Izabella Teixeira é bióloga formada pela Universidade de Brasília (UnB), é mestre em Planejamento Energético e doutora em Planejamento Ambiental. Trabalhou por 30 anos no IBAMA, onde passou por diversos cargos. Em 2013, recebeu o prêmio “Campeões da Terra” como liderança política, por medidas para redução do desmatamento da Amazônia. Foi Ministra do Meio Ambiente de 2010 a 2016. É Co-Presidente do International Resource Panel – ONU, Membro do BOARD da UN-DESA, Senior Fellow de Mudança do Clima e Uso do Solo – CEBRI.
Entrevista em vídeo IZABELLA TEIXEIRA
Depoimento realizado ao jornalista Dal Marcondes, da Envolverde
O debate sobre a bioeconomia e sobre as novas economias verdes passa por uma redefinição da relação do homem com a natureza. Essa perspectiva ganha posição estratégica pelo impacto da COVID. A apropriação dos recursos naturais da forma como vêm sendo realizada hoje está levando a uma perda de 80% da biodiversidade global. Isso deixa claro que temos de ter uma nova relação de apropriação dos recursos naturais. Além das questões relacionadas à exploração de biomassas, há os contextos e também a necessidade de uma economia climática e outras vertentes das economias verdes.
O brasil deve se apropriar de seus ativos de biodiversidade, da disponibilidade de água e territórios. Nossas commodities precisam ter valor agregado e isso é pela questão da natureza. As economias verdes são um grande guarda-chuva. Como o Brasil quer se apropriar dessas economias para resolver seus problemas de desenvolvimento e inclusão social. O país tem a melhor oportunidade para lidar com desafios de um mundo mais sustentável e mais juntos, que se prepare melhor para o enfrentamento climático.
O país está entre as dez maiores economias do mundo e tem de entender como combinar a economia da inovação e a economia do conhecimento.
O país está entre as dez maiores economias do mundo e tem de entender como combinar a economia da inovação e a economia do conhecimento. Como dotar a velha economia de um upgrade que permita a superação do que é obsoleto. Vamos deixar para trás o que é obsoleto ou vamos seguir nessa linha de retrocesso. Há bons exemplos de evolução e modernização de processos. Um exemplo dessa evolução é a indústria do etanol, que foi resolvendo os problemas ao longo do tempo e hoje já superou diversos de seus dilemas,
A ciência tem um papel importante no desenvolvimento de uma bioeconomia brasileira, temos de ter uma robustez de conceitos e buscar estruturar cadeias produtivas que levem ao equacionamento dos grandes dilemas e desafios do país e modelar uma bioeconomia que ajude o país a ir em frente. “Temos de ajudar o Brasil a modelar nossas jabuticabas”. Nossa bioeconomia tropical sé vai ter aqui, e precisamos trabalhar para compartilhar os bons resultados dos conhecimentos tradicionais para que sejam a base de modernas estruturas econômicas e lucrativas.
Temos de entender como abrasileirar a bioeconomia.
Temos de entender como abrasileirar a bioeconomia. Temos de compatibilizar os interesses nacionais com objetivos globais e as soluções vão incluir principalmente pequenos negócios que souberem aproveitar a cumplicidade cm a natureza e as tendências dos consumidores nesse sentido.
Temos de fazer mudanças profunda na forma de lidarmos com a natureza. Temos de trabalhar a governança de espaços naturais públicos e privados. Precisamos gerir a biodiversidade onde quer que ela se encontre. É preciso ter uma política estruturada de diálogo com populações indígenas, mas também tem de dialogar com fazendeiros sobre uso da terra, não apenas na produção de alimentos, mas também na produção florestal. E não só na Amazônia, na riqueza biológica da caatinga, do cerrado e de todos os biomas nacionais. Temos de conhecer o Brasil e acho que os brasileiros não conhecem o Brasil.
Nossa corresponsabilidade individual e coletiva nos impões um novo alinhamento com a contemporaneidade.
