As praias, dunas e areais do Brasil vêm sendo modificados nos últimos 36 anos. É o que mostra a mais nova análise do MapBiomas a partir de imagens de satélite entre 1985 e 2020. A redução foi de 15%, ou cerca de 70 mil hectares. Há 36 anos, eram 451 mil hectares; em 2020, apenas 382 mil hectares. Além de dunas, praias e areais, o estudo que o MapBiomas apresenta nesta quarta (27/10), a partir das 10h30, pelo YouTube, também avalia a dinâmica das áreas de manguezais, apicuns (áreas salinizadas desprovidas de vegetação) e da aquicultura/salicultura.
A preservação das praias e dunas é essencial para o controle da erosão costeira e preservação da faixa litorânea e sua biodiversidade. A praia e a duna normalmente protegem os manguezais das ações das ondas. Criam um ambiente calmo, onde a lama pode ser depositada e colonizada pela vegetação de mangue.
Os motivos para diminuição das superfícies de dunas, praias e areais continentais são variados: desde a revegetação do topo das dunas, ocupação por empreendimentos aquícolas e salineiros, até a expansão de espécies invasoras. A diminuição das faixas de praias e dunas também pode ser explicada em parte pela forte pressão imobiliária. Há, ainda, a baixa proteção: apenas 40% desse tipo de depósito está protegido em alguma unidade de conservação. Entre os casos de ocupação por usos da terra, chama a atenção o avanço dos pinheiros sobre campos dunares no Rio Grande do Sul em áreas que fazem limite com florestas plantadas e a expansão da estrutura aquícola/salineira na região costeira do Rio Grande do Norte.
“Por conta do Parque Nacional de Lençóis Maranhenses e da Área de Proteção Ambiental das Reentrâncias Maranhenses, o Maranhão lidera na proteção de dunas/praias e manguezais, respectivamente”, afirma Pedro Walfir, coordenador geral do tema zona costeira do MapBiomas. A quase totalidade (98% – 99 mil hectares) de suas praias, dunas e areais, 96% (24 mil hectares) de seus apicuns e 86% (398 mil hectares) dos manguezais do Maranhão são protegidos por Unidades de Conservação. “Portanto, o Maranhão é o estado com maior extensão de ambientes costeiros protegidos por UCs do país e um dos mais conservados”, explica Pedro Walfir.
De 1985 e 2020, as áreas de manguezal no país permaneceram relativamente estáveis, passando de 946 mil hectares para 981 mil hectares. Entretanto, a partir do ano 2000 até 2020 observa-se uma retração de 2% nas áreas de manguezal. No Brasil, mais de 78% da área de manguezais está concentrada na costa Amazônica, que se estende do Amapá até o Maranhão, abrigando os mais bem preservados e extensos manguezais do continente. Por outro lado, é na região Nordeste e Sudeste, menores em extensão, onde os manguezais encontram-se mais ameaçados. Em ambas, de 2000 a 2020, ações antrópicas diretas foram responsáveis por 13% das mudanças desta cobertura.
O mangue é o berçário de inúmeras espécies marinhas: 70 a 80% dos peixes, crustáceos e moluscos que a população consome precisam do bioma em alguma fase de suas vidas. Diversas espécies de peixes economicamente importantes utilizam os mangues como área de reprodução e depois voltam para o mar.
Nesse contexto, a criação de Unidades de Conservação em zonas costeiras protegendo manguezais foi de uma importância indubitável. O Brasil possui 340 (13%) do total de suas 2544 Unidades de Conservação na zona costeira. Atualmente 75% da área de manguezais no país encontram-se dentro de Unidades de Conservação, o que deve contribuir para a preservação futura deste que é um dos mais ameaçados ecossistemas do planeta.
