ODS 14

Reduzir o plástico descartável no Brasil pode gerar R$ 6 bilhões em valor de mercado e evitar a emissão de 18 milhões de toneladas de CO₂

Foto: Aline Massuca
Foto: Aline Massuca

A poluição plástica é uma crise global que exige ações urgentes e coordenadas. Em resposta a esse desafio, um Tratado Global Contra a Poluição Plástica está em negociação, com a última rodada de discussões programada para ocorrer entre 25 de novembro e 1 de dezembro na Coreia do Sul. O estudo Oportunidades na Transição para um Brasil Sem Plásticos Descartáveisrealizado a pedido das organizações Oceana e WWF-Brasil, aponta que a eliminação gradual de itens plásticos descartáveis pode reduzir drasticamente a poluição ambiental, ao mesmo tempo em que fortalece a economia do país. A pesquisa foi desenvolvida pela consultoria Systemiq e evidencia os efeitos socioeconômicos e ambientais da transição de plásticos descartáveis para materiais alternativos ou modelos de reuso.

A poluição plástica é a segunda maior ameaça ambiental ao planeta hoje, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Cientistas já identificaram a contaminação por microplásticos em diversos órgãos vitais humanos. O Brasil, maior produtor e poluidor de plástico da América Latina, produz anualmente cerca de 500 bilhões de itens plásticos descartáveis, dos quais 87% são embalagens e 13% utensílios descartáveis como talheres e sacolas. Apesar desses altos níveis de produção, os sistemas de gestão de resíduos permanecem inadequados. Como consequência, despejamos aproximadamente 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos a cada ano – o que representa cerca de 8% de todo o plástico que atinge os mares globalmente. Diante desse cenário, é fundamental que o Brasil avance na implementação de soluções concretas para esta grave crise.

Principais Conclusões do Estudo 

Benefícios Ambientais

  • No período de 2025 a 2040, analisando apenas a geração de resíduos de plásticos descartáveis, projeta-se uma diminuição em 8,2 milhões de toneladas – assumindo que todo esse volume evitado se tornaria resíduo devido à baixa reciclabilidade e à alta probabilidade de vazamento para o meio ambiente.
  • Considerando que haverá uma transferência de demanda e a substituição de plásticos descartáveis por outros materiais como papel, vidro, alumínio e compostáveis, que também geram resíduos quando descartados, estima-se uma redução líquida de 3,2 milhões de toneladas na geração de resíduos no período de 2025 a 2040. Esta redução, além de potencialmente diminuir o gasto público com a gestão de resíduos, evita que sejam emitidas 18 milhões de toneladas de CO₂ eq., o que corresponde a retirar 3,9 milhões de carros de circulação por um ano.

Transição Socioeconômica

  • A eliminação dos descartáveis plásticos representa apenas 6,8% da produção nacional de plásticos transformados, e emprega entre 15.000 e 24.000 trabalhadores. Projeções indicam uma redução líquida de 13.000 empregos diretos até 2040. Porém, no cenário que considera também os empregos indiretos, o impacto final na economia seria de cerca de 1.000 postos de trabalho. Essa análise indica que a indústria de materiais alternativos e setores interligados a ela teriam capacidade de absorver grande parte da mão de obra.

Oportunidades Econômicas

  • O aumento da demanda por materiais alternativos e produtos substitutos pode incrementar o valor econômico desse mercado em até 53%. O valor potencial de mercado para os produtos substitutos alcança R$ 17,3 bilhões, o que representa um aumento líquido de R$ 6 bilhões.
  • Com base no modelo econômico, a realocação da demanda de produtos plásticos para um cenário alternativo pode adicionar R$ 403,3 milhões ao Produto Interno Bruto (PIB).

“Com indústrias alternativas já consolidadas e algumas em ascensão, como a de produtos compostáveis e os serviços de reuso, o Brasil está bem posicionado para realizar a transição para uma economia livre de plásticos descartáveis. O volume de produção desses itens é muito pequeno diante do grave impacto ambiental, social e econômico causado. Portanto, a transição é viável e urgente. Para isso, precisamos aprovar políticas públicas, como o Projeto de Lei 2524/2022, que abre novas oportunidades econômicas, com potencial para fortalecer modelos de negócios inovadores, explorar a bioeconomia e descarbonizar o setor”, pontua Lara Iwanicki, gerente sênior de advocacy da Oceana.

Em tramitação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal desde outubro de 2023, o Projeto de Lei 2524/2022 inclui disposições para eliminar gradualmente os plásticos descartáveis, com ênfase na transição para alternativas que sejam recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis. Essa abordagem visa reformular os padrões de produção e consumo no Brasil, adotando uma Economia Circular do Plástico, e evitando o descarte deste material na natureza.

A sociedade demanda uma transição  

Uma pesquisa divulgada pelo WWF-Brasil em abril deste ano revelou que oito em cada dez pessoas em todo o mundo querem a proibição global de plásticos descartáveis. No Brasil, 85% dos entrevistados defendem regras que exijam a redução na produção mundial de plástico.

Os dados e as análises do estudo Oportunidades na Transição para um Brasil Sem Plásticos Descartáveis oferecem um cenário bastante positivo para que o governo brasileiro se posicione de modo assertivo na INC-5 – quinta e última reunião para a conclusão do Tratado Global Contra a Poluição Plástica.

“Este estudo embasa a urgência de políticas públicas que promovam alternativas ao plástico descartável, ao mesmo tempo em que reforça a necessidade de apoio econômico a setores emergentes. O Brasil, no INC-5, pode impulsionar o debate com ações concretas e metas específicas, liderando nações em direção a uma Economia Circular”, afirma Michel Santos, gerente de Políticas Públicas do WWF-Brasil.

Políticas Públicas e Incentivos Econômicos 

Para garantir o sucesso da transição para um Brasil sem plásticos descartáveis e o potencial de mercado para os produtos sustentáveis, o estudo enfatiza a necessidade de apoio governamental e incentivos econômicos para materiais substitutos. Com suporte estratégico, pequenas e médias empresas poderão competir de forma equilibrada e expandir sua participação e competitividade no mercado, reforçando a viabilidade econômica das soluções sustentáveis e promovendo um futuro de baixo impacto ambiental.

“Nossa análise demonstra que a transição dos plásticos descartáveis ​​no Brasil pode gerar ganhos ambientais e econômicos substanciais. Ao implementar uma estrutura robusta que promova materiais recicláveis, compostáveis ​​ou reutilizáveis, o Brasil pode reduzir o desperdício e reduzir as emissões de CO₂ destes resíduos. Os dados mostram que tal mudança não é apenas alcançável, mas também economicamente viável, com potencial para criar novas oportunidades de mercado e apoiar o crescimento do emprego na indústria de materiais sustentáveis”, disse Matthias Becker, sócio da Systemiq.

“Esta transição oferece ao Brasil a oportunidade de liderar a inovação sustentável, ao mesmo tempo em que apoia os compromissos globais para reduzir a poluição por plásticos”, conclui ele.

Envolverde