Por Neeta Lal, da IPS –
Nova Délhi, Índia, 9/9/2016 – Os desacordos e outras diferenças fronteiriças não resolvidos entre China e Índia, duas das civilizações mais antigas, não impediram que forjassem fortes laços de cooperação em diversas áreas. A relação desses vizinhos asiáticos também fez com que a atenção mundial se concentrasse, nos últimos anos, no domínio demográfico da Ásia, grandes economias em desenvolvimento preocupadas em aliviar a pobreza e impulsionar o desenvolvimento nacional.
Os dois países mais povoados do mundo, com quase 37% da população mundial, estão comprometidos em melhorar a situação de seus habitantes, o que oferece um espaço para trabalhar em sinergia e fortalecer os vínculos. Com as economias ocidentais ainda volúveis, a Índia, com seus 1,25 bilhão de habitantes e sua efervescente energia empresarial, oferece aos investidores chineses uma enorme margem de crescimento.
Na próxima década, a China abrigará a maior população de idosos do mundo, enquanto a Índia, por seu dividendo demográfico, necessitará gerar empregos para a maior força de trabalho do mundo, o que representa oportunidades para que ambos trabalhem juntos.Como vizinhos, China e Índia também têm uma longa história de vínculos culturais, científicos e econômicos. Mas, após uma breve guerra pelos limites fronteiriços, em 1962, os laços comerciais e de investimento foram afetados.
Porém, na última década, as relações entre os dois gigantes se recuperaram e, de apenas US$ 3 bilhões de intercâmbio comercial no final do século, já se aproximam dos US$ 100 bilhões, o que significa grandes oportunidades para comerciantes e investidores dos dois países.Além de compartilhar sua nova extroversão e o entusiasmo em suas políticas econômicas, Nova Délhi e Pequim também estreitaram laços econômicos com o resto do mundo.
Ambos países integram a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Índia como membro fundador e a China desde 2001.Seus fortes laços econômicos também desempenharão um papel estelar em uma das relações bilaterais mais importantes do mundo em 2020,ano em queo intercâmbio comercial entre ambos vai superar o da China e Estados Unidos, segundo as estimativas mais conservadoras.
Há inúmeras oportunidades de negócios entre China e Índia em diversas áreas, como agricultura e processamento de alimentos, gestão de valores, construção e infraestrutura, eletrônica e tecnologias da informática, transporte e logística. Além do setor farmacêutico, que oferece possibilidades colossais para os dois países. E a China tem vasta capacidade subutilizada no setor manufatureiro, somado a um excedente de capital que necessita de novos mercados.
Pequim também busca aumentar a cooperação econômica com Nova Délhi no corredor Bangladesh-China-Índia-Birmânia e no programa da Nova Rota da Seda. A China pode ajudar a acelerar a decolagem econômica da Índia, concentrando-se em áreas estartégicas, como manufatura, rodovias, ferrovias e parques industriais, o que pode constituir a base de seus laços bilaterais.
As tentativas de Pequim e Nova Délhi para construir uma associação estratégica e de cooperação, ao mesmo tempo ampliando a cooperação econômica e comercial, fez com que a China se convertesse no maior sócio comercial da Índia. Mas restam algumas arestas a serem aparadas, como o déficit comercial da Índia com a China, que disparou de US$ 1 bilhão, em 2001-2002, para US$ 48,43 bilhões em 2014-2015. A assimetria apresenta problemas de sustentabilidade., mas os acordos bilaterais forjados geram esperanças de que se possa instalar um intercâmbio comercial mais sustentável.
Para isso, os ministros de Comércio dos dois países assinaram um Programa de Desenvolvimento Econômico e de Cooperação Comercial de cinco anos, em setembro de 2014, como forma de estabelecer um mapa do caminho no médio prazo, para promover um desenvolvimento sustentável e mais equilibrado das relações econômicas e comerciais.Os sinais de cooperação também são visíveis nos últimos acordos comerciais em matéria ferroviária, de cidades inteligentes e desenvolvimento.
Embora ambos se considerem rivais políticos, em outubro de 2013, assinaram o Acordo de Cooperação para a Defesa Fronteiriça.O pacto reconhece “a necessidade de continuar mantendo a paz, a estabilidade e a tranquilidade segundo o controle atual das áreas fronteiriças entre China e Índia, e continuar implantando medidas para construir a confiança no âmbito militar segundo o controle atual”.
Além disso, os dois países estão entre os 21 asiáticos que assinaram o novo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, que oferece a essa região um contraponto das instituições financeiras dominadas pelo Ocidente, como o Banco Mundial. Os recursos e os talentos combinados desses dois gigantes asiáticos podem impulsionar o crescimento econômico regional e global.
Apesar de criticar as políticas expansionistas da China e sua maior rigidez no Oceano Índico e no Mar da China Meridional, Nova Délhi procura consolidar os vínculos com Pequim, bem como estreitar a cooperação bilateral em matéria de infraestrutura, indústria, comunicações e energia. China e Índia também impulsionam a cooperação sino-indiana nos fóruns multilaterais, como o Grupo dos 20 países ricos e emergentes, a Cúpula Ásia Pacífico e o Brics, que é constituído por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Pequim e Nova Délhi fortaleceram o diálogo estratégico em grandes assuntos internacionais, como mudança climática e salvaguarda de interesses comuns aos mercados emergentes e aos países em desenvolvimento, o que está em sintonia com a importância que a Organização das Nações Unidas (ONU) concede à cooperação Sul-Sul, e que aproveita para recordar neste 12 de setembro.“Os países em desenvolvimento têm a responsabilidade primordial de promover e realizar a cooperação Sul-Sul, que não substituiria a cooperação Norte-Sul, mas a complementaria”, afirma a ONU.
Nova Délhi e Pequim também desejam aumentar sua cooperação em matéria ferroviária, de construção de parques industriais, de segurança, operações antiterroristas, além de expandir a comunicação e os intercâmbios em educação e turismo, facilitar intercâmbios adicionais entre seus governos regionais e salvaguardarem juntos seus interesses comuns, bem como os dos países em desenvolvimento.
Como ambos têm muitos objetivos comuns em áreas de convergência, as relações bilaterais baseadas em uma participação econômica equilibrada, somadas a uma mentalidade inventiva e audaz em matéria política, podem chegar a beneficiar os dois países e ao mesmo tempo disparar uma revolução asiática. Envolverde/IPS
*Este é um artigo especial da IPS pelo Dia das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul, celebrado em 12 de setembro.