Por Mel Frykberg, da IPS –
Ramalá, Cisjordânia, 12/6/2015 – Três palestinos ficaram feridos quando forças navais israelenses abriram fogo contra barcos de pesca diante das costas de Al Sudaniyya, no norte da Faixa de Gaza, elevando para 15 o número de agricultores e pescadores baleados pela marinha de Israel. Este país restringe o trabalho dos pescadores de Gaza a uma zona de três milhas náuticas da costa de Gaza. Porém, mesmo dentro dessa área a marinha israelense feriu ou matou vários trabalhadores, ou destruiu ou confiscou suas embarcações.
Como a maioria dos bancos de pesca fica mar adentro, a indústria pesqueira de Gaza tem sido dizimada e milhares de seus moradores são privados dos meios para manterem suas famílias. Os agricultores que tentam chegar aos seus campos agrícolas dentro da zona de separação da fronteira com Israel, que varia de 500 metros a um quilômetro, também são alvos habituais das forças israelenses, que os ferem e, em certas ocasiões, os matam.
As limitações israelenses às exportações de Gaza também prejudicaram dois dos seus principais mercados, a ocupada Cisjordânia e Israel. Os produtos agrícolas e bens manufaturados eram a base da economia do território costeiro, antes que Israel e Egito impusessem o bloqueio a Gaza.
Após o conflito armado de julho e agosto de 2014, entre o movimento islâmico Hamas e Israel, que registrou o bombardeio inclemente sobre o território palestino por militares de Tel Aviv, uma das condições para o cessar-fogo foi a flexibilização do bloqueio. Embora Israel tenha permitido algumas exportações de Gaza, estas não foram suficientes para revitalizar a decaída econômica local.
Analistas e comentaristas políticos alertaram repetidamente que o contínuo assédio e as restrições de Israel sobre Gaza poderiam desestabilizar ainda mais a região, o que provocaria mais violência e, possivelmente, uma nova guerra. Um informe sobre a situação, realizado pelo Comitê Ad Hoc de Ligação do Escritório do Representante do Quarteto de Paz para o Oriente Médio, integrado por Estados Unidos, Rússia, Organização das Nações Unidas (ONU) e União Europeia, foi divulgado após uma reunião realizada em Bruxelas, no dia 27 de maio.
Segundo o documento, “mais de um ano depois do rompimento das conversações entre Israel e os palestinos, ainda não existe um horizonte político tangível à vista. O último ano nos recordou em várias ocasiões não só onde persistem os focos de tensão e as dificuldades, com também que, na falta de um horizonte político, o vazio é preenchido rapidamente de animosidade e violência”.
O informe descreve como a eliminação ou redução das restrições israelenses ao movimento, comércio e acesso dos palestinos é essencial para garantir o crescimento econômico. “As restrições ao movimento e acesso, tanto físicas como normativas, são obstáculos ao desenvolvimento econômico na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e afetam quase todos os aspectos da vida palestina”, acrescenta o documento.
Israel ajudaria o emprego e a economia de Gaza se aliviasse o bloqueio, o que fortaleceria o setor privado. Isto, por sua vez, reduziria as tensões e contribuiria para as necessidades de segurança israelenses. A falta de acordo entre Hamas e Israel é agravada pela paralisação dentro do governo de unidade palestino, porque não existe consenso entre o Hamas e o Fatah para governar de maneira conjunta em Gaza e Cisjordânia. Esta rivalidade atrasou a ajuda internacional, sem a qual não será possível a reconstrução, remodelação e o crescimento econômico de Gaza.
O Escritório do Representante do Quarteto destacou cinco áreas de desenvolvimento que devem receber atenção para melhorar a situação: um governo palestino eficaz, movimento e comércio, infraestrutura confiável, investimento e uso sustentável da terra. No entanto, o governo de Israel continua com o plano de reassentar milhares de beduínos na Cisjordânia e em Israel, depois de receber a aprovação da Suprema Corte. Cerca de sete mil beduínos do centro da Cisjordânia, em sua maioria residentes ao leste de Jerusalém, e mais 450 no sul de Hebron serão “reassentados” à força.
