O que acontece depois de uma tragédia climática? Como as populações locais podem se organizar para conseguir recursos que as permitirão regenerar suas vidas e seus territórios? Em 2023, no Brasil, foram registrados 1.161 eventos climáticos atípicos e extremos, segundo dados do Centro Nacional de Desastres Naturais (Cemaden). Olhando por essa ótica e partindo dessas premissas que o Fundo Brasileiro de Educação Ambiental (FunBEA) realizou, em parceria com movimentos e lideranças territoriais, uma intervenção “artivista” relacionada aos temas da Justiça Climática e soluções locais no Litoral Norte de São Paulo dentro do Mês da Filantropia Que Transforma. Com a proposta de contribuir com o debate, foram promovidos dois encontros para a organização coletiva da ação que também marcou o encerramento do apoio da Campanha Quanto Vale?
Para abrir as atividades do final de semana, na sexta-feira (20/09) aconteceu o primeiro encontro da Comunidade de Aprendizagem com os apoiados na Chamada FunBEA 2024 pela Justiça e Educação Ambiental Climática. Esses encontros fazem parte do apoio indireto do FunBEA aos selecionados pela Chamada e são um modelo educativo comunitário em que a prática se baseia na aprendizagem em colaboração, a partir de uma metodologia baseada na cooperação e no diálogo.
Além de estreitar os laços entre o FunBEA e os apoiados, o encontro também contribuiu com a promoção de uma rede de trocas e saberes entre os diferentes coletivos e lideranças. No dia 20/09, o ponto central do debate foi o aprofundamento em conhecimentos sobre o território do litoral norte de São Paulo a partir da Justiça Climática e a atuação de cada apoiado.
Mariane Lima, Educadora e Gestora de Programas no FunBEA, explica como o encontro da Comunidade de Aprendizagem integrou as atividades do Mês da Filantropia em 2024. “Neste ano, o tema central do Mês da Filantropia que Transforma são as soluções climáticas locais e o tema da Chamada Pública de 2024 do FunBEA foi justiça e educação ambiental climática. Sendo assim, os apoiados desta chamada já realizam diversas ações que contribuem com soluções locais para essa problemática. Por isso, promover o apoio e o espaço de troca entre estas iniciativas contribui para o fortalecimento de uma rede local da sociedade civil que atua em prol da justiça climática e da transformação socioambiental no território“, conta.
Intervenção ‘‘Artivista’’ Justiça Climática: a solução é local!
No sábado (21/09), o FunBEA, em parceria com os coletivos União dos Atingidos, Amovila e Escambau Cultura, que atuam na Costa Sul de São Sebastião, realizou uma Intervenção “Artivista” pela Justiça Climática. O ato foi realizado no bairro da Barra do Sahy, com concentração especial na Vila Sahy, local mais atingido pelas chuvas de 19 de fevereiro de 2023. A intervenção foi toda construída de maneira colaborativa e contou com o apoio da Rede Comuá para integrar as programações do Mês da Filantropia que Transforma em 2024.
Para construir a intervenção, os coletivos movimentos socioambientais pensaram coletivamente em frases que foram transformadas em arte: cada uma delas foi escrita em um dos 64 estandartes (um para cada vida perdida na tragédia do ano passado). Os estandartes foram produzidos com o apoio do Escambau Cultura e foram pintados com geotinta, uma tintura natural feita a partir da lama e da terra coletadas nas cicatrizes deixadas pelas chuvas nos morros de São Sebastião. Além dos estandartes, também foram produzidas faixas, lambe-lambes e outros materiais artísticos.
Primeiramente, a programação iniciou-se com uma caminhada até o pé do morro da Vila Sahy, local onde aconteceu grande parte dos deslizamentos em 2023. Depois, o ato se deslocou até a Praia da Barra do Sahy, onde aconteceram diálogos entre os presentes, com o objetivo de sensibilizar para a discussão sobre Justiça Climática e soluções locais. Mahryan Sampaio, conselheira do FunBEA e Embaixadora da juventude na ONU, esteve presente no ato e colocou que intervenções “artivistas” são um forte mecanismo para fazer o ativismo reverberar. “Porque quando falamos somente de clima, nos restringimos, de alguma forma, ao nosso nicho. Mas quando a gente fala de clima e cultura, clima e música, clima e religião, clima e território, atingimos outras escalas, ganhamos uma escalabilidade muito maior“, explica.