Um pouco da Amazônia, uma parte do Cerrado, outra da Mata Atlântica e uma porção do Charco boliviano, assim é o Pantanal. Sua paisagem é conhecida por ser um mosaico de ecossistemas com muita água. É considerado uma das maiores planícies de inundação contínua do planeta e também um dos biomas brasileiros com maior fonte de vida de diversas espécies animais e vegetais.
Estima-se que o bioma abriga 656 tipos diferentes de aves, 325 de peixes, 159 de mamíferos, 98 de répteis, 53 de anfíbios e, ainda 3,5 mil tipos de plantas. Somando tudo são 4,7 mil espécies que vivem na região, sendo duas endêmicas e várias ameaçadas de extinção, como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará e a arara-azul. Mesmo com imensa relevância ecológica, o brasileiro sabe pouco sobre o Pantanal.
Como comemoração ao 12 de novembro, Dia do Pantanal, o WWF-Brasil criou infográficos para apresentar um pouco desse bioma e mostrar sua importância para o Brasil e o mundo, as ameaças que pairam sobre a região e as alternativas para protegê-lo.
Embora seja o bioma com a menor extensão territorial no Brasil, o Pantanal é um dos mais exuberantes e o menos afetado: ainda mantêm 85% de sua cobertura vegetal nativa. A maior parte dos mais de 15% suprimidos foram alterados pela ação humana. As principais ameaças à conservação do Pantanal são o monocultivos de soja, cana-deaçúcar e eucalipto, as erosões do solo, a criação extensiva de gado em pastos plantados e a implementação de obras de infraestrutura, por exemplo, barragens e hidrovias.
Não é à toa, que o Pantanal é considerado Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera pela UNESCO. Essas reservas, declaradas pela Organização das Nações Unidas (ONU), são instrumentos de gestão e manejo sustentável integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizados.
São 170.500,92 km² totais – 62% da área está no Brasil distribuída pelos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, 20% está na Bolívia e 18% no Paraguai -, sendo que a porção do Pantanal brasileiro equivale à soma das áreas de quatro países europeus: Bélgica, Suíça, Portugal e Holanda.
O ciclo das águas do Pantanal
A Planície do Pantanal, que também se estende pela Bolívia e Paraguai, possui seus limites marcados por variadas formações de chapadas com até 1 mil metros de altitude. A depressão geográfica da parte mais baixa varia de 80 a 150 metros de altitude e é cortada por rios pertencentes à Bacia do Alto Paraguai, onde a vegetação predominante é a de Cerrado. O que significa que qualquer impacto no Cerrado afeta de forma drástica o Pantanal.
As planícies têm declive tão pequeno que retêm as águas da chuva e as águas que descem nas cabeceiras nos rios pantaneiros. O volume é impressionante: são 180 milhões de litros despejados por dia nos rios pantaneiros, dentre os quais o Cuiabá, o São Lourenço, o Aquidauana e o Paraguai.
No período da cheia, o aguaceiro eleva o nível das baías permanentes; os rios transbordam, alagando 80% dos campos no entorno, transformando a região em um impressionante lençol d´água, e os morros isolados sobressaem como verdadeiras ilhas cobertas de vegetação, onde animais buscam refúgio contra a subida das água.
Ameaças no Pantanal
Apesar da exuberância das paisagens, esta importante região sofre ameaças comuns nos três países ocasionadas pelas atividades de maneira não responsável. Até o momento, apenas 3,19% do Pantanal brasileiro encontra-se protegido por Unidades de Conservação, dos quais 2,88% correspondem a unidades de proteção integral, o que coloca ainda mais em risco o bioma.
As fragilidades a que estão expostas a região do Pantanal é o tema do estudo do WWF-Brasil sobre monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do Alto Paraguai (BAP), que avaliou que a região já perdeu aproximadamente 50% de cobertura original.
