O relatório “Ondas do lucro: como a indústria do turismo se aproveita da caça aos golfinhos em Taiji” aponta ainda que até adestradores participam das ações de captura com o objetivo de orientar a seleção dos filhotes mais adequados para o adestramento.
Essa indústria, cruel para os golfinhos, se mantém ativa por meio da venda de ingressos. O estudo revela que as empresas Trip.com, Klook, Traveloka, TUI, GetYourGuide e Groupon estão entre as que ainda disponibilizam entradas para as atrações turísticas que utilizam golfinhos provenientes dessa caçada que ocorre, anualmente, no período de setembro a março.
“Golfinhos são inteligentes, socialmente complexos, sencientes e capazes de interpretar o que está acontecendo no ambiente, sentindo emoções como dor e medo. A temporada de caça é um período insuportável para os animais da região porque, além de lidar com a perda de membros do grupo, estão sujeitos à crueldade física e psicológica por estarem em um ambiente hostil, com ruídos das embarcações, redes de pesca e água avermelhada por conta do sangue de outros golfinhos”, alerta Júlia Trevisan, coordenadora de Vida Silvestre da Proteção Animal Mundial.
Júlia chama a atenção ainda que, se não bastasse esse cenário trágico, os golfinhos capturados ainda vão continuar sofrendo ao longo da vida em pequenos tanques com cloro e sem a possibilidade de realizar comportamentos naturais da espécie.
Rotina cruel e intensa
“Os animais que são mantidos nos parques temáticos passam por uma rotina de treinamento bastante cruel e intensa. Muitas vezes são privados de comer para que o alimento seja a recompensa do treino. Ao longo do processo, esses animais aprendem a pular em argolas, erguer os treinadores pela nadadeira fora da água e a interagir com humanos recebendo alimento ou posando para fotos. Os golfinhos são animais silvestres e, por conta disso, não interagem naturalmente com humanos. É preciso lembrar que a nossa presença é um fator de ameaça e estresse para eles”, afirma.
A CEO da Action for Dolphins, Hannah Tait, explica que as empresas estão alertadas sobre a necessidade de implementar políticas de bem-estar animal. “Esse relatório expõe quais as empresas de viagens que estão lucrando com esta prática ultrapassada e brutal”, avalia.
As duas organizações apelam às empresas citadas para que tomem medidas imediatas, implementando políticas robustas de bem-estar animal e cessando a promoção de todas as atividades de entretenimento com golfinhos.
Um levantamento da Proteção Animal Mundial mostra que 79% dos viajantes preferem ver golfinhos na natureza em vez de em cativeiro. E 82% defendem que as empresas não devem vender ingressos para atividades que causem sofrimento aos animais selvagens. Após o lançamento da campanha e do minidocumentário “Enganado por um sorriso” Minidocumentário “Enganado por um sorriso” (youtube.com), que mostra os bastidores do entretenimento com golfinhos, a Expedia parou de vender ingressos para esse tipo de atração.
O que é a caçada de golfinhos em Taiji
A captura dos golfinhos é feita por meio de uma barreira sonora que desorienta os golfinhos, fazendo com que grupos nadem em direção a enseada de Taiji. Os animais que não são destinados às indústrias de entretenimento são abatidos, manchando de vermelho as águas do mar. A prática se torna uma tortura porque esses mamíferos aquáticos – que quando não são mortos, acabam vendo integrantes do seu grupo sangrarem até a morte – são seres sencientes, ou seja, assim como os humanos, tem a capacidade de sentir dor, medo e empatia. Outra prática cruel é a separação de mães e filhotes por meio de cordas. Ambientalistas apontam que adestradores de golfinho costumam acompanhar as ações, para selecionar os melhores filhotes para atrações turísticas. “Além dos problemas de maus tratos mencionados e da questão de segurança das pessoas envolvidas na atividade turística, existe uma preocupação ambiental com a caça em Taiji. A retirada em massa de animais de um ecossistema causa desequilíbrio no ambiente ao perturbar a rede de interação ecológica entre os organismos. Golfinhos são predadores de topo de cadeia e sua retirada altera toda a teia alimentar”, alerta Júlia.