O apoio dos países ricos a usinas de energia movidas a carvão no exterior está resultando em dezenas de bilhões de dólares a cada ano em impactos na saúde local e em poluentes relacionados às alterações climáticas, de acordo com a nova análise divulgada pelo WWF e pelo Oil Change International.
Usando uma abordagem pioneira do Fundo Monetário Internacional, o estudo constatou que o apoio financeiro a usinas de energia movidas a carvão por parte das agências de crédito à exportação (ECA, na sigla em inglês) de países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) resulta em danos de US$ 8 bilhões a US$ 32 bilhões por ano. Estes resultados mostram que provavelmente todo o montante investido pelas ECAs nas 20 usinas de carvão estudadas é sobreposto por apenas um único ano de danos para a saúde e da poluição.
Em determinadas circunstâncias, cada US$1 de apoio do ECA resulta em de US$ 100 de danos à saúde, causados somente pela poluição do ar local, durante a vida útil de uma usina a carvão. Estes custos são absorvidos pelas populações perto das usinas, incluindo as comunidades na Índia, na Turquia, na Indonésia e no Vietnã, entre outros países com usinas incluídos na análise.
Os três piores países em fornecimento de financiamento para centrais sujas de carvão foram Coreia, Japão e Estados Unidos. Coreia foi a responsável pelo maior dano de poluição do ar local, grande parte causado por seu financiamento à enorme usina de geração de energia (conhecida como Ultra Mega Power Project ou UMPP) de Mundra, na Índia.
“Com as grandes negociações sobre o clima que acontecerão em Paris, é crucial que, quando se reunirem na próxima semana, os países da OCDE concordem em limitar fortemente seu financiamento prejudicial ao carvão”, disse Sebastien Godinot, economista responsável por Política Europeia no WWF. “Este relatório mostra que os países da OCDE, especialmente a Coreia do Sul, o Japão e os Estado Unidos, estão provocando bilhões de dólares em danos às comunidades locais na área de clima e isso precisa parar.”
“Os projetos de carvão financiados por países ricos estão causando intensos danos em populações de países pobres”, disse Alex Doukas, Activista Sênior da Oil Change International. Segundo ele, ”juntos, Coreia e Japão são os mais críticos porque ainda resistem a qualquer tipo de limite para o apoio financeiro a projetos de carvão no exterior. “Os governos do presidente Park Geun-hye, na Coreia, e o primeiro-ministro Shinzo Abe, no Japão, deveriam ter vergonha da marca negra em seu registro internacional causada por seus investimentos destrutivos em usinas de energia movidas a carvão sujo que envenenam o ar das comunidades locais.”
Diferencial brasileiro
Em 2014, o carvão mineral e coque (coke) corresponderam a 5,7% da oferta interna de energia no Brasil, o que equivale a 17,5 milhões de TEP (toneladas equivalentes de petróleo). A baixa competitividade do carvão nacional, que possui baixo teor energético, faz com que sua participação na produção brasileira de eletricidade seja de apenas 3% e o seu uso fique restrito aos estados do Sul (PR, SC e RS), justamente os estados produtores de carvão.
De acordo com André Nahur, coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, o Brasil possui o diferencial de gerar grande parte de sua energia por hidrelétricas, mas deve aproveitar as condições naturais que possui para liderar este novo modelo de negócios que está surgindo.
“Enquanto o mundo todo está sendo pressionado por formas mais sustentáveis de geração de energia, o Brasil possui características propícias para a produção de energia sustentável, como eólica e solar. Esse é o nosso diferencial, que pode contribuir para a geração de emprego e renda, além de colocar o Brasil na vanguarda do desenvolvimento com baixo uso de carbono”, diz ele. (WWF Brasil/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site WWF Brasil.