Por Carolina de Barros e Alexandre Gonçalves Jr, direto de Marrakech –
Luta por água potável e preservação do ecossistema natural são preocupações da Ministra do Meio Ambiente do Congo.
A localização da COP 22, sediada em Marrakech, não é por acaso. Esta é a COP dos países da África, voltada para concentrar esforços de desenvolvimento sustentável nessa região, que devem ser feitos pelos africanos e para os africanos. Uma das principais pautas debatidas nas negociações é a ajuda financeira prometida pelos países mais ricos, para que o continente africano consiga se adaptar aos impactos do aquecimento global. A África é o continente mais vulnerável às mudanças climáticas, onde vivem 1.2 milhões de pessoas, sendo 43% menores de 15 anos na região subsaariana. Lá está um quinto de todas as espécies de plantas, mamíferos e aves conhecidas no mundo.
No coração da África fica a República do Congo, um dos países com mais recursos naturais do continente, que tem 69% de sua área total coberta por florestas tropicais. A produção do país inclui commodities similares às dos Brasil, como café, açúcar, cacau, petróleo e recursos florestais.
Para o governo congolês, a COP21, em Paris, foi um momento em que todos os países voltaram o olhar para a luta climática, mesmo aqueles que não tinham assinado o Protocolo de Kyoto, como é o caso dos países categorizados por “em desenvolvimento”, maioria na África. A Ministra do Meio Ambiente do Congo, Rosalie Matondo, afirma que a conferência do clima deste ano é a confirmação desse esforço conjunto. “Para nós, todas as decisões tomadas na COP de Paris são incontestáveis. Mas devemos partir para a ação. A população está cansada da criação de relatórios que continuam sem solução”, disse.
Responsáveis por só 3% do total de emissões dos gases estufa, os 54 países africanos possuem a difícil tarefa de adequar seu desenvolvimento a formas sustentáveis de produção. Caroline Dihl, membro da Delegação do Congo da COP22, conta que os países mais vulneráveis têm se esforçado para entrar no processo de negociação internacional. “A responsabilidade dos países em desenvolvimento pela situação atual de mudança do clima é baixíssima. Porém, é preciso colaborar porque esse acordo é construído na base do consenso e da coletividade, com esforços de cada um”, explicou.
Luta pela água
Um grande problema da região é o acesso à água potável. Muitas comunidades bebem água contaminada, prejudicial à saúde. Além disso, a economia local se baseia na pequena agricultura, mas a população não tem condição de usar água para irrigação, o que diminui a produtividade. Uma iniciativa internacional chamada de “Fond Bleu” (Fundo Azul) busca melhorar a gestão de água nos países da Bacia do Congo.
O objetivo do projeto é captar água de forma regional e repassar para que a população use na agricultura modernizada ou no consumo. Outras medidas servirão para evitar a poluição dos rios da região e tratar a água já contaminada . “A Bacia do Congo é uma das maiores do mundo. O Congo não está isolado. Vamos usar a água como um combustível para o desenvolvimento”, orgulha-se Matondo. O fundo é formado por diversos países da Bacia do Congo e também por ajuda internacional, que contribuirá com 100 milhões de euros por ano para a causa.
Preservação da fauna e flora
Para frear a exploração das florestas tropicais congolesas, uma das regiões com mais biodiversidade em todo o continente, Matondo criou o Programa Nacional de Reflorestamento (PRONAR). A partir dele, foi possível transformar 13% das florestas em áreas protegidas. “Nós sabemos que a floresta do Congo é o pulmão aqui. Assim como a Amazônia pode ajudar o mundo, as florestas do Congo atuam sobre nossa região”, afirma a Ministra. Ela conta que, no Congo, o desmatamento não é um problema grave porque o índice de degradação é de apenas 0,05%. Mesmo assim, ela está disposta a continuar trabalhando pela natureza. “Não estamos satisfeitos só com isso, porque entendemos que essa é uma luta que deve ser feita de forma conjunta, com todo o mundo e não só no nosso país”, ela afirma esperançosa.
A região encara conflitos entre milícias, o que prejudica ainda mais a situação em que estes países estão inseridos, de extrema exploração da biodiversidade. “Na nossa região temos conflitos armados, que não acontecem exatamente no Congo mas na República Democrática do Congo, nosso vizinho. Por causa dessas questões, há uma quantidade muito grande de armamento, que acaba sendo usado para o tráfico de animais”, explica a Ministra.
Para impedir esse tipo de ação, o Congo criou leis sobre o tráfico de animais e promove políticas de conscientização, inclusive liderando uma conferência internacional pela luta contra o comércio ilegal de flora e fauna selvagem no ano passado. Em conjunto com outros países, também iniciou um projeto na União Africana para lutar contra a exploração ilegal de recursos naturais do continente.
Desenvolvimento sustentável
Uma das principais mudanças que a Ministra quer fazer é levar novas técnicas de produção para a agricultura em comunidades do país, assegurando um desenvolvimento verde e que proteja o ambiente, mas que ainda garanta a subsistência das famílias congolesas. “Tradicionalmente, a mulher é responsável pela atividade agrícola no Congo. Elas se preocupam com o ambiente, que é sua fonte de sobrevivência, mas não têm acesso a esse tipo de informação que debatemos aqui. Elas conhecem as mudanças climáticas que vivem”, reflete a Ministra. Ela explica que o problema não é a agricultura desenvolvida por essas famílias, mas o agronegócio mecanizado, que cultiva a partir da derrubada de árvores e do uso de corrente para desmatar.
Matondo ressalta que a agricultura no Congo vai sim continuar a se desenvolver, mas de uma forma que não agrida a natureza. “É importante que essas mulheres não continuem vivendo nas condições que estão. Nós, do Governo, precisamos protegê-las da realidade de pobreza”, acredita. (#Envolverde)