Os traslados forçados são acompanhados de outras medidas coercitivas, como demolição de casas e de obras de infraestreutura com o argumento de que foram construídas sem autorização, segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Entretanto, na zona C da Cisjordânia, que compreende 60% do território, pouquíssimas autorizações foram emitidas pela Administração Civil de Israel, que controla a Cisjordânia, porque a maior parte da terra foi apropriada para a expansão dos assentamentos israelenses.
“Os beduínos e pastores correm risco de traslado forçado, em uma grave violação do Quarto Convênio de Genebra (relativo à proteção devida às pessoas civis em tempo de guerra), bem como múltiplas violações dos direitos humanos”, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Os beduínos do assentamento não reconhecido de Umm al Hiran, no deserto de Neguev, em Israel, também podem ser reassentados pela força depois que a Suprema Corte rejeitou sua apelação para que pudessem ficar.
“Este tribunal não é o lugar para criar o caos”, afirmou o juiz Elyakjim Rubinstein recentemente, ao rejeitar a apelação dos residentes beduínos no assentamento, informou o jornal israelense Haaretz. Na sentença, Rubinstein diz que os residentes, que serão desalojados de suas casas demolidas para dar lugar à construção da cidade judia de Hiran, vivem no lugar há 60 anos, após se mudarem para a zona de Nahal Yatir em 1956 por ordem do governador militar, e que o despejo e a demolição das aproximadamente 50 estruturas que construíram afetará a vida de centenas de pessoas.
No entanto, o juiz acrescenta na sentença que o despejo é razoável e proporcional, porque a terra em questão era propriedade o Estado e que as construções foram erguidas sem permissão. Cidadãos judeus conseguiram o direito de propriedade sobre a terra onde haviam se estabelecido, mas os direitos dos beduínos às suas terras nunca foram formalizados. Envolverde/IPS
A pesca e a agricultura são ofícios de alto risco em Gaza
Mel Frykberg, da IPS
FOTO
http://www.ipsnoticias.net/2015/06/la-pesca-y-la-agricultura-son-oficios-de-alto-riesgo-en-gaza/
LEGENDA 1
Os pescadores de Gaza, Ibrahim Al Quka e seu irmão Sami Al Quka, que perdeu a mão quando a marinha israelense disparou contra ele, embora estivesse dentro da zona de pesca restringida por Israel. Foto: Mel Frykberg/IPS
LEGENDA 2
A destruição em Gaza após o conflito armado de 2014 entre o Hamas e Israel. Foto: Mel Frykberg/IPS
Ramalá, Cisjordânia, 12/6/2015 – Três palestinos ficaram feridos quando forças navais israelenses abriram fogo contra barcos de pesca diante das costas de Al Sudaniyya, no norte da Faixa de Gaza, elevando para 15 o número de agricultores e pescadores baleados pela marinha de Israel. Este país restringe o trabalho dos pescadores de Gaza a uma zona de três milhas náuticas da costa de Gaza. Porém, mesmo dentro dessa área a marinha israelense feriu ou matou vários trabalhadores, ou destruiu ou confiscou suas embarcações.
Como a maioria dos bancos de pesca fica mar adentro, a indústria pesqueira de Gaza tem sido dizimada e milhares de seus moradores são privados dos meios para manterem suas famílias. Os agricultores que tentam chegar aos seus campos agrícolas dentro da zona de separação da fronteira com Israel, que varia de 500 metros a um quilômetro, também são alvos habituais das forças israelenses, que os ferem e, em certas ocasiões, os matam.
As limitações israelenses às exportações de Gaza também prejudicaram dois dos seus principais mercados, a ocupada Cisjordânia e Israel. Os produtos agrícolas e bens manufaturados eram a base da economia do território costeiro, antes que Israel e Egito impusessem o bloqueio a Gaza.
Após o conflito armado de julho e agosto de 2014, entre o movimento islâmico Hamas e Israel, que registrou o bombardeio inclemente sobre o território palestino por militares de Tel Aviv, uma das condições para o cessar-fogo foi a flexibilização do bloqueio. Embora Israel tenha permitido algumas exportações de Gaza, estas não foram suficientes para revitalizar a decaída econômica local.
