Katherine Rivas, especial para a Envolverde –
Do glamour à consciência o Rio de Janeiro foi palco de mudanças no mundo na moda nesta terça-feira (8). Projetos para incubar empreendedores de marcas sustentáveis junto a um programa de upcycling (transformação de roupas descartadas em novos produtos) foram o marco de uma nova parceria de trabalho entre a rede de lojas C&A e o grupo Malha, movimento que conecta empreendedores, produtores e fornecedores de forma colaborativa em um espaço de coworking e cowesing.
Localizada em um galpão em São Cristóvão, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, a Malha nasceu há exatos 3 meses fruto do diálogo entre diversos empreendedores da Moda e os co-fundadores André Carvalhal e Herman Bessler. O objetivo inicial era fugir do padrão atual, criando um modelo no contexto da sustentabilidade 4D (social, cultural, ambiental e econômico), hoje com 50 marcas no galpão e 150 residentes a Malha voa para novos desafios: transformar o conceito do mercado brasileiro.
Mesmo com a sua localização em terras cariocas o movimento é nacional e preza por uma ideologia na qual cada um dos integrantes é importante, desde as costureiras e desenhadores até as grandes marcas.
A parceria com a rede C&A se fortalece em 4 frentes que serão desenvolvidas inicialmente no período de um ano. A primeira ação será incubar dez novas marcas segundo os padrões de inovação e sustentabilidade. Um edital de seleção nacional será aberto até o começo de janeiro para que empreendedores interessados se apresentem. A C&A e a Malha vão criar uma comissão curadora para escolher as marcas alinhadas à ideologia do projeto.
Os dez escolhidos terão um espaço para produzir e expor seus produtos assim como consultorias, estúdio fotográfico e cursos diversos. A primeira fase permitirá a incubação deste novo modelo de negócios e ao longo do processo integrará os participantes com propostas comerciais e pontos de venda, inclusive dentro da própria rede C&A. “Colocaremos 10 empreendedores vibrantes para construir novas marcas e formatos de economia, isso vai fazer a sociedade mudar e incentivar outras pessoas. Este efeito multiplicador nos enche de orgulho” afirma Paulo Correa, CEO da C&A.
A segunda frente inclui uma série de palestras e workshops que acontecerão a cada dois meses nas temáticas de inovação, produção local, sustentabilidade, economia colaborativa e moda com propósito. Outra iniciativa paralela será a realização de quatro cursos para a Escola da Malha com participação conjunta da C&A. A rede de lojas bancará 100 bolsas sociais para os cursos que serão distribuídas em ONG´s e em comunidades socialmente vulneráveis.
O glamour da economia circular
A Malha e a C&A querem ser pioneiras de uma nova tendência de economia circular na moda brasileira e estão desenvolvendo um polo de upcycling- a estratégia transforma resíduos e peças de roupa que seriam descartados em novos produtos- o projeto acontecerá nos próximos doze meses sob comando da estilista brasileira Gabriela Mazepa, do Re-Roupa.
Vencedora do British Council Fashion Awards, Gabriela Mazepa transforma peças com defeito, fora de estação, e tudo o que existe ao seu redor em novos produtos. Ela conta que iniciou no upcycling há 10 anos de forma intuitiva com doações de roupa das pessoas. Hoje ela tem sua própria coleção e ministra oficinas diversas do assunto.
Gabriela vai ressignificar peças de roupa da C&A. As doações serão uniformes antigos dos funcionários e roupas de clientes e fornecedores, a rede de lojas definirá a ação até dezembro.
O polo de Ucycling será formado até o final do ano e o projeto inicia em janeiro, junto a dez costureiras das comunidades próximas a São Cristóvão. Estas serão treinadas pela estilista e trabalharão em conjunto durante um ano na produção das peças. A primeira coleção será lançada a nível nacional em junho na C&A com o selo da Malha.
Para Gabriela o Brasil tem um longo caminho pela frente, mas este é um grande passo no contexto da moda e economia circular. Hermam Blesser da Malha concorda com a estilista e acredita que apesar da crise esta é uma oportunidade para instalar novas saídas para o crescimento. “Sem dúvida economia circular e colaborativa são alternativas para inovar e voltar a crescer de forma sustentável. Não crescer por crescer e sim para sustentar” comenta Blesser.
Paulo Correa considera que chegou o momento da C&A patrocinar e tomar a iniciativa no contexto destas novas economias, porém acredita que o maior desafio será viabilizar algo economicamente e que seja interessante ao consumidor “Temos muitos fornecedores que produzem resíduo e não tem destino claro, conectaremos eles com o projeto. Precisamos conscientizar o consumidor para que compre não só porque é upcycling e sim também porque é bonito, e vai fazer este se sentir feliz e confiável” diz.
A C&A utiliza 27% de algodão orgânico nas suas produções, a maioria na categoria bebê, o compromisso da instituição é que até 2020 todos seus produtos sejam sustentáveis. A falta de incentivo ao uso de orgânicos pela indústria brasileira é apontado por Correa, para ele o Brasil ainda usa algodão orgânico só para produção artesanal.
A conscientização dos consumidores da C&A sobre moda sustentável acontecerá em 2017, de forma autêntica e realista, começando das redes sociais até as lojas. (#Envolverde)