Por Ivet González, da IPS –
Los Palacios, Cuba, 14/10/2016 – Protegidos do Sol por chapéus de aba larga e camisas de manga comprida, trabalhadores do centro piscícola La Juventud jogam ração nos tanques onde criam tilápias, um peixe escasso nos mercados de Cuba, apesar de muito procurado.“A produção deu um grande salto, graças à combinação de vários fatores: fazemos a reversão sexual (aplicação de hormônios para conseguir 98% de machos), damos ração de melhor qualidade e introduzimos espécies geneticamente melhoradas”, explicou à IPS o diretor do centro, Guillermo Rodríguez
Situada no município de Los Palacios e reconhecida como a melhor produtora de tilápias em Cuba, peixe muito apreciado no país por seu sabor, La Juventud está vinculada à estatal Empresa Pesqueira de Pinar delRío (Pescario), que agrupa toda a atividade do setor nessa província do extremo oeste cubano.Graças ao reordenamento do setor com ênfase na atualização tecnológica, este país obteve no ano passado 27.549 toneladas de pescado de água doce em tanques, represas e piscinas, o maior volume desde a introdução da atividade nos anos 1980.
A meta do Ministério da Indústria Alimentar é dobrar a produção aquícola até 2030, quando pretende obter 49.376 toneladas.Porém, as capturas de peixes e mariscos, que em 2015 foram de 57.657 toneladas, incluindo a plataforma marítima, cobrem apenas uma baixa porcentagem da demanda de 11,2 milhões de habitantes e não abastecem totalmente a demanda do próspero turismo, que este ano poderá quebrar o recorde de três milhões de visitantes estrangeiros.
Incluídos os produtores pesqueiros, o país gasta por ano cerca de US$ 2 bilhões com importação de alimentos, apesar de leves aumentos da produção interna do setor, alcançados com as reformas econômicas que começaram em 2008.O salto aquícola se originaem melhor organização do setor, garantia das artes de pesca, estabilidade no fornecimento de alimento animal, aumentos salariais, cultivos intensivos e melhoria genética das espécies, financiados por fundos estatais, pela cooperação internacional e o investimento estrangeiro.
“Em 2015, nossa unidade empresarial produziu 465 toneladas de pescado, das quais 200 foram de tilápias. Este ano já capturamos 391 toneladas, 248 de tilápias”, detalhou Rodríguez sobre os resultados do centro de piscicultura, que conta com 132 trabalhadores, sendo 17 mulheres.Em suas instalações, com 46,2 hectares de água, que chega por gravidade desde uma represa vizinha, La Juventud se dedica à reprodução dos alevinos que recebe a cada dois anos da estatal Empresa de Desenvolvimento de Tecnologias Aquícolas (EDTA), e sua engorda em represas, culminando com as capturas para enviar à indústria.
Seus rendimentos começaram a decolar em 2011, quando introduziram a reversão sexual e as primeiras espécies geneticamente melhoradas, como parte de um projeto de transferência tecnológica do Vietnã. E, desde 2015, recebem apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).“O resultado obtido com o projeto FAO é muito superior. De quatro toneladas de tilápias que antes eram obtidas, hoje se consegue 13,3 toneladas por hectare”, pontuou Rodríguez. E o salário médio mensal aumentou do equivalente a US$ 13 para mais de US$ 58, mais que o dobro da média salarial estatal, de US$ 23, acrescentou.
O programa Estabelecimento e Implantação de um Programa de Melhoramento Genético Para Peixes de Água Doce, assinado no ano passado entre o governo e a FAOcom dois anos de duração, destina US$ 297 mil para fortalecer as capacidades em genética e reprodução, de produtores e pessoal técnico e científico de todo o país.“As principais ações do projeto estão dirigidas à EDTA, com capacitações e insumos para que desenvolvam os alevinos”, explicou à IPS Loliette Fernández, funcionária da FAO em Cuba. “O objetivo é conseguir um programa nacional de melhoramento genético de peixes de água doce, que hoje não existe”, acrescentou.
Entretanto, a iniciativa que atrai ao país consultores internacionais, se concentra no cultivo da tilápia, em particular com a introdução da linhagem Gift (sigla em inglês de Tilápia de Cultivo GeneticamenteMelhorada), uma variedade também usada em centros de piscicultura de outros países do Sul em desenvolvimento.“A tilápia sempre esteve na dieta do cubano, mas com a Gift vendemos um pescado vistoso, de muito boa qualidade. A partir de nossos cultivos, a indústria faz uma variedade de produtos, mas a tilápia é a que mais agrada”, apontou à IPS a veterinária Mercedes Domínguez, que trabalha na fazenda.
Garças brancas sobrevoam as instalações de La Juventud e algumas caminham sobre as margens dos grandes tanques, canais e piscinas. As construções estão todas bem pintadas e ostentam cartazes artesanais com as informações sobre os processos desenvolvidos em cada área.“Mantemos as instalações com os reparos menores que podemos fazer, mas todas necessitam obras de engenharia grandes e especializadas para aproveitar mais as águas”, ressaltou Jorge Triana, diretor-geral da Pescario, apontando para as paredes dos tanques da fazenda, que têm mais de duas décadas de exploração.
Triana citou outras dificuldades enfrentadas pela empresa, que abastece de produtos pesqueiros a província de 140.252 habitantes. Além dos reparos, a entidade tem problemas decorrentes do envelhecido parque de veículos ecom a refrigeração, e com a tecnologia obsoleta na indústria. Eleestima que as ofertas da Pescario cobrem cerca de 30% da demanda na província. “Embora dependa de haver outras ofertas nos comércios, nossos produtos chegam pela manhã e à tarde não há mais nada nas peixarias”, enfatizou à IPS.
Triana acrescentou que agora trabalham nos ajustes de todo o sistema para conseguir as metas de crescimento até 2030.“O futuro de Cuba e do mundo está na aquicultura”, segundo a produtora Margarita Cepero, que desde 2006 dirige uma unidade de engorda de peixes em gaiolas que flutuam na represa Sidra, na província de Matanzas. “A cada ano há restrições para a pesca marinha, com a finalidade de proteger as espécies”, observou à IPS.
Cuba pescou em excesso entre as décadas de 1960e 1980 em seus 50 mil quilômetros quadrados de plataforma nas improdutivas águas do Caribe. A ilha enfrenta as consequências do esgotamento internacional dos recursos pesqueiros e a própria superexploração de suas costas. Envolverde/IPS