Ambiente

Seringueiros trocam experiências sobre produção de borracha sustentável

A extração da borracha ainda é uma importante atividade econômica do homem amazônico. Foto: © WWF-Brasil / Jorge Eduardo Dantas
A extração da borracha ainda é uma importante atividade econômica do homem amazônico. Foto: © WWF-Brasil / Jorge Eduardo Dantas

Por Jorge Eduardo Dantas, do WWF Brasil –

Rio Branco (AC) – A extração de seringa ainda é uma importante atividade econômica da Região Amazônica, mesmo que não tenha o vigor de anos atrás. E ainda é fonte de renda de muitos ribeirinhos e comunidades extrativistas, especialmente no estado do Acre, em parte da Bolívia e Peru.

Com o objetivo de impulsionar a produção sustentável de borracha nativa da Amazônia, realizar trocas de experiências e integrar profissionais de diversos países, o Programa Amazônia do WWF-Brasil, em conjunto com o WWF-Peru e WWF-Bolívia, organizou no final de maio um intercâmbio sobre o tema.

Entre os assuntos contemplados na atividade estavam a produção de borracha em floresta nativa, as diferentes técnicas utilizadas para isso e os desafios e oportunidades do setor.

Experiências diferentes

O intercâmbio reuniu 32 pessoas, entre seringueiros do Brasil e Peru e representantes de instituições da Bolívia, sendo 16 brasileiros, 14 peruanos e 2 bolivianos. Sete mulheres participaram do evento.

Na ocasião, eles conheceram diferentes experiências de extração, produção e comercialização de borracha. Visitaram comunidades extrativistas no Peru e no Acre que trabalham, por exemplo, com a Folha de Defumação Líquida (FDL) – um tipo mais “sofisticado” e “caro” de borracha, usado para a fabricação de solas de sapatos e outros produtos.

Como parte da programação, ocorreu também uma visita à casa do seringueiro e artesão José Rodrigues de Araújo, conhecido como “Doutor Borracha”, que fabrica sapatos com este material. Ele lida com um tipo específico e colorido do produto, que é a Folha Semi Artefato (FSA). Seu trabalho é premiado e ele possui pontos de venda em São Paulo (SP) e Brasília (DF). Ano passado, José expôs suas obras numa feira de design em Milão, na Itália; e em Amsterdã, na Holanda.

O intercâmbio teve atividades realizadas em Espanhol e Português e percorreu cerca de 1,2 mil quilômetros em seis dias, passando por pelo menos cinco cidades diferentes – Rio Branco, Assis Brasil e Epitaciolândia, no Brasil; e Iberia e Puerto Maldonado, no Peru. Isso apenas em “estradas oficiais”, sem contar os ramais utilizados pela equipe.

Veja aqui uma galeria de fotos da atividade.

“Sempre aprende”

Para o seringueiro Francisco Pinto Filho, 57, o intercâmbio foi bastante produtivo. “Achei a programação muito boa. Aprendi muitas coisas que posso levar para os meus companheiros”, afirmou. Ele vive nas proximidades do rio Jurupari, no município acriano de Feijó – e é um dos 50 beneficiários dos projetos de conservação que o WWF-Brasil mantém naquela área por meio do Programa Amazônia.

Para o seringueiro peruano Saturnino Cuchama, “intercâmbios são bons porque a gente sempre aprende”. “Para nós, de outros países, é muito importante entender como vocês, brasileiros fazem os processos de vocês. Aprendemos muito, vimos muita coisa”, declarou.

Saturnino é um dos diretores da Ecomusa, uma cooperativa de 24 seringueiros que trabalha na cidade de Iberia. Eles recebem apoio técnico do WWF-Peru e possuem um contrato com a empresa Piola, que fabrica sapatos com a borracha dos cooperados. No Acre, seringueiros brasileiros, apoiados pelo WWF-Brasil, tem um contrato similar com a empresa Vert.

Ruben Santos Cruz, outro dos participantes do intercâmbio, é Diretor de Complexos Florestais da Província de Pando, na Bolívia. Ele também gostou bastante da programação. “Tudo o que estamos vendo vai nos ajudar a melhorar a vida dos seringueiros bolivianos. Com o que estamos aprendendo poderemos melhorar nossos preços, aperfeiçoar nossos processos e tentar criar novos produtos”, afirmou.

Trinta e dois participantes estiveram no intercâmbio, que durou seis dias e percorreu cinco cidades no Peru e no Estado do Acre. Foto: © WWF-Brasil/ Jorge Eduardo Dantas
Trinta e dois participantes estiveram no intercâmbio, que durou seis dias e percorreu cinco cidades no Peru e no Estado do Acre. Foto: © WWF-Brasil/ Jorge Eduardo Dantas

Mostrando realidades

Para a analista de conservação do WWF-Brasil, Kaline Rossi, o intercâmbio buscou mostrar realidades diferentes para os seringueiros.

“Muitos deles moram em pontos isolados da Amazônia e dificilmente saem de suas comunidades. Por isso, quisemos tratar não só o tema da borracha, mas também mostrar outras coisas que podem ajudá-los a viver e gerar renda dentro da floresta, como o turismo comunitário e a produção agrícola sustentável. Queríamos oferecer algo que marcasse a vida dos participantes, além de fortalecer a interação entre os seringueiros dos outros países”, explicou.

Já a representante do WWF-Peru, Edith Condorí, disse que trabalhar com a borracha é trabalhar com a identidade do homem amazônico. “Mais do que falar de mercado, é importante lembrar que a extração e produção de borracha fazem parte do modo de vida do seringueiro – existe aí uma questão cultural muito forte, de identidade de uma população”, explicou.

Um bilhão de árvores

O intercâmbio é fruto do projeto Protegendo Florestas – uma parceria do WWF-Brasil, do Governo do Acre, da rede de televisão britânica Sky e do WWF Reino Unido.

Iniciada em 2009, esta ação conjunta promove ações que ajudam famílias de produtores e extrativistas a gerar renda de forma sustentável com a venda de produtos como açaí, borracha e copaíba. Assim, é possível combater o desmatamento dentro das propriedades rurais.

O objetivo do projeto é garantir a conservação de 164 mil quilômetros quadrados de floresta no Estado do Acre – além de manter um bilhão de árvores em pé naquele território.

Em 2013 o projeto ganhou o prêmio de “Melhor Parceria de Organização Social” no Business Charity Awards, em Londres. (WWF Brasil/ #Envolverde)

* Publicado originalmente no site WWF Brasil.