por Edson Capoano –
A chuva severa provocou cascatas que surgiram do teto do supermercado, danificando alimentos e enervando os funcionários do local, que pediam socorro pelo telefone. Perto do local em que eu estava, a chuva castigou a região baixa da Vila Madalena, local conhecido pela Rua e Praça das Corujas. Lá, vivia o artista plástico Rodolpho Tamanini, de 73 anos. Ele ficou preso em casa pelo rio que se formou em sua rua. Ao verificar se a casa estava fechada, foi atingido por uma tromba d’água e morreu afogado.
Tamanini foi a única vítima fatal até o momento. Mas, pelos vídeos que circularam pelas redes, viu-se que muitos paulistanos sofreram com a chuva extrema. Alguns subiram em estruturas do transporte público, invadidas pela enxurrada. Outros atravessaram perigosas correntes de água quando não havia mais o que fazer, como na Avenida Guaicurus, em frente ao Poupatempo Lapa. Quem pôde, abrigou-se em ambientes fechados, esperando a tempestade acabar.
Inicialmente, a prefeitura alegou que a cidade estava “muito preparada” para enfrentar eventos climáticos e os impactos da chuva. Depois, moderou o discurso e voltou ao argumento “chuva acima do esperado“: “podia fazer o que fosse, não teria condições de evitar os danos”, completou o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
De fato, choveu quase metade do que era previsto para a média de janeiro, em apenas uma tarde. Foi a maior quantidade de chuva da cidade em 64 anos. O sistema de alerta para chuvas severas operado pela Defesa Civil funcionou, ainda que com algum atraso.
O prefeito mencionou obras realizadas e em andamento para a contenção de chuvas na cidade. Mas, assim como no resto do Brasil, a mitigação e adaptação têm histórico de ocorrer após tragédias, como Brumadinho, São Sebastião, Alagoas e Vila Pantanal.
Rodolpho havia registrado em 2008 os constantes alagamentos na região onde vivia, a baixa da Vila Madalena, em sua pintura “A Enchente”. Quantas cenas destas serão vividas e registradas até nossas cidades serem adaptadas para as mudanças climáticas?
“A enchente” (2008), de Rodolpho Tamanini, vítima da chuva do último dia 24. Foto: reprodução.
