Por Lyndal Rowlands, da IPS –
Nações Unidas, 14/12/2016 – Uma das “prioridades claras” do próximo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, após assumir o cargo em janeiro de 2017, será concretizar a igualdade de gênero dentro do fórum mundial. Guterres, empossado formalmente no cargo em ato realizado no dia 12, na sede da ONU, em Nova York, destacou que a igualdade de gênero será uma parte importante da agenda em seus primeiros cem dias no cargo.
“Nas designações que farei, e logo anunciarei as primeiras, verão que a paridade de gênero será uma prioridade em todos os setores da ONU”, afirmou aos jornalistas depois da cerimônia. Guterres foi eleito em outubro com votos dos 15 integrantes do Conselho de Segurança para ocupar o cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Sua designação não agradou quem esperava que uma mulher substituísse Ban Ki-moon, 8º secretário-geral da organização.
Entretanto, nas sucessivas instâncias de votação, os membros da ONU não levaram a sério colocar uma mulher à frente dessa organização com 70 anos de história, apesar de haver muitas e muito bem qualificadas. Guterres, como muitas e muitos de seus adversários, incluiu em sua campanha a plataforma da igualdade de gênero, e se apresentou desejoso de demonstrar que, apesar de ser homem, está realmente comprometido em defender as mulheres no sistema da ONU.
“As Nações Unidas se colocaram como objetivo conseguir a paridade de gênero até 2000”, recordou à IPS Anne Marie Goetz, professora do Centro de Assuntos Globais, na Universidade de Nova York. “Esse objetivo foi fixado em 1993, e, 23 anos depois, o progresso é patético, desigual e, às vezes, sem avanços”, acrescentou. E, apesar do compromisso do atual secretário-geral, Ban Ki-moon, os candidatos homens ficaram com os cargos mais altos em 2015 e 2016.
Gueterres terá a responsabilidade de realizar várias designações de alto nível, mas Goetz apontou que os Estados membros também são responsáveis pela falta de mulheres em cargos elevados. “O secretário-geral depende das sugestões que fazem os Estados membros sobre candidatos qualificados para altos cargos”, pontuou Goetz, que também integra a Campanha Para Eleger Uma Mulher Para a Secretaria-Geral.
Segundo versões da imprensa, uma das primeiras designações de Guterres será a ministra de Ambiente da Nigéria, Amnina Mohammed, como secretária-geral adjunta. “A designação de Mohammed é uma excelente opção, mas não um êxito específico em matéria de igualdade de gênero na ONU, porque é um cargo já ocupado por mulheres”, indicou Goetz.
No entanto, a professora explicou que esse cargo tem sido ocupado por mulheres não só no que depende da designação direta dos Estados membros, mas porque “é mais comum elas ocuparem cargos subordinados ou de segunda categoria do que os que estão no pico do poder”. Mas a pressão dos membros mais poderosos da ONU, para colocar seus candidatos em altos cargos, não deve estar acima de sua qualificação profissional, afirmou à IPS Natalie Samarasinghe, diretora executiva da Associação das Nações Unidas.
“Enquanto gênero e geografia e outras formas de diversidade são incrivelmente importantes, o mérito deveria ser a principal consideração em cada designação”, afirmou Samarasinghe, que também representa a campanha Um Para Sete Bilhões, que defendeu um processo de eleição do secretário-geral mais aberto e transparente. E recordou que “várias resoluções da Assembleia Geral deixam claro que nenhum país, nem grupo de países, deve monopolizar altos cargos. Os Estados, em especial os que acreditam que certos cargos lhes correspondem, devem apresentar candidatos de calibre. Não devem procurar endossar figuras não qualificadas ou inconvenientes na ONU”.
Entretanto, apesar das resoluções da Assembleia Geral, alguns altos cargos costumam ficar em mãos de cidadãos dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: China, França, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Rússia. Por exemplo, o atual responsável pelas missões de paz é o francês Hervé Ladsous, e circulam rumores na ONU indicando que a China, que nos últimos tempos aumentou sua contribuição de efetivos, tem em vista esse cargo para 2017.
Além disso, também se comenta que o britânico David Milliband será candidato a ocupar o cargo de administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que atualmente é dirigido pela ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark. Milliband, atualmente diretor da organização Comitê Internacional de Resgate, poderá ser qualificado para o cargo, mas isso significará que a maior agência de desenvolvimento da ONU estará encabeçada novamente por alguém de um país rico. Envolverde/IPS