Política Pública

Campo africano precisa reter os jovens

 O diretor da Nepad, Ibrahim AssaneMayaki, fala aos jornalistas no Segundo Fórum de Desenvolvimento Rural Africano, em Iaundé, nos Camarões. Foto: Charles Mkoka/IPS

O diretor da Nepad, Ibrahim AssaneMayaki, fala aos jornalistas no Segundo Fórum de Desenvolvimento Rural Africano, em Iaundé, nos Camarões. Foto: Charles Mkoka/IPS

Por Charles Mkoka, da IPS – 

Iaundé, Camarões, 13/9/2016 – O Segundo Fórum de Desenvolvimento Rural Africano pediu que se empodere economicamente a juventude desse continente rico em recursos, já que muitos jovens emigram para a Europa, entre outros lugares, em circunstâncias de risco.Na abertura da conferência de dois dias, encerrada no dia 9,Estherine Fotabong, diretora de programas, aplicação e comunicação da Nova Associação para o Desenvolvimento da África (Nepad) – o corpo técnico da União Africana – recordou aos delegados que o elevado crescimento econômico deste continente não se refletiu no meio rural,no emprego ou na redução da pobreza dos jovens.

Fotabong apontou que a luta da África contra a pobreza, a fome e o desemprego será ganha ou perdida no meio rural, e acrescentou que esse é o contexto da estratégia de transformação rural para todo o continente. “Essa é a experiência de todas as nações de riqueza nova. Sem um mercado interno em crescimento, em função do constante aumento da população rural e urbana cuja renda está subindo, então fica difícil escapar da pobreza estrutural mediante uma economia voltada para o exterior”, ressaltou, na conferência realizada no hotel Hilton de Iaundé, capital de Camarões.

Fotabong acrescentou que a África se desviou dos processos comuns de transformação estrutural, ao experimentar urbanização sem gerar empregos no setor industrial. Normalmente, a urbanização deveria ser uma consequência do crescimento econômico. O desemprego e a pobreza são de caráter estrutural, não são passageiros, e isso não se corrige sozinho. Há a necessidade de “grandes intervenções políticas”, destacou.

O diretor da Nepad, Ibrahim Assane Mayaki, concorda com essa opinião. “A consecução das aspirações e metas da Agenda 2063 africana depende em grande parte da transformação das zonas rurais”, afirmou aos delegados presentes no encontro. Uma mesa-redonda de alto nível, moderada por Mayaki, se concentrou no crescimento demográfico, na pressão sobre os recursos naturais, na criação de empregos e diversificação econômica nas áreas rurais.

O secretário-geral de pecuária do Ministério de Pecuária, Pesca e Indústrias Animais de Camarões, Jaji Manu Taiga, informou que o governo injetou US$ 100 milhões em sua pasta para revitalizar o setor rural e também desenvolver a capacidade dos jovens no setor pesqueiro. “Exorto os camaroneses que estão na diáspora e investem seu dinheiro em hotéis e apartamentos a voltarem e considerar investir na agricultura e no desenvolvimento rural”,enfatizou.

Ananga Messina Clémentine, ministra camaronesa de Desenvolvimento Rural, prognosticou a criação de riqueza gerada a partir da agroindústria em um ambicioso plano pelo qual mais de cinco mil jovens são capacitados em desenvolvimento empresarial. Existe um mercado seguro para as matérias-primas agrícolas, já que Camarões está rodeado por países produtores de petróleo, indicou.

“É hora de fazermos a agricultura ser atraente, de capacitarmos e sensibilizarmos todos os grupos demográficos, para além do gênero, para que saibam que é rentável. Devem conhecer questões relacionadas com a análise de mercado, as opções de onde vender seus produtos e gerar o espírito da iniciativa empresarial”, pontuou Clémenine,acrescentando que, para os produtos agrícolas serem competitivos no mercado, é preciso melhorar o valor agregado e utilizar tecnologias da informação em busca de um acesso mais diversificado aos mercados.

Clémenine também destacou que as perdas posteriores à colheita, atualmente na ordem de 40%, devem diminuir a níveis manejáveis, especialmente em cultivos como mandioca e cereais. A ministra exortou as mulheres africanas a participarem ativamente dessas atividades.Por sua vez, Philomena Chege, diretora adjunta do Ministério de Agricultura do Quênia, sugeriu que já é hora de considerar a passagem da agricultura de subsistência para a mecanização, a fim de garantir alta produtividade e a gestão do tempo por parte dos jovens.

AtimTaniform, coordenadora da Fundação Educacional Memorial Autêntica, se referiu ao tema dos direitos das mulheres sobre a propriedade da terra, já que só lhes é permitido seu usufruto e não sua propriedade. “Existe preferência pelos homens sobre as mulheres quando se trata da propriedade da terra, que resulta na marginalização das mulheres jovens. E também há problemas com relação ao capital inicial para os jovens”, apontou.

Koffi Amegbeto, funcionário superior de políticas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para a África ocidental, disse à IPS que, entre as intervenções que seu departamento implanta, está o apoio à formulação e aplicação de políticas, estratégias e programas que gerem emprego rural digno, especialmente para os jovens e as mulheres do meio rural.

“No biênio 2014-2015, foi dado efetivo apoio a mais de 20 países. Em particular, a FAO ajuda os governos no desenvolvimento de associações público-privadas eficazes, que propiciem a inclusão dos jovens na agricultura e no desenho de metodologias favoráveis aos jovens, e sejam climaticamente inteligentes para a educação e a formação técnica e profissional”, explicou Amegbeto. Graças ao Fundo Fiduciário de Solidariedade Africana, a FAO pôs em marcha programas para vários países destinados ao emprego juvenil na África oriental e ocidental, enquanto outro programa se destina a apoiar o programa Futuros Rurais da Nepad, acrescentou.

Segundo Amegbeto, a FAO também proporciona assessoria em políticas, desenvolvimento de capacidades e assistência técnica para ampliar a aplicação das normas internacionais trabalhistas nas zonas rurais. “As principais áreas de interesse são a prevenção do trabalho infantil na agricultura, a segurança e a saúde no trabalho. Quatro países (Camboja, Malawi, Níger e Tanzânia) receberam apoio com programas para prevenir o trabalho infantil agrícola, com importantes resultados em termos de sensibilização e reforço das capacidades institucionais”, explicou.

Amegbeto acrescentou que a FAO também dá apoio para melhorar os sistemas de informação e os conhecimentos sobre o emprego rural digno, em níveis nacional, regional e global. No período 2014-2015, a FAO implantou o Programa de Emprego Juvenil na Agricultura na Nigéria, acompanhou o Ministério de Juventude, Emprego e Promoção dos Valores Cívicos do Senegal no desenvolvimento de uma política nacional de emprego juvenil rural, e realizou uma avaliação da cadeia de valor centrada na juventude na Etiópia e formação em aptidões empresariais de jovens vulneráveis em Mali e Zâmbia, destacou. Envolverde/IPS