Analistas e comentaristas políticos alertaram repetidamente que o contínuo assédio e as restrições de Israel sobre Gaza poderiam desestabilizar ainda mais a região, o que provocaria mais violência e, possivelmente, uma nova guerra. Um informe sobre a situação, realizado pelo Comitê Ad Hoc de Ligação do Escritório do Representante do Quarteto de Paz para o Oriente Médio, integrado por Estados Unidos, Rússia, Organização das Nações Unidas (ONU) e União Europeia, foi divulgado após uma reunião realizada em Bruxelas, no dia 27 de maio.
Segundo o documento, “mais de um ano depois do rompimento das conversações entre Israel e os palestinos, ainda não existe um horizonte político tangível à vista. O último ano nos recordou em várias ocasiões não só onde persistem os focos de tensão e as dificuldades, com também que, na falta de um horizonte político, o vazio é preenchido rapidamente de animosidade e violência”.
O informe descreve como a eliminação ou redução das restrições israelenses ao movimento, comércio e acesso dos palestinos é essencial para garantir o crescimento econômico. “As restrições ao movimento e acesso, tanto físicas como normativas, são obstáculos ao desenvolvimento econômico na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e afetam quase todos os aspectos da vida palestina”, acrescenta o documento.
Israel ajudaria o emprego e a economia de Gaza se aliviasse o bloqueio, o que fortaleceria o setor privado. Isto, por sua vez, reduziria as tensões e contribuiria para as necessidades de segurança israelenses. A falta de acordo entre Hamas e Israel é agravada pela paralisação dentro do governo de unidade palestino, porque não existe consenso entre o Hamas e o Fatah para governar de maneira conjunta em Gaza e Cisjordânia. Esta rivalidade atrasou a ajuda internacional, sem a qual não será possível a reconstrução, remodelação e o crescimento econômico de Gaza.
O Escritório do Representante do Quarteto destacou cinco áreas de desenvolvimento que devem receber atenção para melhorar a situação: um governo palestino eficaz, movimento e comércio, infraestrutura confiável, investimento e uso sustentável da terra. No entanto, o governo de Israel continua com o plano de reassentar milhares de beduínos na Cisjordânia e em Israel, depois de receber a aprovação da Suprema Corte. Cerca de sete mil beduínos do centro da Cisjordânia, em sua maioria residentes ao leste de Jerusalém, e mais 450 no sul de Hebron serão “reassentados” à força.
Os traslados forçados são acompanhados de outras medidas coercitivas, como demolição de casas e de obras de infraestreutura com o argumento de que foram construídas sem autorização, segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Entretanto, na zona C da Cisjordânia, que compreende 60% do território, pouquíssimas autorizações foram emitidas pela Administração Civil de Israel, que controla a Cisjordânia, porque a maior parte da terra foi apropriada para a expansão dos assentamentos israelenses.
“Os beduínos e pastores correm risco de traslado forçado, em uma grave violação do Quarto Convênio de Genebra (relativo à proteção devida às pessoas civis em tempo de guerra), bem como múltiplas violações dos direitos humanos”, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Os beduínos do assentamento não reconhecido de Umm al Hiran, no deserto de Neguev, em Israel, também podem ser reassentados pela força depois que a Suprema Corte rejeitou sua apelação para que pudessem ficar.
“Este tribunal não é o lugar para criar o caos”, afirmou o juiz Elyakjim Rubinstein recentemente, ao rejeitar a apelação dos residentes beduínos no assentamento, informou o jornal israelense Haaretz. Na sentença, Rubinstein diz que os residentes, que serão desalojados de suas casas demolidas para dar lugar à construção da cidade judia de Hiran, vivem no lugar há 60 anos, após se mudarem para a zona de Nahal Yatir em 1956 por ordem do governador militar, e que o despejo e a demolição das aproximadamente 50 estruturas que construíram afetará a vida de centenas de pessoas.
No entanto, o juiz acrescenta na sentença que o despejo é razoável e proporcional, porque a terra em questão era propriedade o Estado e que as construções foram erguidas sem permissão. Cidadãos judeus conseguiram o direito de propriedade sobre a terra onde haviam se estabelecido, mas os direitos dos beduínos às suas terras nunca foram formalizados. Envolverde/IPS