Saint John’s, Antiga e Barbuda, 31/3/2015 – Fomentar a resiliência e conseguir cidades mais sustentáveis, mediante a redução do consumo de água e energia, ao mesmo tempo em que se melhora a qualidade de vida e a participação da comunidade, é o objetivo que se propõe o Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Organização dos Estados Americanos (OEA). O chefe da seção de Comunidades Sustentáveis, Risco e Mudança Climática da OEA, Richard Huber, conversou com a IPS nesta cidade, capital de Antiga e Barbuda, sobre eficiência energética e energias renováveis com vistas a concretizar um país sustentável.
IPS: O que é um país sustentável?
RICHARD HUBER: É um país que procura limitar as emissões de dióxido de carbono de forma significativa. Por exemplo, a Costa Rica trata de se converter em um país com zero de emissões, e busca isso obtendo a maioria de sua energia em fontes renováveis, a mais notável a hidrelétrica, mas também solar, eólica e bicombustíveis. Então, um país sustentável em matéria de energias renováveis e eficiência energética será aquele que plantar muitas árvores para capturar carbono, cuidar de seus arrecifes de coral e seus ecossistemas de mangues, os mais importantes mediante programas de parques nacionais e áreas protegidas e sendo muito, muito eficiente para que, digamos em 2020, seja um país com zero em emissão de carbono.
IPS: Como os pequenos Estados insulares do Caribe podem conseguir a sustentabilidade ambiental?
RH: Primeiro deverão que ter um sólido programa de áreas protegidas e parques nacionais, como trabalhamos agora com a Área de Gestão Marinha Oriental, bem como a Bahía Cades, no sul, dois grandes parques que incluem quase 40% do entorno marinho. Na verdade, há a iniciativa Desafio do Caribe em muitos países caribenhos, que começou com o primeiro-ministro de Granada e por meio da qual muitos, muitos deles se comprometem a ter 20% de suas áreas marinhas bem administradas do ponto de vista da proteção e conservação até 2020. Protejam sua biodiversidade. É uma defesa muito boa contra furacões e outras tempestades. Os países que cuidam de seus mangues, sua água potável, seus pântanos herbáceos e suas terras úmidas em geral são os que menos sofreram o impacto do tsunami que golpeou o Pacífico sul. Protejam seus ecossistemas. Em segundo lugar, consigam uma grande eficiência energética. Tratem de promover os automóveis híbridos, veículos com um uso eficiente do combustível e tenham um ótimo programa de transporte público sustentável. Este, de fato, é um grande equalizador da pobreza, ajuda os pobres a chegarem ao trabalho de forma confortável e rápida. Então, ser eficiente no uso da energia e proteger sua biodiversidade são duas coisas importantes e fundamentais para um país sustentável.
IPS: Quais exemplos de sustentabilidade ambiental observou em Antiga?
RH: Percorri junto com Ruth Spencer, consultora que trabalha para ter dez programas de usinas de eletricidade fotovoltaicas nos centros comunitários, nas igrejas e em outros lugares. Fomos ao Projeto Precisão, que não só tem 19 megawatts de energia fotovoltaica, que acredito ser mais eletricidade do que necessitam, como alimentam a rede. Isso é menos de zero carbono porque, na realidade, produzem mais eletricidade do que usam. Também há uma tremenda oportunidade para Antiga no cultivo hidropônico. O problema, por exemplo, com o turismo é que depende de o fornecimento estar disponível quando necessário, e esse é o tipo de coisa que a hidroponia e outras novas tecnologias, bem como a agricultura mais eficiente e sustentável, pode conseguir. A ideia seria conseguir que Antiga e Barbuda fossem mais eficientes do ponto de vista alimentar até 2020.
IPS: Poderia dar exemplos de projetos da OEA no Caribe a esse respeito?
RH: Há a segunda etapa do projeto de comunidades sustentáveis na América Central e no Caribe. Na primeira tivemos 14 iniciativas e nesta dez. Em Dominica apoiamos uma central hidrelétrica, miniusinas de energia hidráulica e também capacitamos e difundimos essa possibilidade entre as populações da bacia dos rios que podem ter sua própria central hidrelétrica em sua comunidade. Outro projeto muito interessante é o de Granada, onde 90% das aves para criação eram importadas porque são muito caras de alimentar. Havia uma iniciativa de um lixão sanitário que cedeu a terra e agora uma pessoa percorre os mercados de peixe recolhendo os dejetos da pesca que antes eram jogados fora, os leva a uma unidade onde são cozidos para fazer alimento para a avicultura. Agora, são importados 70% das aves, em lugar de 90%. E não só isso: a fonte de energia é óleo de motor.
IPS: Qual conselho daria aos países do Caribe em matéria de energias renováveis e eficiência energética?
RH: Primeiro é que se necessita de um entorno habilitador para introduzir as energias renováveis, neste caso principalmente a solar e a eólica. Aqui mesmo, na praia Jabberwock, há quatro moinhos de vento históricos que agora estão em ruínas, mas o fato é que aqui sempre houve muito vento, e continua havendo, e esses montes ao longo da praia seriam um excelente lugar para desenvolver a energia eólica. Também há muito terreno, por exemplo, em volta do aeroporto, uma tremenda quantidade de sol e um espaço onde é possível instalar painéis solares. Começamos a ter projetos desse tipo nos Estados Unidos, de 150 megawatts, que creio ser mais do que a quantia usada em toda Antiga e Barbuda. Nessas grandes usinas, em especial em áreas que já contam com segurança, como ao redor de aeroportos, pode-se introduzir projetos fotovoltaicos de maior escala e alimentar a rede elétrica, e com o tempo começar a abandonar paulatinamente o sistema de geração a base de gasóleo, que fornece 100%, ou quase 99%, da energia de Antiga e Barbuda. Envolverde/IPS