Por Ivet González, da IPS –
JesúsMenéndez, Cuba, 22/8/2016 – O técnico em eletrônica Eugenio Pérez é conhecido neste povoado cubano por ser o melhor produtor de embriões de árvores frutíferas, idealizar um sistema automático para suas mudas e também dirigir um estabelecimento privado especializado em sucos naturais.“A venda de sucos foi pensada para culminar o ciclo produtivo da propriedade e levar fruta fresca à população”, explicou à IPS esse proprietário de uma área familiar de oito hectares, no munícipio de JesúsMenéndez, 650 quilômetros a leste de Havana, na província de Las Tunas.
As oportunidades do trabalho privado, entre outras reformas implantadas em Cuba, são aproveitadas por produtores que surgem com novas visões, para criar algumas cadeias a partir de suas propriedades. Suas iniciativas surgem quando as autoridades econômicas, e sobretudo os governos locais, estimulam e priorizam concatenar os diferentes elos do deprimido setor agroalimentar.
O enfoque de cadeias de produção e de valor, que consiste em associações empresariais para explorar ao máximo uma matéria-prima, avança como nova filosofia de trabalho e elemento fundamental nas estratégias de desenvolvimento do país, que importa 80% dos alimentos que consomem seus 11,2 milhões de habitantes e os 3,5 milhões de turistasanuais.
Pesquisadores receitam as cadeias produtivas, que podem englobar desde o local até o internacional, para impulsionar as economias em desenvolvimento na América Latina, porque potencializam as pequenas e médias empresas, geram empregos, diversificam a produção, ao mesmo tempo em que geram sociedades mais equitativas.
Com coloridas paredes e uma ampla área coberta e aberta, a cafeteria de Pérez vende, desde 2014, sucos e outros alimentos com base nos cultivos de sua Finca de Produção de Plantas e Hortaliças, que proporciona anualmente dez toneladas de frutas, entre goiaba, manga, abacate, abricó e nêspera.
“O tópico fundamental consiste em sucos e doces, para ter maior quantidade de serviços com produções da propriedade. Também elaboramos outros tipos de comidas a partir de frango, porco e cabra, fornecidos por outros cooperativados”, contou Pérez, sócio da Cooperativa de Créditos e Serviços José Manuel Rodríguez.“A maior parte dos recursos saiu da renda obtida com a propriedade. E o Programa de Inovação Agropecuária Local nos deu algum apoio”, acrescentou, se referindo ao projeto agroecológico coordenado desde 2000 pelo Instituto Nacional de Ciências Agrícolas e com financiamento da cooperação suíça.
A família de Pérez escolheu para construir seu estabelecimento, chamado Palma Caribe, um terreno abandonado entre sua propriedade e o terminal municipal de ônibus, com serviço de transportadores estatais e privados. “O lugar foi parte da estratégia, porque está perto e por ali passam muitas pessoas”, enfatizou o empreendedor.“A cafeteria se mantém e prospera, e já abre durante a noite”, afirmou uma cliente assídua, que destacou o serviço noturno por ser pouco comum em assentamentos rurais como Jesús Menéndez, de 49.205 habitantes, onde, ao cair da tarde, a atividade social acaba e a maioria dos comércios fecha.
Para Armando Nova, economista e pesquisador do Centro de Estudos da Economia Internacional, “as cadeias produtivas e de valores são elementos muito importantes para se trabalhar no setor agrícola cubano. Parte do enfoque sistêmico que exige está em implantar cadeias, e o país dispõe de força técnica e profissional para consegui-las”. Entretanto, falta, entre outras coisas, um mercado de insumos para toda a cadeia produtiva, um banco agrícola especializado, mais descentralização e contextos regulatórios flexíveis, “onde possam ser inseridas diversas formas produtivas”, indicou.
“O que deve ser regulado pelo Estado são as margens de ganho em cada elo da cadeia”, pontuou Nova, que aponta a agricultura como o ramo onde a reforma do governo de Raúl Castro realizou mais mudanças estruturais desde que assumiu a Presidência, em 2008. Publicações científicas destacam que o setor ostenta algumas cadeias produtivas de sucesso na elaboração de óleo comestível, leite de vaca e frutas, especialmente cítricas.
Com programas de curto, médio e longo prazos, até 2030a indústria alimentar cubana se capitaliza e moderniza, com ênfase nos lácteos e derivados da carne. O plano estatal fomenta as cadeias produtivas para elevar as ofertas, reduzir os tempos de entrega ao consumidor e substituir a distribuição a granel pelos envases e pelas embalagens.
“Estamos seguindo um conceito de produção, processamento, comercialização e consumo. Nós mesmos fazemos toda a cadeia”, destacou o agrônomo e ecologista Fernando Funes, que em 2011começou a aplicar seus conhecimentos em um terreno ocioso de oito hectares, no município de Caimito, a 20 quilômetros da capital.
Promovida até na imprensa internacional, em sua Finca Marta agora trabalham 16 pessoas que produzem vegetais e hortaliças para vender diretamente para 25 restaurantes de luxo na capital, frutas empacotadas com destino ao consumidor e mel de abelha obtidode 75 colmeias, que é comprado por uma empresa estatal.“Aprendemos na prática como nos vincular com os mercados e fazer relações com o resto da comunidade.Duas propriedades vizinhas estão produzindo vegetais e decidimos transportar e vender juntos essa mercadoria”, disseFunes.
Duas vezes por semana grupos de turistas curiosos percorrem a Finca Marta para conhecer seu sistema ecológico e a vida rural da ilha caribenha. “O agroturismo valoriza nosso conhecimento e o ponto de vista dos investimentos, porque essa renda é reinvestida no sistema produtivo”, ressaltou Funes, que também está associado a uma cooperativa agropecuária.
Para isso a equipe tirou um grande número de licenças, incluída a de elaboração de alimentos para fornecer lanches aos visitantes, e assinou contratos com agências estatais de viagem. “Também temos tudo em regra para receber turistas que viajam de forma independente”, ressaltou.
Funes garantiu que “a projeção para o futuro não é somente continuar enriquecendo a propriedade, gerar novos empregos, pagar melhores salários e dar mais garantias sociais aos trabalhadores, mas começar a ter um impacto na transformação do território, isto é, no desenvolvimento local”.
Há muitos outros obstáculos para os governos locais fomentarem em grande escala as cadeias no setor agroalimentar. “Existem limitações porque precisamos capitalizar toda a infraestrutura positiva, não só as indústrias”, declarou Julio César Estupiñan, governador da província de Holguín, no leste do país, cuja capital de mesmo nome é a terceira mais povoada de Cuba.
“No caso de nossa província, muito afetada pelas secas, tivemos que começar investindo na parte hidráulica”, disse o funcionário, para quem as cadeias são uma oportunidade para associar mais os setores estatal, cooperativo e privado. Envolverde/IPS
*Com colaboração de PatriciaGrogg, de Havana.