Suncor, Lukoil, etc. pelos desastres acontecidos na sua região. Joana, que é uma ativista da luta pela justiça climática, disse: “Vejo que há muito poder na gente; o povo tem poder para gerar essa pressão aos nossos governos e corporações, para mudar o sistema atual”.

A luta de Greta e Joanna inspirou os jovens poloneses a saírem às ruas em Katowice durante a COP-24. Um exemplo que se espalhou pela Europa e os EUA durante os dias da Conferência da ONU. Clima e democracia hoje são quase sinônimos.

Nos Estados Unidos, na Holanda e na Colômbia grupos de jovens estão processando os seus governos por não implementarem políticas climáticas saudáveis nos seus países. “Há que entender que os direitos da Mãe Terra não são abstratos porque a Terra não é abstrata. É o fundamento da nossa existência e somos parte dela”, adiciona a ativista indiana Vandana Shiva. Isso nos leva a refletir sobre o direito principal da nossa existência como seres sociais: a democracia.

Há 50 anos, em 13/12/1968 o governo militar instituiu o AI-5 que suspendeu as garantias constitucionais e fechou o Parlamento institucionalizando a tortura e a perseguição política. Uma época de triste memória. Hoje devemos encontrar o caminho perdido para que o povo não sofra. Devemos trilhar a vereda constitucional que respeite os direitos de todos, índios, negros, brancos, etc.

Em “Vidas secas” Graciliano Ramos, na visão do sertanejo retirante, Fabiano, diz: “Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto”. E mais adiante reflexiona: “Um dia… Sim, quando as secas desaparecessem e tudo andasse direito. Seria que as secas iriam desaparecer e tudo andar certo? Não sabia”. Tal como na obra de Graciliano, as secas e a democracia devem ser irrigadas, precisam de água e ideias para subsistir.

Octavio Paz disse um dia: “O homem é um ser que se criou a si próprio ao criar uma linguagem. Pela palavra, o homem é uma metáfora de si próprio”. O Brasil, nas últimas eleições, também criou uma metáfora de si próprio.

Gaia Viverá!

(#Envolverde)