Qual a contribuição para o mundo de uma empresa com lideranças corruptas? Neste início de 2015 essa pergunta me estimulou a escrever sobre sustentabilidade, meu tema de aulas e de pesquisa, partindo de um olhar mais atento para a Ética – em caixa alta – enquanto uma das dimensões que não faz parte diretamente da contabilidade das empresas, sejam elas públicas ou privadas. É claro que um desvio de conduta, um furto, um estelionato impactam no cálculo final do balanço contábil e trazem prejuízos evidentes ao cofre da empresa. A Ética pode até ser um conceito cuja definição é complexa, assim como Sustentabilidade ou Responsabilidade Social Empresarial, mas merece ser entendida muito mais do que uma utopia filosófica. No Brasil, cuja história nos brinda com vilanias de toda ordem – a começar pela escravidão, o maior exemplo de falta de ética e moral que uma nação poderia ostentar – as empresas deveriam trabalhar a Ética muito além dos códigos impressos ou do esforço departamental localizado de auditorias internas.
Considero a corrupção um grave transtorno antissocial conduzido por psicopatas no comando de algumas empresas que possuem em seu modus operandi a desonestidade como princípio de negociação e a hipocrisia como modelo de gestão. Diante disso, precisamos ampliar formas de controle sobre esses indivíduos ou grupos, especialmente nas organizações públicas.
Graças a Deus que é brasileiro, não são todas as empresas e nem são todos os gestores públicos nomeados e concursados ou todos os empresários que fazem graduação na escola da pilantragem! Ainda temos bons exemplos no Brasil. O que me entristece não só como cidadão, mas também como professor é a descoberta diária de que marcas há pouco tempo motivo de minha admiração e orgulho, usadas como exemplos junto aos meus alunos em sala de aula, estão agora mergulhadas em um pântano de mentiras, farsas e propinas milionárias. O toque hilário é que muitas dessas grandes empresas, que saíram das notícias de economia diretamente para as páginas policiais, têm em seus murais e painéis coloridos na recepção de suas sedes, a exposição de seus valores institucionais. Ainda estão por lá publicados, entre outros, termos inspiradores como: “Honestidade de Propósitos; “Ética e Transparência”; “Atuação Responsável”; “Responsabilidade Social Corporativa”; Desenvolvimento Sustentável” etc. Valores aprovados pela alta diretoria e que foram extremamente motivadores, com certeza, no dia de seus lançamentos. Como bom comunicador sei que palavras podem inebriar e discursos podem encantar. Mas são as práticas e as ações que gritam muito mais alto do que qualquer anúncio comercial no horário nobre da televisão.
Então, chegamos ao óbvio ululante e fio condutor desse artigo: esses corruptos e corruptores, de variados calibres e m diferentes esferas profissionais corporativas, escalões de governos e cargos públicos não perderam apenas a moral ou qualquer preceito ético. Suas “parcerias degenerativas” como já escreveu o professor Clóvis de Barros Filho, bem como sua abjeta hipocrisia dilapidaram valores e perverteram a razão social da existência de suas empresas. Se seus discursos sempre foram mentirosos eles nunca poderiam pensar em ser sustentáveis, pois não existe modelo certo quando se busca um objetivo errado ou desonesto.
Talvez esses sujeitos descobertos em suas falcatruas nem percebam, mas a consequência de suas imoralidades afetou não somente a economia e as bolsas de valores, mas também a confiança nos negócios e o equilíbrio psíquico de milhares de pessoas que um dia acreditaram no seu trabalho, na missão que tinham pela frente. Seus crimes, iluminados por denúncias trazidas pela imprensa livre e pela delação premiada, atingiram no longo prazo toda uma geração. E quando isso acontece, comprovamos que a corrupção é necessariamente intolerável e perigosamente insustentável.
* Publicado originalmente no site Plurale.