A alocação de recursos em investimentos que prezam as questões ambientais não é o foco da maioria dos fundos de pensão, revela pesquisa recente realizada pela consultoria Sitawi — Finanças do Bem. O levantamento mostra que 58% dos 50 maiores fundos de pensão do País tratam a sustentabilidade apenas como uma aspiração na hora de decidir sobre os investimentos.
O diretor da consultoria, Gustavo Pimentel, observa que os fundos têm a intenção mas não descrevem como irão fazer isso. A pesquisa mostra ainda que 10% das fundações não apresentam estratégias de Evironmental, Socialand Governance (ESG); 16% tem texto básico e 11%, médio. Ele lembra que só 5% tem política prática em níveis altos, ou seja, explicam quais são os investimentos, falam dos projetos, adotam as práticas e o tipo de ferramenta que utilizam para fazer a análise.
O levantamento mostra ainda que a maioria dos fundos tem adesão às normas do Princípio de Investimento Responsável (PRI), mas falta a prática. “66% dos ativos geridos são de assets que assinaram o compromisso PRI, agora é só implementar. É preciso colocar isso dentro das decisões dos fundos”, destacou Pimentel ao jornal Brasil Econômico.
Ele ressalta, no entanto, que quando se pondera a avaliação da política pelo tamanho da carteira a situação fica um “pouco melhor”. “Fundos de pensão que têm os maiores volumes de ativos tendem a ter política de investimento avançada”, avalia.
Critérios na seleção
De acordo com o levantamento os gestores de fundos: Safra, HSBC, Banco do Brasil, Votorantim, Legg Mason, Bradesco, Santander, Itaú e Caixa — têm pelo menos um fundo com incorporação ESG, mas, não significa que adotem em outros fundos.
Para Pimentel, o que poderia contribuir para aumentar o número de fundos de pensão que olham mais atentamente para a questão da sustentabilidade seria colocar critérios na seleção dos gestores de investimentos, ou seja, exigir que esse segmento caminhe na mesma direção.
Certo “preconceito”
“A grande maioria dos fundos de pensão contrata outras gestoras e, na medida em que coloca como critério práticas de investimentos responsáveis, o mercado vai se adaptando e, isso permite um crescimento mais rápido porque vai criar competição entre as assets”, avalia, ressaltando ainda que os consultores de investimentos são a outra barreira que impede o avanço, pois eles não estão abertos a esta questão.
Além disso, ele lembra que existe certo “preconceito” dos gestores que consideram que investimentos responsáveis possam diminuir o retorno do investidor. “Existe discussão sobre o tema de longa data. O que se tem provado é que inserir essa questão não diminui o retorno e pode, até, contribuir para reduzir o risco e aumentar o retorno”, explica.
Faltam analistas
Outro dificuldade, segundo a pesquisa, é a falta de analistas dedicados a esta questão. “Para incorporar o critério é necessário ter expertise e foco. O ideal seria o fundo acompanhar dentro da empresa que está investido quais são as ações e estratégia adotadas neste campo da sustentabilidade”, avalia o executivo da Sitawi. Ele lembra que os fundos de pensão detém 13% do Produto Interno Bruto (PIB) e, que, a resolução 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN), determina que o segmento tenha uma política de investimentos para aplicações sustentáveis.
“Na medida em que coloca como critério práticas de investimentos responsáveis, o mercado vai se adaptando e isso permite maior crescimento do setor”, defende Gustavo Pimentel.
* Publicado originalmente no site EcoD.