Internacional

A paz não pode esperar no Oriente Médio

Membro da equipe de defesa civil da cidade síriade Alepo busca sobreviventes, após o ataque aéreo com uma bomba de barril, em agosto de 2014. Foto: Shelly Kittleson/IPS
Membro da equipe de defesa civil da cidade síriade Alepo busca sobreviventes, após o ataque aéreo com uma bomba de barril, em agosto de 2014. Foto: Shelly Kittleson/IPS

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 16/3/2016 – Com as guerras civis e os conflitos transfronteiriços, que só se agravam no Oriente Médio, Iraque, Líbia e Síria,há o risco de implosão, ao que se acrescenta o avanço do Estado Islâmico (EI) em uma zona e em um contexto de grande instabilidade. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já alertou que “poderá ser muito tarde para manter a Síria inteira se esperarmos muito mais”.Atualmente rege um frágil “cessar de hostilidades” entre as forças que se enfrentam na guerra civil da Síria, iniciada em 15 de março de 2011.

Mas a pergunta que todos fazem é até quando durará o cessar-fogo.O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Antonio Guterres, também candidato a ocupar o cargo de secretário-geral da ONU, alertou que, se não houver um fim rápido ao prolongado conflito em território sírio,“poderá ser o final da Síria como o mundo a conhece” atualmente.Especula-se que acabem sendo criados dois países, uma Síria sunita e outra xiita. E o mesmo poderia ocorrer no Iraque, declarou Guterres ao Conselho de Segurança, em dezembro de 2015.

A comunidade internacional não pode permitir que as atuais divisões sectárias aumentem e se convertam em uma guerra de religião, como a que arrasou partes da Europa nos séculos 16 e 17. A história nos ensina que a paz não pode esperar, ressaltouo alto comissário.No Iraque, os prognósticos indicam que o país poderia se dividir em três Estados, um sunita, outro xiita, além do Curdistão, um território para os milhões de curdos desse país e da Turquia, que há tempos reclamam seu próprio Estado separado.

A Líbia, que ficou totalmente desestabilizada após a queda do regime e posterior morte de Muammar Gadafi, em 2011, já tem dois centros políticos e rivais em Trípoli e Tobruk.Por sua vez, o presidente da Tunísia, Beji Caid Essebi, alertou, na primeira semana deste mês, que o Estado Islâmico, que controla partes da Líbia, ameaça criar um novo Estado islâmico em seu país.

O historiador Vijay Prashad, professor de estudos internacionais no Trinity College, com sede em Connecticut, nos Estados Unidos, apontou à IPS que o argumento geral é que esses países – Iraque, Líbia e Síria – já sofreram danos enormes pelas políticas de mudança de regime.“Sua integridade ficou profundamente abalada. Não há necessidade de dividir a Síria, por exemplo, porque já ficou fragmentada pela guerra”, acrescentou.

Segundo Prashad, que em breve publicará o livro The Death of the Nation and the Future of the Arab Revolution (A Morte da Nação e o Futuro da Revolução Árabe), o Centro de Pesquisa Política, com sede em Damasco, na Síria, tem um informe que sustenta que a economia produzida pela guerra já criou várias Sírias, cada uma construída sob a carapaça da sobrevivência.

No Iraque, a criação de um enclave no norte do país, em 1991, já introduziu uma divisão, enquanto a ocupação norte-americana empurrou as diferentes facções iraquianas para uma matriz sectária. A Líbia mal existe como país, com três governos, um em Trípoli, outro em Tobruk/Bayda, e um do Estado Islâmico, em Sirte. Cada um deles agora cria seu próprio aparelho estatal, detalhou Prashad.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, destacou no Conselho de Segurança que“devemos reconhecer que 2015 foi um dos anos mais problemáticos e turbulentos da história recente, com as guerras civis que destroçaram Síria e Iêmen e a propagação do extremismo violento”.

Por sua vez, o vice-secretário-geral da ONU, Jan Eliasson, declarou, na segunda semana deste mês, que, entre 2007 e 2014, as guerras civis haviam triplicado no mundo. As guerras aumentaram em intensidade e em escala, se tornaram mais letais, mais prolongadas, mais complexas e menos suscetíveis a uma solução, acrescentou. “Há uma flagrante falta de respeito e uma desfeita em relação ao direito humanitário internacional”, ressaltou.

Vários fatores alimentam o conflito: as rivalidades políticas, a interferência internacional (guerras indiretas), a volatilidade econômica e as desigualdades, a frágil governança, as violações de direitos humanos e o aumento do extremismo, afirmou Eliasson.As ações descoordenadas e a busca de interesses nacionais de curto alcance não farão mais que perpetuar a instabilidade. As soluções pacíficas são de interesse nacional e internacional nomundo atual, enfatizou.

Em resposta a esses conflitos, a ONU e os países membros empreenderam, em 2015, uma grande revisão das ferramentas de resposta aos conflitos, incluídas as operações de paz, a construção da paz e a Cúpula Humanitária Mundial, destacouEliasson. Envolverde/IPS