Internacional

África deve investir mais em nutrição

Ex-presidente de Gana, John Kufor, e o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta. Foto: Cortesia
Ex-presidente de Gana, John Kufor, e o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta. Foto: Cortesia

por Friday Phiri, da IPS –

Lusaka, Zâmbia, 7/6/2016 – O peso da África nas estatísticas globais de má nutrição é lamentavelmente elevado, com 58 milhões de menores de cinco anos muito baixos para sua idade e 13,9 milhões abaixo do peso esperado para sua altura. O estado da nutrição na África não tem a ver apenas com a segurança  alimentar, mas também com a falta de diversidade em seus produtos.

É o único continente que não consegue produzir alimentos suficientes para seus cidadãos. Os dados atuais mostram que a África não apenas gasta US$ 35 bilhões ao ano com importação de alimentos, apesar de concentrar 65% das terras cultiváveis que restam no mundo, como também é onde estão 20 dos 24 países com maior proporção de crianças com atraso no crescimento, com taxas superiores a 40%.

“Se o crescimento de nossos filhos tem atraso hoje, o crescimento de nossas economias terá atraso amanhã”, disse o presidente do Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, no lançamento de uma iniciativa para elevar o investimento em nutrição, encabeçada por alguns governantes africanos. E acrescentou que, “quando as crianças africanas tiverem boa nutrição e puderem crescer, aprender e alcançar todo seu potencial, poderemos liberar todo o potencial de nosso continente”.

Novas análises do Painel Global sobre Agricultura e Sistemas Alimentares para a Nutrição (Glopan) mostram que maiores investimentos para alcançar o objetivo da Assembleia Mundial da Saúde (AMS), de reduzir em 40% o atraso no crescimento até 2025, poderiam significar aumento de US$ 83 bilhões no produto interno bruto (PIB) em 15 países da África subsaariana.

No entanto, um novo contexto de investimentos específico para a África, encabeçado pelo Banco Mundial e pelo instituto Resultados para o Desenvolvimento, mostra que, para conseguir os objetivos da AMS em matéria de crescimento infantil, desperdício de alimentos, anemia e lactância materna, é preciso investimento adicional de US$ 2,7 bilhões anuais durante dez anos. Isso significa que os doadores terão que entregar US$ 1,8 bilhão por ano e os governos africanos mais US$ 750 milhões na próxima década.

O anfitrião, presidente de Zâmbia, Edgar Lungu; o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina; o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan; o ex-presidente de Gana, John Kufor; e o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta. Foto: Cortesia
O anfitrião, presidente de Zâmbia, Edgar Lungu; o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina; o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan; o ex-presidente de Gana, John Kufor; e o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta. Foto: Cortesia

Para isso, Adesina e o ex-presidente de Gana, John Kufor, detalharam sua tentativa de criar a organização Líderes Africanos para a Nutrição, para ajudar chefes de Estado, ministros da Economia e representantes de setores estratégicos do continente, para impulsionar e aumentar o investimento nessa área. Essa organização “será uma oportunidade para que os chefes de Estado e os ministros usem sua voz para comprometerem suas ações com o investimento e suas posições para realmente liderar”, pontuou.

E “não é só uma questão de saúde, mas também de economia. Os ganhos potenciais são significativos e duradouros. Por isso, exortamos os líderes da África a unirem-se para destacar o problema da nutrição no continente e dar prioridade ao investimento” acrescentou Kufor. Kofi Annan, presidente da fundação que leva seu nome, elogiou o esforço ao destacar o papel que a agricultura desempenha na luta contra a má nutrição. “Estou esperançoso de que esse esforço tome a forma de uma liderança maior, associações e investimentos na segurança nutricional”, destacou.

Segundo Annan, “a má nutrição continua sendo o principal obstáculo para o desenvolvimento em muitas nações africanas, mas temos um consenso global sobre os objetivos que precisamos alcançar, junto com um mapa do caminho para a ação”. E ressaltou que “uma das medidas mais importantes que podemos adotar em matéria de segurança nutricional é transformar o setor agrícola do continente, porque não é só uma questão de volume de alimentos que cultivamos, mas também do tipo de comida que ingerimos”.

“Necessitamos que a agricultura seja adequada para a nutrição”, apontou Annan, destacando sua vontade de trabalhar com a Líderes Africanos para a Nutrição na criação de uma agricultura de sistemas de produção de alimentos diversos, eficientes e resilientes. Por sua vez, Bill Gates, um dos presidentes da Fundação Bill e Melinda Gates, aplaudiu, em mensagem por vídeo, a formação da organização Líderes Africanos para a Nutrição e seu possível impacto na nutrição por meio de maior investimento.

“Com os países africanos à frente, poderemos acelerar a luta contra a má nutrição e destravar o potencial de meninas e meninos em todas as partes. Temos um conjunto de intervenções efetivas que, se forem ampliadas em escala global salvarão as vidas de 2,2 milhões de crianças e conseguirão que haja 50 milhões a menos com atraso no crescimento nos próximos dez anos”, acrescentou Gates. Para ele, “o que precisamos agora é de maior compromisso no mais alto nível, e a Líderes Africanos para a Nutrição pode desempenhar um papel fundamental para converter a nutrição em prioridade nacional”.

O encontro em Lusaka segue a mesma linha da Investir em Nutrição, reunião realizada em abril, em Washington, dentro das chamadas Reuniões de Primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, quando Gates uniu-se a Adesina e outros promotores do desenvolvimento para lançar o primeiro marco de investimentos para a nutrição, e apresentar a pesquisa de uma nova análise inovadora que dá aos dirigentes um mapa para acelerar a luta mundial contra a má nutrição.

No encontro organizado pelo Banco de Desenvolvimento Africano em Lusaka, também falou Jamie Cooper, presidente da Big Win Philanthropy e representante da Fundação Dangote, sobre a importância da associação público-privada. “Para que as pessoas possam sair da pobreza, primeiro temos que investir em infraestrutura para a massa cinzenta, a que realmente impulsionará o progresso, ou seja, a mente de nossas crianças”, destacou Adesina.

“A nutrição não é só uma questão social e de desenvolvimento da saúde, mas um investimento que dá forma ao crescimento econômico de todas as nações africanas”, ressaltou Adesina. Por fim, salientou sua importância no longo prazo para o desenvolvimento cognitivo das crianças, que terão a responsabilidade de tirar a África da pobreza. Envolverde/IPS