Para o climatologista Carlos Nobre, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), os países precisam elevar o financiamento climático de bilhões para trilhão de dólares e, também, zerar as emissões de gases de efeito estufa bem antes de 2050, conforme previsto no Acordo de Paris.
O especialista salienta que as ações para a adaptação dos países para as mudanças climáticas estão muito atrasadas. “O fundo verde para o clima já devia estar, como se sabe, na faixa de trilhão de dólares, e não de bilhões. Precisamos aumentar as metas de redução das emissões, subir muito esses fundos, tanto para redução das emissões, quanto para a adaptação dos países ao novo cenário”, frisa.
“A temperatura global já está há 17 meses muito próxima de 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. Explodiram todos os eventos extremos, como secas, ondas de calor, incêndios florestais, chuvas excessivas, rajadas de vento e ressacas. A pergunta é: as populações estão preparadas para esses eventos extremos? A resposta é não!”, alerta o especialista, que também é pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), defendendo o aumento das ambições.
O especialista entende que a COP30, que será realizada no próximo ano, em Belém (PA), será a mais importante das 30 conferências do clima já realizadas pela ONU. “A próxima COP vai ter que estabelecer compromissos para antecipar a redução das emissões, muito antes de 2050, no sentido de zerar as emissões líquidas, talvez até 2040. Também precisará convencer todos os países, principalmente os mais ricos, a aumentar – e muito – o financiamento para a adaptação aos extremos climáticos”, afirma.
Risco elevado para a Amazônia
Nobre também falou sobre a importância de ampliar a conexão entre o clima e a biodiversidade nos fóruns globais. “As mudanças climáticas colocam em risco a biodiversidade e, ao mesmo tempo, a perda da biodiversidade faz a mudança climática aumentar muito. Ameaçados, os biomas diminuem sua capacidade de remoção de gás carbônico (CO2) da atmosfera. E, no caso específico da Amazônia, a mudança do clima traz uma enorme ameaça ao futuro”, ressalta o professor, que tem chamado a atenção para o risco de um ponto de não retorno para a Floresta Amazônica se a temperatura do planeta ultrapassar 2,5°C em relação aos níveis pré-industriais.