Política Pública

Insegurança agrava escassez de alimentos

Por Lynda Rowlands, da IPS – 

Nações Unidas, 2/2/2017 – Meninas e meninos menores de cinco anos morrem por falta de alimentos em algumas áreas do lago Chade, segundo denúncia de Toby Lanzer, secretário-geral adjunto da Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenador humanitário regional para o Sahel. “Vi adultos tão fracos e sem energia que não conseguiam ficar em pé, e um povo inteiro sem crianças de dois a quatro anos. Quando perguntamos onde estavam, fiquei espantado ao nos dizerem que morreram, de fome”, contou.

Essa foi a situação que Lanzer encontrou ao visitar o povoado de Bama, no norte da Nigéria, em 2016. Ele descreveu a realidade da região em um debate com dirigentes políticos, diplomatas e jornalistas no Instituto Internacional para a Paz, um grupo de estudos com sede em Nova York, no dia 25 de janeiro. A crise deixou milhões de pessoas morando no limite da bacia do lago Chade, devido a uma combinação de pobreza extrema, mudança climática e extremismo violento, destacou.

Quatro países, Chade, Camarões, Níger e Nigéria rodeiam o lago, que diminuiu de forma drástica desde a década de 1960. “Na área do lago Chade, há atualmente mais de dez milhões de pessoas, que poderiam ser classificadas como estando em uma situação desesperada com necessidade de assistência vital”, destacou o representante da ONU, acrescentando que, entre elas, há 7,1 milhões em condição de “insegurança alimentar grave”.

A violência na região contribuiu para a escassez de alimentos, apontou Lanzer, em resposta a uma pergunta da IPS. “Cerca de 85% da população nessa parte do mundo depende do clima, da agricultura e da criação de animais, é uma comunidade de agricultores pastores”, respondeu. E explicou que “sofrem restrições de movimento, não podem plantar e as comunidades do lago Chade também perderam as últimas três temporadas de colheitas; se não se plantar, não se colhe e, se não se colhe, não se come. Se o gado ou as cabras e animais não se movem, as vacas adoecem e morrem, se perde o sustento”.


Toby Lanzer, secretário-geral adjunto da ONU e coordenador regional humanitário para o Sahel. Foto: L. Rowlands/IPS

 

Lanzer, cujo trabalho humanitário o levou ao Sudão, Sudão do Sul, Timor Leste e República Centro-Africana, ressaltou que a pobreza na região do lago Chade é das piores que já viu. “Não creio ter visto antes aldeias onde as pessoas não têm nem chinelo de plástico”, destacou. Também observou que a violência atual na região, por parte do grupo extremista Boko Haram, entre outros, é um dos maiores fatores que perturbam a vida da população local.

Por sua vez, Els Debuf, assessora e diretora para Assuntos Humanitários do Instituto Internacional para a Paz, afirmou que a crise no lago Chade é uma das mais graves, mas também uma das menos denunciadas. Apesar da extrema pobreza, as comunidades também abrigavam refugiados e pessoas deslocadas, acrescentou. “Cerca de dois milhões e meio de refugiados e deslocados, a vasta maioria dos quais meninos e meninas, encontraram refúgio na região graças às comunidades locais, que estão entre as mais pobres e vulneráveis do mundo”, destacou.

Os governos da Noruega, Nigéria e Alemanha organizam, para o dia 24 deste mês, em Oslo, uma conferência de doadores para reunir fundos e enfrentar a crise na Nigéria e na região do lago Chade. Envolverde/IPS