Por Carolina de Barros, direto de Marrakech, especial para a Envolverde e Projeto Cásper Líbero na COP 22 –
ONG marroquina apresenta projetos inovadores para mudar a realidade de comunidades rurais e contribuir para desenvolvimento sustentável.
A região de Laâyoune, no Saara Ocidental, é uma das mais afetadas pelo estresse hídrico. Os poucos automóveis são movidos a combustíveis fósseis, que também são usados para gerar a energia local. As comunidades rurais e berberes se reúnem ao redor de lagos, que por vezes secam e atrapalham a agricultura ou criação de animais.
A área é foco de conflitos por disputas territoriais e, por isso, o governo marroquino conta com apoio de missões de paz da ONU para administrar a região. Mas isso não ajuda na sobrevivência e na melhora da qualidade de vida de seus habitantes.
A Coligação Regional pela Economia Verde da Região de Laâyoune, formada pela população tradicional da área, criou projetos de desenvolvimento com o objetivo de diminuir a emissão de gases estufa na comunidade e aumentar meios que beneficiarão os habitantes, a partir de recursos comuns presentes no cenário cotidiano. Mas precisam ainda de conseguir investimentos para poder tirar as ideias do papel, em larga escala.
Das algas se fez luz
Laâyoune, apesar da falta de água, tem pequenas lagoas espalhadas entre as dunas de areia. Nesses lagos, há um ecossistema formado por diferentes espécies de microalgas, numa biodiversidade complexa. Entre elas a Spirulina, rica em óleos vegetais.
A ONG desenvolveu um projeto para converter essas algas em biocombustíveis, para produzir eletricidade nas vilas e alimentar os motores de automóveis. O processo ocorre em quatro etapas. Primeiro, as algas ricas em óleo são selecionadas, depois são levadas para tanques ao ar livres ou fotobiorreatores (tubos transparentes) para se multiplicarem, então o óleo é extraído por centrifugação e convertido em biocombustível.
O principal benefício desse tipo de combustível é que utiliza algo disponível de forma simples no cenário da região, mas que não é poluente como petróleo. Além disso, as algas são cultivadas em superfícies que não competem com áreas para plantação agrícola, diferente de óleos vegetais, como da palma, que toma terras já escassas para plantio com intenção de gerar combustível e não alimento.
Em laboratório, os resultados da produção de combustível a partir da Spirulina foram satisfatórios. A produção de biomassa por hectare e o teor de óleo é superior ao de outras oleaginosas, tendo produtividade até 20 meses maior. Outra vantagem é que as algas consomem mais CO2, reciclando o excesso, diferente de fábricas ou termelétricas. Os restos da extração podem ser vendidos para empresas de cosméticos e ainda proporcionar renda para a população local.
A fase de testes já foi terminada, mas Laâyoune é uma região muito pobre. A implementação depende de apoio externo, que a ONG veio procurar na COP22, para que possam produzir combustível suficiente para toda a comunidade, ao invés de pequenas quantidades.
Peixes para irrigação
A economia local se baseia, principalmente, na agricultura. Mas, pela região, é comum a passagem de caminhões refrigerados que transportam peixe para o norte do Marrocos. O problema é que o gelo usado para refrigeração do pescado derrete e é despejado por canos diretamente no solo.
Além de desperdiçar água, escassa em Laâyoune, a água de peixe empobrece o solo por causa da alta salinidade. Isso dificulta a produção agrícola, que é a subsistência da comunidade rural.
Para reverter esse quadro, a ONG criou um sistema de captação da água que sai dos caminhões. Ela é depois filtrada, da forma convencional, em filtros improvisados de garrafas PET. O produto final é usado para irrigação das plantações e ajuda a adubar o solo, porque é rico em ômega 3 e ômega 6, contribuindo para o crescimento das culturas. A inovação será capaz de captar 200 litros por drenagem. É o uso inteligente do que já estava disponível, transformando o descarte alheio em um bem popular. (#Envolverde)