Por Deivison Pedroza* –
Arnaldo acorda no exato momento em que o celular, configurado na função despertador, toca, às 7h15, emitindo o som estridente e repetitivo criado para nos tirar de uma das funções vitais que mais ocupam tempo da nossa jornada diária: dormir. Em passos cambaleantes, nosso notável personagem caminha vagarosamente até o banheiro, indo ao encontro do tato com seu segundo despertador: a torneira. Enquanto a água escorre entre as mãos que formam uma espécie de concha, ele as dirige ao rosto, atingindo-o com um choque de realidade similar ao tranco dado em um carro com a bateria “arriada”. Banho tomado e dentes escovados, agora o destino leva nosso protagonista até a cafeteira, agilizando, assim, o cronograma rotineiro de quem faz do café seu terceiro despertador.
Quando o relógio emite o bip para demonstrar que são 8h, normalmente sabemos que você, leitor, espera que a história nos aponte o caminho percorrido pelo trabalhador dessa narrativa até seu trabalho. Porém, diferentemente do que estamos acostumados, Arnaldo é mais um assalariado dessa nova modalidade trabalhista que vem ganhando força atualmente, por conta da situação mundial causada pela pandemia assustadora do novo coronavírus. Desta forma, o que será detalhado daqui em diante é como empresas e empregados devem se condicionar para o “home office” – ou trabalho em casa, teletrabalho ou, ainda, trabalho remoto.
Se olharmos para a história da humanidade, veremos que esse modelo não é novidade. Durante a Idade Média, era normal as “lojas” se localizarem no mesmo endereço da residência de seus proprietários, ficando separadas apenas pelos andares da construção. Isso funcionou até o século 19, quando a Revolução Industrial provocou a transferência dos trabalhadores para as fábricas, onde vigoravam relações trabalhistas marcadas por grande exploração e alta insalubridade.
A sociedade conquistou várias melhorias ao longo da década. Porém, no início do século XXI nos deparamos com um desafio, a partir do crescimento desordenado das cidades e a falta de planejamento na construção de vias acarretaram em aumento excessivo no tempo gasto no deslocamento entre a residência e a indústria. Em cidades como São Paulo, por exemplo, segundo pesquisa realizada pelo Ibope em 2008, o tempo gasto no deslocamento chegava a três horas. Imagina quanto deve estar hoje.
Porém, foi no início da década de 1980 que o escritor Alvin Toffler previu, em uma de suas obras, o best seller A Terceira Onda – a mudança tecnológica que permitiria as pessoas voltar a trabalharem de suas casas. Segundo Toffler, o fim da era industrial e o início da era da informação culminaram na valorização da prestação de serviços, na utilização da criatividade como diferencial e na busca constante pela melhoria da produtividade. Tudo isso ajudou a tornar o home office uma tendência para os dias futuros.
E os dados nos confirmam essa tendência. Em 2011, a International Data Corporation (IDC) estimou que 60 milhões de pessoas trabalhavam em regime remoto no mundo. No Brasil, essa modalidade é relativamente nova, mas muitas empresas estão adotando o home office devido ao caos do trânsito, com congestionamentos constantes nos grandes centros urbanos, tornando-se uma opção viável e vantajosa para ambos os lados da relação trabalhista. Assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que cerca de 3,8 milhões de brasileiros realizam suas atividades ocupacionais de casa, sendo que os índices de profissionais praticantes vêm aumentando na taxa de 10% ao ano.
Além disso, atualmente, cerca de 30% das empresas brasileiras são compostas de colaboradores no regime de home office, incluindo trabalhadores autônomos que registram suas empresas no endereço residencial. O número exato dos que realizam o teletrabalho para empresas externas ainda é impreciso. Porém, seguindo uma tendência mundial, será cada vez maior, inclusive com empresas permitindo que os trabalhadores cumpram suas jornadas da própria residência, pelo menos, uma vez por semana.
Mas como se organizar para que o colaborador consiga se manter focado e produtivo trabalhando em home office? Essa discussão fica para a segunda parte deste artigo. Até lá!
*Deivison Pedroza é CEO da Verde Ghaia
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