Estamos iniciando uma jornada para integrar as informações de sustentabilidade aos relatos financeiros. As ferramentas de trabalho que usamos são jovens: o Framework do International Integrated Reporting Council (IIRC – Conselho Internacional para Relato Integrado) tem um ano de vida, o primeiro questionário do Carbon Disclosure Project (CDP) tem 10 anos, até a mais antiga, as Diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), existem somente há 14 anos. Quando comparamos com as demonstrações contábeis que estão vigentes desde a década de trinta, que ainda são constantemente aprimoradas vemos o quanto ainda temos que caminhar.
Em relação aos desafios levantados ao longo do segundo ano do Grupo de Trabalho (GT) de Empresas Pioneiras em Relatório de Sustentabilidade, o White Paper que está sendo lançado endereça algumas das questões de forma objetiva e clara. Existe uma necessidade de integração das informações contidas nos diversos disclosures de uma empresa. Os relatos obrigatórios, como Formulário de Referência e o Form 20-F, são importantes fontes de informação de sustentabilidade para o mercado e devem estar alinhados com os demais disclosures, como, por exemplo, o site da empresa ou relatório de sustentabilidade. Para que a comunicação seja efetiva, é importante alinhar o calendário de relatos de sustentabilidade com a agenda dos investidores, sendo que o primeiro trimestre de cada ano é um período fundamental e repleto de informações obrigatórias norteadoras das análises.
As análises ESG (Environmental, Social, Governance) elaboradas pelo mercado visam mostrar como aspectos ambientais, sociais e de governança protegem e agregam valor ao negócio. Logo, ficou claro que a tangibilização e valoração das oportunidades geradas por melhorias na gestão da sustentabilidade ou dos riscos mitigados por esses fatores auxiliam as análises do mercado. Geralmente, os analistas de investimento fazem a avaliação usando suas próprias métricas, com base no potencial risco ou oportunidade do ativo avaliado para valorá-lo. Ter uma percepção da empresa, apresentando ela mesma informações valoradas de seus projetos é importante para orientá-los sobre o valor agregado do que se quer mostrar. O GT constatou que o processo de valoração de intangíveis é uma inovação, requer uma constante busca por novas métricas e na interpretação dos resultados, possibilitando a incorporação de fatores não financeiros ao valuation.
O foco na materialidade foi tema de discussão de diversos encontros. É consenso entre todas as ferramentas estudadas (GRI, IIRC, CDP, entre outras) que informação demais pode ser uma armadilha e deve-se comunicar apenas sobre o que é significativo e o que de fato gera valor, ou seja, o que é material. Essas ferramentas também estão alinhadas na necessidade de analisar os impactos da empresa na cadeia de valor e enfatizam a necessidade do raciocínio lógico em relação aos impactos da empresa e suas ações, tanto no ambiente interno como no externo.
Por fim, não podemos deixar de capturar o poder do processo de relato no estímulo tanto do engajamento de stakeholders, dentro e fora das companhias, quanto para uma melhoria no desempenho financeiro, social e ambiental. O processo de relato é um importante investimento para companhia, não um custo. Ficou claro que o processo para o Relato Integrado deve ser iniciado pela gestão integrada das ações do dia a dia e, com isso, o pensamento integrado da organização resultará em um processo de comunicação integrada. As áreas responsáveis pela comunicação de sustentabilidade devem dialogar, compreender o vocabulário dos demais departamentos dentro das suas organizações. A linguagem para o mercado precisa ser parecida com os relatórios que os analistas já estão acostumados, com texto enxuto e adicionando notas explicativas quando pertinente. A empresa enfrenta o desafio de saber o que comunicar e como comunicar o que o mercado deseja conhecer ou entender, para assim gerar uma comunicação efetiva, que desperte o interesse e que permita que eles assimilem a informação. Discutir como a informação é percebida por investidores, credores, e analistas do mercado é um passo importante para melhorar como ela é percebida por estes stakeholders.
Este grupo espera ter contribuído para esta discussão tão importante, trazendo suas experiências e dificuldades no que tange à comunicação da sustentabilidade para o mercado financeiro. Este ano, 25 empresas guiadas por 11 especialistas deram mais alguns passos nessa jornada, cujo objetivo final é um relato corporativo que integra o desempenho social, ambiental e financeiro, e que seja um reflexo da evolução na gestão das companhias. Isso, por sua vez, alimentará uma valoração mais precisa das empresas que consequentemente melhorará a alocação de capital do mercado financeiro. Um relato que impulsiona a mudança.
* Tatiana Botelho é Coordenadora do Programa de Relatos do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Catarina Bronstein é Coordenadora do Ponto Focal da Global Reporting Initiative (GRI) no Brasil. Juliana Lopes é Diretora do Carbon Disclosure Project (CDP).
** Publicado originalmente na edição de dezembro da Eco21.