Restam ainda 85,1% de cobertura vegetal na planície e de 39,5% no planalto. A pecuária segue como forma de uso preponderante, mas vem perdendo espaço para a agricultura, que cresce sobre antigas áreas de pastagem. As terras plantadas com eucalipto aumentaram em 61 km2, entre 2012 e 2014, segundo o estudo, inclusive sobre áreas antes ocupadas por agricultura e pastagens.
Sem falar que as paisagens pantaneiras estão em constante risco pelas obras de infraestrutura, como a hidrovia Paraná-Paraguai, meta dos países da Bacia do Rio da Prata, desde os anos 1990, para tornar os rios Paraguai e Paraná canais de navegação industrial. Para isso, seriam necessárias intervenções de engenharia, derrocamento e dragagem ao longo 3.400 km desde o Brasil (Cáceres) até o Uruguai (Nova Palmira).
O WWF do Brasil, da Bolívia e do Paraguai têm uma visão integrada de conservação para o Pantanal, como forma de mitigar os impactos identificados em toda e qualquer região do bioma, seja no Planalto ou na Planície.
Segundo Julio César Sampaio, coordenador do Programa Cerrado Pantanal, “o trabalho desenvolvido busca envolver a conservação e a proteção dos ecossistemas aquáticos, o desenvolvimento de cadeias produtivas, o planejamento sistemático do território e o desenvolvimento de hábitos responsáveis de consumo”.
Sampaio explica que o trabalho consiste, por exemplo, na realização de estudos de impacto sobre o uso do solo, além do cálculo da pegada ecológica, o monitoramento da cobertura vegetal e o apoio à gestão de unidades de conservação, principalmente, estimulando a criação de Reservas Privadas do Patrimônio Natural. “Também ajudamos a conservar nascentes e áreas degradadas e buscamos estimular a produção sustentável de carne com a promoção de boas práticas para o fortalecimento da pecuária sustentável, entre diversos outros projetos”, ressalta.
O Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal
O Pacto é uma aliança na qual a sociedade civil, o setor privado (usuários de água) e o poder público se comprometem a promover o desenvolvimento sustentável por meio da formação de parcerias e a gestão compartilhada de ações e atividades, sempre com o foco na recuperação e conservação das Cabeceiras – rios Jaurú, Sepotuba, Cabaçal e Paraguai, responsáveis pelo fornecimento de 30% das águas do Pantanal – uma área que abrange 25 municípios de Mato Grosso. A meta é recuperar 700 quilômetros de rios, pelo menos 70 nascentes e a mata ciliar de 23 mil hectares com 11 milhões de mudas, o que gerará mais de mil empregos.
Até o momento, a parceria entre as diversas entidades do Pacto possibilitou algumas conquistas, como por exemplo a instalação de 40 biofossas na zona rural da área abrangida, evitando que dejetos humanos cheguem aos rios e melhorando a qualidade de vida dos produtores que passam a ter saneamento básico e um biofertilizante para regar árvores frutíferas.
Outro resultado positivo é que os municípios de Tangará da Serra e Mirassol d’Oeste foram selecionados pela Agência Nacional de Águas (ANA) para receber recursos financeiros que serão destinados à implantação de projetos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), por meio do Programa Produtor de Água. Assim, em breve, os produtores dos dois municípios serão remunerados financeiramente pela proteção das nascentes e dos recursos hídricos locais, pela conservação das matas ciliares e pela implementação de boas práticas agropecuárias e do manejo do uso do solo.
Cada entidade que adere ao Pacto se compromete voluntariamente a implementar em sua localidade pelo menos três ações que preservem as nascentes e os rios, como por exemplo: a recuperação de áreas degradadas, a adequação ambiental de estradas rurais e estaduais até 2020, a melhoria do saneamento básico, a implantação de biofossas nas zonas rurais e melhoria da gestão de resíduos sólidos e da gestão de recursos hídricos. (WWF Brasil/ #Envolverde)
Acesse os infográficos “Pantanal: Reino das Águas” e “Pantanal: Soluções Sustentáveis“.
* Publicado originalmente no site WWF Brasil.