Por Lyndal Rowlands, da IPS –
Nações Unidas, 16/12/2016 – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, informou aos membros do Conselho de Segurança sobre a existência de informes confiáveis que denunciam a realização de execuções sumárias na cidade síria de Alepo. Nem as palavras de Ban na reunião de emergência, realizada no dia 13, nem a muito grave situação na Síria conseguiram romper as divisões dentro do máximo órgão de segurança da ONU, onde o embaixador russo, Vitaly Churkin, chegou a dizer que a Secretaria Geral poderia estar sendo usada como instrumento de um “jogo cínico”.
Ban afirmou que, enquanto o Conselho de Segurança estava reunido, “continuava havendo mortos e feridos em um ritmo brutal”. E acrescentou que “o escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos recebeu informes sobre civis, entre os quais mulheres, meninas e meninos, cercados e executados, em quatro bairros”. A sessão do Conselho de Segurança aconteceu quando as forças de Damasco recuperavam o controle de Alepo. De fato, em meio à reunião, Churkin informou que “o governo sírio tem sob controle o leste da cidade”.
O secretário-geral também disse que “as autoridades sírias se negam de forma sistemática à nossa presença no terreno para verificar diretamente as denúncias, mas isso não significa que os informes que recebemos não sejam verossímeis”. Mas Churkin respondeu às declarações de Ban, bem como às de outros membros do Conselho, e os acusou de propagarem “notícias falsas”. Após a reunião, o embaixador afirmou que “cobrem as crianças pequenas com pó para apresentá-las como vítimas de bombardeios”.
Em agosto, o vídeo e as fotografias do pequeno Omran Daqneesh, de cinco anos, manchado de sangue e coberto de pó em razão do bombardeio que destruiu sua casa, deram a volta ao mundo. Em outubro, o presidente sírio, Bashar al Assad, afirmou que as fotos foram manipuladas e eram falsas. Mas sua declaração parece ir contra as de sua esposa, Asam, que declarou a um canal russo que o ocorrido com Aylan Kurdi e Omran Daqnesh era uma “tragédia”.
Churkin começou seu discurso se referindo à “propaganda”, à “desinformação” e às “notícias falsas”, mas parece que o representante permanente da Síria, Bashar Jaafari, também teria incorrido nessa mesma prática na reunião. Ao discursar, Jaafari mostrou imagens, entre elas uma fotografia na qual, segundo ele, havia efetivos das forças sírias ajudando a população civil, mas de acordo com o jornalista sírio, Hadi Alabdallah, informou pelo Twitter, uma das fotos fora feita no Iraque.
Além de Rússia e Venezuela, a maioria dos membros do Conselho de Segurança presentes à reunião compartilharam da preocupação de Ban em relação à situação da população civil de Alepo. “Escolho acreditar no secretário-geral quando vem a este órgão e nos diz que há informes confiáveis sobre as atrocidades cometidas”, afirmou Gerard van Bohemen, representante permanente da Nova Zelândia na ONU, que também respondeu à acusação de Jaafari de que a ONU não podia verificar esses informes apontando para o governo sírio, que nega a entrada de seus observadores.
“A ONU não está no terreno, a ONU não pode verificar, por isso de nada serve vir nos dizer, como você fez, que realizou todos esses informes e investigações porque tampouco tem alguém ali para controlá-lo”, apontou Van Bohemen. Ban exortou as forças favoráveis a Assad a “garantirem aos que se renderem ou forem capturados tratamento humano e de acordo com o direito internacional”.
O governo sírio optou por um caminho de “vitória total e inflexível”, bem diferente dos esforços da ONU, que procurou encontrar uma solução política para o conflito durante vários meses de conversações que progrediam e retrocediam, acrescentou Ban. “A história não nos absolverá facilmente, mas esse fracasso nos obriga a fazer ainda mais para que nossa solidariedade chegue ao povo de Alepo neste momento”, afirmou.
Após a reunião o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, disse aos jornalistas ser pouco provável que a intensificação dos combates levem à paz e que o conflito “pode continuar durante muitos anos”. “Este é, de fato, o melhor momento para insistir na necessidade de se reiniciar um processo de paz”, ressaltou. Envolverde/IPS