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Alta tecnologia resgata pequenos agricultores na África

Dube AgriZone conta com 16 hectares de estufas, a maior extensão cultivada sob um teto de vidro e com clima controlado. Foto: FAO
Dube AgriZone conta com 16 hectares de estufas, a maior extensão cultivada sob um teto de vidro e com clima controlado. Foto: FAO

 

Durban, África do Sul, 27/3/2015 – A agricultura é um dos setores que mais emprega na África austral e também constitui um pilar para muitas de suas economias. Porém, as áreas rurais, onde se sustenta um modo de vida baseado na atividade agropecuária para a maioria dos quase 270 milhões de habitantes da região, costumam ser frágeis. Os países devem enfrentar vários desafios em matéria de desenvolvimento. O setor é dominado pelo cultivo da terra, embora a criação de animais e outras práticas agrícolas aumentem paulatinamente.

A insegurança alimentar aguda e crônica continua sendo um dos maiores perigos, e a África austral deve enfrentar enormes desafios para tentar transformar e comercializar seus sistemas agrícolas baseados na pequena agricultura, mediante sua acelerada integração aos mercados competitivos em um mundo globalizado.

Esse e outros desafios que o setor enfrenta foram o centro do debate em uma reunião, entre os dias 10 e 12 deste mês, nesta cidade sul-africana, que reuniu autoridades e especialistas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O encontro foi encerrado com um chamado para priorizar a associação ampla e construir sinergias para oferecer aos países um apoio efetivo e eficiente à atividade agrícola.

O coordenador para a África austral da FAO, David Phiri, reiterou a importância de os diferentes setores trabalharem juntos, aproveitando o encontro anual que procura oferecer uma plataforma de debate e intercâmbio de informação sobre boas práticas e o desenvolvimento geral dos programas da agência na região.

“Conseguir a segurança alimentar e nutricional na África austral é um grande desafio, grande demais para ser enfrentado sozinho por qualquer governo ou pela FAO”, afirmou Phiri. “Assim como os governos dos países em desenvolvimento e ricos devem se envolver, também devem fazê-lo a sociedade civil, o setor privado e as agências internacionais. Acima de tudo, é preciso empoderar as pessoas para administrarem seu próprio desenvolvimento”, acrescentou.

Como exemplo das melhores práticas que o fórum analisou, os participantes realizaram uma visita de campo às instalações da Dube AgriZone, uma iniciativa de desenvolvimento agrícola de alta tecnologia promovida pelo governo da província sul-africana de KwaZulu-Natal. O projeto procura estimular o crescimento dos produtos perecíveis, e conseguir melhor produção agrícola, de qualidade consistente, o ano todo, bem como melhorar a gestão de enfermidades e pestes.

As instalações, estrategicamente situadas 30 quilômetros ao norte desta cidade costeira, atualmente contam com 16 hectares de estufas, o que a converte na maior extensão cultivada sob teto de vidro e com clima controlado na África. O principal objetivo da produção são verduras e flores que duram pouco nos pontos de venda e exigem transporte imediato após a colheita para sua distribuição, tanto no mercado interno quanto no externo.

Além das estufas, o local oferece armazéns para empacotamento depois da colheita, um centro de distribuição, um viveiro e o Dube AgriLab, um laboratório completo para cultivo de tecido vegetal. A Dube AgriZone pretende proteger o ambiente mediante práticas “verdes” para reduzir seu impacto ambiental, como coleta de água de chuva, uso de energia solar, gestão de resíduos no local de origem e o cultivo de plantas autóctones para os esforços de reabilitação.

Também oferece aos produtores a possibilidade de melhorar a colheita, uma qualidade constante, gestão de enfermidades e pestes, e produção ao longo de todo o ano com a perspectiva de melhorar a sustentabilidade e a competitividade agrícola.

“Nunca teria conseguido montar um lugar assim e produzir na escala atual não fosse pela inovadora AgriZone”, destacou Derrik Baird, proprietário da Qutom Farms, que hoje produz 150 mil pepinos na estufa arrendada da AgriZone. “O centro de alta tecnologia com várias instalações, como transporte e fretamento, permitiu nos concentrarmos na produção de pepinos a um custo muito menor do que nos outros lugares que havíamos testado”, acrescentou.

A associação entre o governo provincial e o setor privado que permitiu essa iniciativa recebeu elogios como um exemplo de sucesso do qual se pode tirar várias lições para levar a outros lugares da África austral.

“Podemos aprender muitas coisas com ela e, talvez, uma das mais importantes seja a de formar alianças e associações”, destacou Tobias Takavarasha, representante da FAO na África do Sul. “Temos que criar capacidades sobre o que já funciona, adotando e adaptando as tecnologias à situação local e depois as expandindo de norte a sul, leste a oeste, para conseguir melhores resultados”, enfatizou. Envolverde/IPS