Os pesquisadores se baseiam em conjunturas climáticas globais formuladas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para simular o crescimento e a produtividade do café arábica em diferentes regiões do país e identificar as áreas que permanecerão aptas para seu cultivo de 2041 a 2060 e de 2061 a 2080.
No cenário climático mais otimista, as emissões de gases de efeito estufa diminuem para zero por volta de 2075 e se tornam negativas depois disso. No mais pessimista, as emissões não param de aumentar até o fim deste século, de modo que a temperatura média da atmosfera do planeta será, em 2100, cerca de 4 graus Celsius (°C) maior do que a atual.
Atualmente, uma porção de 8,72% do território brasileiro — o equivalente a 740.892 quilômetros quadrados (km²) — encontra-se apta para o cultivo de café arábica nos estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Mais 5,1% do território podem se tornar propícios para o cultivo do grão se for adotada uma metodologia adequada de irrigação. No entanto, o que os estudos sugerem é que o mais provável é que a área adequada para essa cultura em território brasileiro diminua nas próximas décadas —e de forma expressiva.
“O café é muito suscetível ao clima e pode apresentar produtividades altas ou baixas dependendo da temperatura do ar e das chuvas durante seu ciclo de produção”, explica o engenheiro agrônomo Glauco de Souza Rolim, pesquisador do Departamento de Ciências Exatas da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, câmpus de Jaboticabal, e um dos autores de um artigo publicado em novembro de 2023 na revista científica Environment, Development and Sustainability apresentando os resultados das simulações.
Se a temperatura média anual em determinada região for menor que 15 °C, ela automaticamente se torna inapta para a produção de café devido ao frio. A exposição a temperaturas acima de 30 °C também tende a causar problemas no grão. “O mesmo acontece em áreas com deficit hídrico anual superior a 1.500 milímetros”, diz Glauco Rolim.
As simulações conduzidas por Rolim e seus colegas constataram que, partindo-se do cenário mais otimista de mudança climática proposto pelo IPCC, o percentual de áreas aptas para a produção de café arábica no Brasil cairia para menos da metade, indo de 8,7% para 3,7% no período de 2041 a 2060. “Nossa análise mostra uma redução média de 50% em áreas adequadas para o cultivo de café em quase todos os cenários”, diz Rolim.
Os estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, três dos maiores produtores brasileiros, seriam os mais afetados. Somente o estado de São Paulo, terceiro maior produtor de café arábica no país, já perdeu mais da metade de suas lavouras nas últimas três décadas, de acordo com um estudo publicado em 2019 na revista Coffee Science.
O Brasil responde atualmente por cerca de 33% da produção mundial de café e 26% das exportações para 152 países, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). O país produz aproximadamente 49,3 milhões de sacas em 2,1 milhões de hectares. Sua cadeia produtiva é responsável pela geração de mais de 8 milhões de empregos, com cerca de 287 mil cafeicultores, a maioria de pequeno porte.