Roma, Itália, abril/2015 – A reeleição de Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro de Israel, no dia 17 de março, abre uma série de problemas, com evidentes consequências para o Oriente Médio e o resto do mundo, ao dar novas forças ao fundamentalismo, debilitar seriamente a Organização para a Libertação da Palestina e proporcionar novo vigor ao movimento radical Hamás.
Ao analisar as razões da clara vitória de Netanyahu, o jornal israelense Harez afirma que 200 mil eleitores tornaram possível o triunfo do partido Likud devido ao medo, insistindo especialmente em que a maioria dos que mudaram sua decisão na última hora tinha menos de 35 anos.
Em outras palavras, Netanyahu foi capaz de jogar o fator Masada.
Masada é um elemento importante na história de Israel e em seu imaginário coletivo.
No século I, os habitantes de uma fortaleza montanhosa, assediada pelas legiões romanas triunfantes durante a campanha de conquista de Israel, optaram pelo suicídio em massa em lugar de se renderem.
Atualmente, os israelenses sentem que estão assediados por países vizinhos hostis, começando pelo Irã, pelo califado do grupo extremista Estado Islâmico (EI) – que continua com suas investidas –, por uma opinião pública internacional esmagadoramente negativa e um crescente abandono por parte dos Estados Unidos.
O discurso de Netanyahu no Congresso norte-americano dominado pelos opositores republicanos, no dia 4 de março, foi interpretado como um ato de rebeldia e dignidade, e não como um enfraquecimento das relações fundamentais com Washington.
Seu apoio aos colonos israelenses na Cisjordânia e em Gaza, sua negação à criação de um Estado palestino e sua demonstração de desprezo por uma comunidade internacional incapaz de compreender os temores de Israel, levou Netanyahu à vitória.
Em Israel, ser de esquerda significa aceitar um Estado palestino, ser de direita significa negá-lo. No final, o voto de 17 de março foi a consequência do medo.
Os jovens israelenses não estão sozinhos quando caminham para a direita como uma reação ao temor. É interessante observar que todos os partidos da direita que cresceram na Europa e o Tea Party nos Estados Unidos se baseiam no medo.
A crescente desigualdade social, a magnitude sem precedentes do desemprego juvenil, a redução dos serviços públicos, por exemplo em educação e saúde, a corrupção, que se converteu em um câncer com escândalos diários, são fenômenos que estão afetando especialmente os jovens.
A sensação generalizada é que não há uma resposta clara das instituições políticas aos grandes problemas abertos por uma globalização que se baseia nos mercados e não nos cidadãos.
“Quando você estava na universidade sabia que encontraria trabalho. Nós sabemos que não o encontraremos”, nos disse um estudante por ocasião de uma conferência da Sociedade para o Desenvolvimento Internacional da qual participei.
O jovem acrescentou: “Quando tinha nossa idade, você fumava, então não se sabia que causava câncer. Nós sabemos. Você tomava sol, não sabia que causa melanoma. Nós sabemos. Você comeu todo tipo de alimento, agora sabemos que muitos fazem mal à saúde. E, por fim, devemos nos defender da podridão da aids, algo que se desconhecia. A tudo isto deve-se acrescentar a mudança climática”.
“É fato que as Nações Unidas perderam capacidade de governabilidade, que o sistema financeiro não é controlado, e que as corporações têm muito mais poder do que os governos nacionais.”
Josep Ramoneda escreveu, no dia 18 de março, no jornal espanhol El País: “Esperávamos que os governos submetessem o mercado à democracia, e acontece que o que fazem é adaptar a democracia aos mercados; isto é, esvaziá-la aos poucos”.
Um estudo sobre os partidos de direita concluiu que grande parte de seus eleitores é de jovens. A extrema direita prolifera na Frente Nacional na França, no Ukip na Grã-Bretanha, na Liga Norte na Itália, no partido Alternativa na Alemanha, e o mesmo ocorre na Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Grécia, Holanda, Hungria, Noruega e Suécia.
Dessa forma, muitos jovens se refugiam nos partidos que pregam um retorno ao passado glorioso do país, impedem que imigrantes assumam empregos, atacam muçulmanos que desafiam a homogeneidade tradicional do país, para fazer retornar o Estado-nação e as funções que foram delegadas à obtusa e arrogante burocracia de Bruxelas, que não foi eleita e não é responsável perante os cidadãos.
Estamos diante de uma importante mudança de época, apesar de ser muito ignorada. A função histórica dos jovens era a de ser fator de mudança. Agora estão se convertendo em um fator a favor do statu quo.
Também há os jovens que se unem ao EI, que promete uma recuperação da dignidade dos muçulmanos e destruir os xeques corruptos e ditadores, que fazem parte do sistema internacional com o propósito de enriquecerem em lugar de se preocuparem com sua juventude.
Só para dar dois exemplos. O que os jovens podem pensar do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que mandou construir Ak Saray, o palácio presidencial de 300 mil metros quadrados com 1.150 quartos, ou do Banco Central Europeu, que inaugurou uma sede em Frankfurt que custou US$ 1,285 bilhão?
O que pensarão os jovens do fato de os dez homens mais ricos do mundo que, somente em 2013, aumentaram sua riqueza até um valor equivalente aos orçamentos somados de Brasil e Canadá?
Essa mudança geracional deveria ser uma preocupação transversal para todos os partidos. O que ocorre na mudança é que seguem cortando gastos no sistema de bem-estar social.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, a geração que hoje tem entre 18 e 23 anos se aposentará com uma pensão média de US$ 700. Que tipo de sociedade será essa?
* Roberto Savio é fundador da agência IPS e editor da newsletter Other News.