Intervenções do Programa de Acesso à Água do Projeto Saúde e Alegria iniciaram em agosto de 2022 e foram concluídas neste mês de março. Ações beneficiam diretamente 181 indígenas que sofrem com contaminação dos garimpos, diminuindo taxas de mortalidade e doenças de veiculação hídrica
A lama do garimpo despejada nas águas do Tapajós tem impactado a vida de centenas de populações que dependem do rio para sobreviver. A liderança indígena do alto Tapajós, região do município de Jacareacanga, Maria Leusa Munduruku, ressalta que a contaminação tem adoecido principalmente mulheres, idosos e crianças: “O rio virou uma lama despejada dentro do nosso rio. A gente está buscando projetos para ajudar a gente. A gente está muito preocupado e muito triste. Os nossos peixes estão contaminados e já sentimos na pele, sofrendo esses impactos. O nosso rio está doente, a mãe terra está doente e nós somos doentes”.
Preocupado com a situação dos indígenas, o Projeto Saúde e Alegria vem desde 2020 empreendendo esforços para apoiá-los com investimentos para melhoria dos serviços de saúde básica, como o acesso à água limpa. “A água sempre foi entendida como uma prioridade do Saúde e Alegria. É uma contradição ter populações ribeirinhas que vivem às margens da maior bacia hidrográfica do mundo, vivendo estresse hídrico”, comentou o coordenador geral do PSA, Caetano Scannavino.
Uma grande mobilização para implementar sistemas de água e saneamento em seis aldeias do alto Tapajós iniciou em agosto de 2022. Nessa jornada de perfuração de poços profundos, construções e implementação de sistemas solares, foram contempladas as seguintes aldeias com os serviços:
- Sawré Apompo: Instalação de filtro para remoção de ferro, limpeza e desenvolvimento do poço tubular;
- Fazenda Tapajós: Perfuração de poço com 154 metros, instalação de bomba submersa, rede de distribuição, sistema de energia solar para bombeamento e elevado de madeira com reservatório de 5mil litros;
- Aldeia Ariramba do Kadiriri: bomba submersa, rede de distribuição, sistema de energia solar para bombeamento e elevado de madeira com reservatório de 5 mil litros;
- Aldeia Waró Baxé Watpu: Perfuração de poço com 55 metros, instalação de bomba submersa, rede de distribuição, sistema de energia solar para bombeamento e elevado de madeira com reservatório de 5mil litros;
- Ariramba do Teles Pires: Ariramba do Teles Pires: Limpeza e desenvolvimento do poço tubular.
- Kabarewun: Perfuração de poço com 54 metros, instalação de bomba submersa, rede de distribuição, sistema de energia solar para bombeamento e elevado de madeira com reservatório de 5 mil litros.
A logística foi uma das grandes dificuldades para concluir as obras, explicou a coordenadora do Programa de Acesso à Água, Jussara Batista: “São vários os desafios na execução desse tipo obra no território – dificuldades de acesso no período de seca dos rios, distância entre as aldeias e a cidade mais próxima, custo de materiais, mão de obra e combustível inflacionados por conta da atividade garimpeira – que tornaram a ação extremamente complexa para a equipe do PSA”.
As perfurações de poços, iniciadas em dezembro de 2022 foram paralisadas por conta do nível do rio, que no período da seca tornou inviável o transporte de máquinas e equipamentos pesados. A ação só foi retomada em fevereiro de 2023 com a perfuração de 3 poços e limpeza de 1 poço. “Todos esses desafios causaram atrasos no andamento do projeto que só pode ser concluído em sua totalidade dia 27 de março de 2023”, ressaltou.
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Durante conferência de Água na ONU, promovido pela Fundação Avina sobre empoderamento comunitário para soluções de água, com experiências da América Latina, África e Ásia, Alessandra Munduruku fez um apelo contra a privatização da água e a necessidade de ações para mitigar os impactos do garimpo em territórios indígenas Munduruku no Pará.
O sucesso das implementações é fruto do apoio principalmente de duas grandes frentes: do Projeto ECHO-COVID do UNICEF com a reabilitação das infra-estruturas de WASH nas instalações de saúde; e do Projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, por intermédio da rede WWF.
Contou também com doações complementares das Fundações Avina, MOTT, Empowered by Light, da Fondazione Eremo Madonna del Faggio, de Gisela Moreau, e recursos da Embaixada da Alemanha para atividades de diagnóstico, escuta das aldeias e planejamento das ações de garantia do acesso a água como direito humano. Alem das parcerias para co-execução com o DSEI Rio Tapajós, FEPIPA, Associação Munduruku de Mulheres Wakoborun e Associação Pariri do Povo Munduruku do Médio Tapajós.
“É de extrema importância o acesso à água potável para a saúde das populações, pois previne as doenças de veiculação hídrica pelo consumo de água contaminada e diminui também o número de pessoas que usam remédio ou necessitam de internações. Toda a população se beneficia, principalmente as crianças e a terceira idade”, Franciani Vinhote – coordenadora do Dsei Rio Tapajós.
Parceria do PSA e Povo Munduruku para o acesso à água de qualidade em aldeias impactadas pelos garimpos
Em maio de 2021, oito aldeias Munduruku do Médio Tapajós foram beneficiadas com banheiros e sistemas de captação, distribuição e tratamento de água, melhorando as condições sanitárias e diminuindo os índices de contaminação. Em fevereiro de 2022, o DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena do Rio Tapajós) assinou um termo de cooperação assumindo a manutenção das tecnologias sociais de saneamento.
As obras beneficiaram as aldeias Sawré Jauby, Datie Watpu, Sawré Muybu, Sawré Aboy, Dajé Kapap, Karo Muybu, e Poxo Muybu – todas fortemente impactadas também pela atividade garimpeira, uma região afetada pela extração ilegal do ouro desde a década de 80.
Além dos sistemas de abastecimento de água e construção de banheiros, o PSA implementou outras tecnologias de bem-viver para os Mundurukus: 51 famílias das aldeias Sawré Jaybu, Dace Watpu e Sawré Muybu Munduruku foram beneficiadas com sistemas fotovoltaicos para bombeamento de água implantados com apoio da Fundação Mott, parceira do Projeto Saúde e Alegria.
(Saúde & Alegria/#Envolverde)