Por Camila da Silva Pereira * –
O mercado de trabalho está passando por uma transformação significativa, impulsionado pela crescente relevância das questões ambientais, sociais e de governança. Com o avanço da transição energética e o estabelecimento de novas metas de descarbonização, a demanda por profissionais qualificados para atuar em “empregos verdes” tem superado a oferta disponível no mercado. Essas ocupações são fundamentais para a implementação de políticas de meio ambiente e responsabilidade social, visando a redução do impacto ambiental das atividades empresariais e a adaptação dos modelos de produção aos padrões ESG (Environmental, Social and Governance – Ambiental, Social e Governança, em tradução livre).
Empregos verdes englobam funções que promovem a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente, desempenhando um papel crucial no processo de transformação da economia. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), essa modalidade de emprego é considerada uma tendência futura, contribuindo para os esforços globais de mitigação das mudanças climáticas e redução das emissões de carbono, sendo essencial que tanto as políticas públicas quanto as iniciativas privadas se alinhem para promover a formação e capacitação de profissionais nessa área, garantindo uma transição justa e inclusiva para uma economia sustentável.
Esta transição está se tornando cada vez mais evidente no contexto do mercado de trabalho, já que empresas estão incorporando critérios sustentáveis em suas operações diárias, adotando práticas que vão desde a gestão dos recursos naturais até a promoção de uma cultura organizacional focada na sustentabilidade, implementando ações para cada uma das vertentes dos padrões ESG.
Empresas sustentáveis implementam uma série de políticas internas que promovem uma cultura de responsabilidade ambiental. Desde campanhas de conscientização até decisões estratégicas, como a adoção de matérias-primas renováveis, sendo diretrizes fundamentais para integrar a sustentabilidade aos processos organizacionais. Tais práticas não apenas fortalecem o compromisso da empresa com a proteção ambiental, mas também garantem a conformidade com normativas jurídicas e regulatórias.
Nesse contexto, o setor jurídico representa pilar de sustentação à crescente procura e aumento de vagas para especialistas em ESG, pois é responsável por desenvolver programas de compliance e negociar acordos coletivos que atendam às novas exigências de sustentabilidade, por exemplo. Profissionais capacitados ajudam a minimizar riscos legais e a preparar as empresas para auditorias de sustentabilidade, garantindo que as práticas não apenas cumpram a lei, mas também demonstrem um compromisso com a responsabilidade social em relação ao meio ambiente.
Empresas possuidoras de greens skills (habilidades verdes) adotam as práticas de três pilares distintos, mas que se complementam: fatores ambientais ao promoverem ações visando diminuir as emissões de gases de efeito estufa e maximizando a eficiência energética, fatores sociais ao adotarem padrões trabalhistas de igualdade salarial, combate ao preconceito racial e o fomento à igualdade de gênero, além de um sólido combate ao assédio moral e sexual no ambiente de trabalho e, por fim, fatores de governança ao definirem um sistema corporativo alinhado a estratégias de longo prazo de uma empresa, priorizando carreiras que contribuam para um futuro mais verde.
O Brasil, que representa 10% dos empregos verdes no mundo, conquistou a segunda posição global em termos de oferta de empregos na área de energia limpa, registrando um notável crescimento nas indústrias de energia solar, hidrelétrica, biocombustíveis e agricultura.
Os empregos verdes não apenas se relacionam com a sustentabilidade, mas também com a reputação das empresas, promovendo uma imagem positiva e diferenciando-as através do grande potencial de expansão, à medida que projetos de desenvolvimento sustentável se tornam mais difundidos em suas diversas áreas.
Em meio ao cenário desafiador do mercado de trabalho global, caracterizado por demissões em larga escala e uma desaceleração nas contratações, o segmento de empregos sustentáveis continua a se expandir. Nesse contexto, investir na formação e orientação de profissionais para o desenvolvimento dessas competências não apenas pode acelerar a transição para uma economia mais sustentável, mas também gerar efeitos positivos no mercado de trabalho e na economia em geral.
Empresas e colaboradores devem buscar um alinhamento estratégico que promova pautas de sustentabilidade e relações de trabalho produtivas e responsáveis. Essa sinergia deve observar princípios sociais, ambientais e éticos, com o objetivo de integrar esses temas nas práticas empresariais. Dessa forma, pode-se estabelecer uma consonância entre as práticas de negócios e as relações laborais atuais e do futuro, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da sociedade como um todo.
*Camila da Silva Pereira é advogada no Marcos Martins Advogados