Do ponto de vista ecossistêmico, os apicuns estão intrinsecamente relacionados aos manguezais que tendem a crescer sobre essas planícies de maré hipersalina – daí a importância de sua conservação para o futuro dos manguezais. Atualmente pouco mais da metade dos apicuns (56%) também está em unidades de conservação. Por outro lado, o atual uso de boa parte dos apicuns brasileiros para a produção de sal e camarões apresenta um risco para a conservação de manguezais. Por serem áreas descampadas e planas, os apicuns são preferidos para a produção comercial de sal e crustáceos, em especial camarões. De 1985 a 2020, a área de aquicultura e salicultura teve um salto de 39%, passando de 36 mil hectares para 59 mil hectares. Já os apicuns tiveram uma redução de 12% entre 2000 e 2020, passando de 65 mil hectares para 57 mil hectares.
Também chama a atenção que 8% da aquicultura nacional se encontre dentro de Unidades de Conservação: “Nestes casos, é importante checar se essas atividades estão em áreas que permitem exploração comercial e se seguem à risca a legislação brasileira”, adverte César Diniz, coordenador técnico do mapeamento de Zona Costeira do MapBiomas. O mapeamento mostra que o estado cuja área de aquicultura/salinas mais ocorre em Unidades de Conservação é o Rio Grande do Norte (2,5%, ou 1039 hectares), estado que concentra 67% da área salineira/aquícola do país.
PRAIAS, DUNAS E AREAIS
Os estados com maior área de praias, dunas e areais são Maranhão (101.565 hectares) e Rio Grande do Sul (97.395 hectares) graças a dois extensos sistemas de cordões arenosos: os Lençóis Maranhenses e o sistema de cordões arenosos do Rio Grande do Sul. Juntos, esses estados concentram mais da metade das praias e dunas do país. Dos dez municípios com maior área de praias, dunas e areais, três ficam nos Lençóis Maranhenses. Porém, o quarto e o quinto lugar da lista ficam no interior da Bahia: Pilão Arcado (14.934 hectares) e Xique-Xique (11.716 hectares), no noroeste do estado, perto da fronteira com o Piauí, concentram grandes áreas de areais.
MANGUEZAIS
Manguezais são formações vegetais encontradas em 16 dos 17 Estados costeiros do Brasil, do Amapá até Santa Catarina. Apenas o Rio Grande do Sul não contempla essa cobertura vegetal. Os estados com maior área de mangues são Maranhão (460.745 hectares) e Pará (226.959 hectares). Juntos, eles respondem por 70% dos manguezais existentes no País. Nove dos dez municípios brasileiros com mais área de manguezal do país ficam nesses dois estados. A exceção é justamente o líder: o município com maior área de manguezal do Brasil, com 56713 hectares, fica no Amapá e tem o mesmo nome do Estado: Amapá.
APICUM
Devido à dinâmica natural das zonas costeiras, os apicuns podem dar espaço a futuros manguezais e vice-versa. Isso ajuda a entender a liderança do Maranhão também em área de apicuns: o estado concentra 58% desse tipo de cobertura vegetal, ou 25.435 hectares. Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia vêm em distantes segundo, terceiro e quarto lugar, respectivamente, com 4271 hectares (9,8%), 4088 hectares (9,4%) e 3930 hectares (9%). Dos 10 municípios com maior área de apicuns, oito ficam no Maranhão – incluindo Apicum-Açu, ou grande apicum, em tupi, que ocupa o décimo lugar com 1201 hectares.
AQUICULTURA / SALICULTURA
A produção de sal do Brasil é centralizada nos estados do Rio Grande do Norte e do Ceará, fator que explica a concentração espacial da classe de aquicultura/salicultura nesses dois estados. Juntos, eles concentram 82% das áreas de salinas e tanques aquícolas. Considerada a distribuição municipal, todos os 10 municípios de maior área aquícola ou salineira estão no RN e CE. É importante ressaltar que o estudo não faz a dissociação destes dois padrões, mapeando ambos de maneira conjunta.
Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, método e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org
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