Precisamos entender como esses valores precisam dialogar, incentivar o desenvolvimento, mas sem perder a diversidade das culturas e das identidades regionais.
Debater a indústria 4.0 em São Paulo é tão importante quanto dialogar sobre as cadeias produtivas de quebradeiras de coco na Amazônia. O Brasil terá de ter ambição de provocar novas histórias baseadas no futuro.
É preciso romper a ideia de que a cadeia do desmatamento é a única maneira de colocar o país na agenda global. Temos de conter o retrocesso que é marcado por desigualdade e por profundas dívidas com as populações tradicionais. Precisamos tirar o Brasil da economia do crime na área ambiental.
Precisamos tirar o Brasil da economia do crime na área ambiental.
Modelos de negócios em bioeconomia podem ser industriais, como na produção de cosméticos, na indústria da moda, que é estratégica, na produção de alimentos, na nova química verde, mas entendendo que teremos soluções locais, regionais e nacionais. O Brasil tem de se voltar para seus valores e isso tem de ser inclusivo. Temos de redefinir os caminhos da nossa democracia.
A imagem de um país é avaliada por quatro fatores:
Estabilidade econômica – as novas economias vão no centro disso;
Qualidade da democracia;
Seguranças e garantias de todos os grupos populacionais;
Política ambientais, sem o que não conseguirá trabalhar de forma progressiva.
A sustentabilidade é o paradigma que está sendo recolocado no centro do processo civilizatório e econômico. Temos de estabelecer uma nova relação entre o rural e o urbano.
Parte importante da bioeconomia é descobrir como os benefícios irão se espalhar pelos contextos urbanos.
A sustentabilidade é o paradigma que está sendo recolocado no centro do processo civilizatório e econômico.
Como um país continental com essa biodiversidade toda vai trabalhas as relações de parcerias com os países vizinhos, para termos uma real cooperação internacional na América do Sul vamos precisar integrar nossos projetos de desenvolvimento.
Não haverá protagonismo de sociedade nenhuma sem o protagonismo dos setores privados, da ciência e dos governos. Essa transformação não virá apenas pela pressão dos ambientalistas, mas a ambição é muito maior, é uma transformação da sociedade.
Uma vertente moderna já está surgindo com o uso de aplicativos digitais para redução do desperdício de alimentos nas cidades. O Brasil precisa ser parte do esforço da inteligência artificial para a solução de problemas nas novas e revolucionárias novas economias. Na base dessas demandas tem uma transformação de valores e o país não pode ficar para trás.
A sociedade não está na rua à toa, há uma pressão da natureza. O Brasil demora para reagir por ter uma natureza abundante. Precisamos renovar e transformar a partir da criatividade e da diversidade do brasileiro.
A sociedade está pressionando e vamos ter uma grande campanha global sobre padrões de produção e consumo. A sociedade brasileira tem todos os instrumentos para buscar inovação, soluções e modelos de negócios capazes de alavancar o futuro mais sustentável. O Brasileiro tem uma grande capacidade empreendedora.
A ousadia do socioambientalismo brasileiro supera, inclusive, obstáculos impostos por governos. Temos ferramentas, precisamos nos conectar ao mundo. Temos capacidades que superam muitos países. Temos um moderno sistema bancário, uma enorme capacidade logística e nos confins da Amazônia a relação entre populações e militares é da melhor qualidade.
A ousadia do socioambientalismo brasileiro supera, inclusive, obstáculos impostos por governos.
Não presidamos falar inglês para ser transformadores. É preciso chegar ao “seo” Pedro e para a dona Maria que eles podem fazer muito em relação aos problemas do consumo, do clima e de novos negócios da bioeconomia. E as pequenas empresas tem uma enorme contribuição a dar, seja em negócios locais ou a participação nas cadeias de valor de grandes empresas.
O Brasil tem uma grande oportunidade com essas novas economias, temos de ir em frente! (Envolverde)