Por John C. Cannon, Mongabay –
Cerca de 35% das florestas intocadas remanescentes no mundo estão em terras que são gerenciadas ou pertencentes a povos indígenas, segundo um novo estudo.
O estudo, publicado em 6 de janeiro na revista científica Frontiers in Ecology and the Environment, baseia-se em trabalhos anteriores do autor principal John Fa e seus colegas, que mapearam a extensão das terras controladas pelos indígenas em todo o mundo. No trabalho, os pesquisadores compararam esses resultados com imagens de satélite que mostram as localizações de paisagens florestais intactas, ou PFIs. As PFIs compreendem blocos de florestas compostos por, pelo menos, 500 quilômetros quadrados e não apresentam sinais detectáveis de uso humano ou fragmentação.
A análise da equipe também revelou que as PFIs não desapareceram tão rapidamente das terras indígenas nas últimas duas décadas. E, em 36 dos 50 países contemplados pelo estudo, as áreas manejadas por indígenas tinham uma proporção maior de PFIs em relação à área total de florestas no mundo situada em terras não indígenas.
O motivo pelo qual essas terras sofreram menos perdas ainda precisa ser mais explorado, e é uma questão que vale a pena investigar, segundo Fa, que também é cientista do Cifor (Centro Internacional de Investigação Florestal). “Pode ser que as terras habitadas por indígenas tenham menor densidade populacional”, ele explica, alegando que geralmente são mais remotas, dificultando o acesso a novas frentes de desenvolvimento. Em alguns lugares, grupos indígenas podem estar bloqueando ativamente incursões das grandes indústrias extrativas.
Cada situação é única, acrescenta o pesquisador, apontando a necessidade de entender melhor o que está acontecendo. Isso, por sua vez, guiará as soluções destinadas a ajudar as comunidades indígenas nesses locais, a fim de abordar problemas como as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.
“O que é muito importante é que, como possuem toda essa floresta, [as comunidades indígenas] devem ser apoiadas por instituições internacionais para que consigam gerenciar essas terras em benefício próprio e em benefício do mundo”, afirma Fa.
Mas ela acrescenta: “Eles podem se sair muito melhor se seus direitos de continuar gerenciando e controlando essas áreas também forem respeitados e protegidos”.
O estudo pede o reconhecimento universal dos direitos de posse da terra dos povos indígenas. Fa explica que as organizações internacionais também devem desenvolver políticas que levem em conta o papel das populações indígenas na conservação das florestas.
Tauli-Corpuz diz que vê isso como um passo necessário, mas que os compromissos de alto nível devem ser apoiados por ações no terreno. “Você pode realmente encontrar políticas muito boas”, explica. “O importante é que essas políticas estejam de fato sendo implementadas”.
Imagem de destaque: Indígena em um afluente da Amazônia colombiana. Foto: Rhett A. Butler/Mongabay.
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