Cientista do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Cuba realiza testes de laboratório na sede da instituição na cidade de Camagüey. Foto: Jorge Luis Baños/IPS
Cientista do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Cuba realiza testes de laboratório na sede da instituição na cidade de Camagüey. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

Por Patricia Grogg, da IPS – 

Havana, Cuba, 4/2/2016 – Cuba aposta em atrair investimento estrangeiro para sua indústria farmacêutica e biotecnológica, para fortalecer e expandir um setor que conta com qualificados recursos humanos, infraestrutura já instalada e produções de interesse para os Estados Unidos e outros países de alta industrialização.Embora as exportações cubanas para o país do norte estejam proibidas pelo embargo imposto por Washington, dois produtos líderes da biotecnologia cubana com um atraente mercado em território norte-americano já entreabriram a porta no último ano para eventuais negócios futuros.

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos concedeu, ao amparo de dar resposta a uma necessidade médica não resolvida, a licença para que a máxima autoridade reguladora do país, a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), submeta a estudos o HeberProt-P, um novo medicamento cubano que reduz o risco de amputações em pacientes diabéticos com úlceras graves. Segundo dados da Associação Americana de Diabetes, 29,1 milhões de norte-americanos, o equivalente a 9,3% da população do país, sofria da doença em 2012. A prevalência em adultos de 20 anos ou mais nesse mesmo ano foi de 12,3%, comparado com 11,3% em 2010.

Além disso, um acordo entre o cubano Centro de Imunologia Molecular (CIM) e o Instituto Roswell Park Contra o Câncer em Nova York permitirá submeter a testes clínicos em território norte-americano a vacina terapêutica contra o câncer de pulmão CIMAVax-EGF, criada em 2011 após 15 anos de pesquisa por parte da instituição cubana.Uma especialista local no assunto, que pediu para não ser identificada,declarou à IPS que são dos bons exemplos do interesse nos Estados Unidos por uma indústria que começou a ser desenvolvida por Cuba na década de 1980, e atualmente exibe “competências próprias de países industrializados”.

O embargo econômico e comercial de Washington contra Havana ainda sobrevive ao restabelecimento das relações diplomáticas bilaterais concretizado em 2015. Mas o presidente Barack Obama poderia fazer uso de suas prerrogativas para permitir, entre outros, a importação pelos Estados Unidos de produtos cubanos do setor de biotecnologia.

Sem esperar o fim das restrições por parte dos Estados Unidos, que depende de seu Congresso, o governo cubano atualizou sua carteira de oportunidades de investimento estrangeiro, entre os quais são priorizados os projetos dos setores de biotecnologia, tecnologia, desenvolvimento e produção de remédios na Zona Econômica de Desenvolvimento de Mariel.

Mostra em uma feira em Havana do medicamento HebertPro-P, desenvolvido pelo Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Cuba, que ajuda a evitar as amputações por ulcerações profundas provocadas pela diabetes. Foto: Jorge Luis Baños/IPS
Mostra em uma feira em Havana do medicamento HebertPro-P, desenvolvido pelo Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Cuba, que ajuda a evitar as amputações por ulcerações profundas provocadas pela diabetes. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

As ofertas incluem a construção de uma nova instalação biotecnológica industrial para produção de anticorpos monoclonais de uso terapêutico para câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis, uma planta de hemoderivados e outra para produção de biofármacos para tratamento do câncer e outras enfermidades.

Como parte das reformas empreendidas em 2011 pelo VICongresso do governante e único Partido Comunista de Cuba, um ano depois foi criado o Grupo das Indústrias Biotecnológicas e Farmacêuticas, conhecido por BioCubaFarma e produto da fusão entre a Quimefa, produtora de medicamentos, e o Polo Científico da Biotecnologia. O grupo é integrado por 38 grandes empresas dedicadas a essas duas vertentes, que trabalham de forma integral, pois nelas são pesquisados, desenvolvidos, produzidos e exportados produtos farmacêuticos e biotecnológicos.

Informes oficiais de 2013 indicam que, nos cinco anos precedentes, o setor gerou arrecadação de US$ 2,779 bilhões. Espera-se duplicar essa quantia até 2018. Diretores do grupo afirmam que entre seus desafios está crescer, modernizar a indústria, diversificar a exportação e desenvolver novos produtos. Nesse sentido, o investimento estrangeiro é fundamental e os projetos apresentados na carteira de oportunidades somam US$ 860 milhões.

A necessidade de uma boa injeção de capital externo é comum a todo o país, que, segundo estimativas de suas autoridades, requer investimentos anuais de entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3,5 bilhões, para aspirar crescimento de 6% do produto interno bruto, a meta fixada para alcançar o ansiado desenvolvimento. A previsão de crescimento para a economia em 2016 é de apenas 2%.No total, as ofertas para captar capital estrangeiro incluem 326 projetos em 12 setores econômicos no valor superior a US$ 8,1 bilhões, com destaque para o turismo, com 94 projetos. “Este é o setor mais atraente, seus frutos são mais imediatos e o capital é rapidamente recuperado”, ressaltou à IPS um diplomata europeu.

Em um estudo sobre os desafios da indústria biotecnológica cubana, Laura Pestano, professora da Universidade de Havana, pontuou que a estratégia seguida pelo setor “é sua maior fortaleza, pois se baseia em recursos materiais e humanos próprios, além de contar com impulso por parte do Estado desde seu começo”.“Fatores como a cooperação entre diferentes instituições e a estratégia de ciclo fechado deixaram a biotecnologia cubana um passo adiante em relação à indústria no mundo, possibilitando que suas pesquisas consigam se converter em produtos comercializáveis e de grande reconhecimento internacional”, concluiu Pestano.

Expansão da BioCubaFarma

O grupo conta com 38 empresas cubanas e 11 no exterior, trabalhando em 33 projetos contra doenças infecciosas, 33 projetos e produções oncológicas, 18 projetos e produções cardiovasculares, bem como sete para o tratamento de diabetes e outras patologias. ABioCubaFarma soma atualmente mais de 800 registros no exterior e mais de 1.400 patentes registradas em 50 países.

Exporta paramais de 49 países e seu programa de desenvolvimento no exterior inclui atualmente 30 testes clínicos em 18 nações. Em sua expansão internacional utiliza várias modalidades de negócios, entre as quais se destaca o desenvolvimento conjunto de projetos de pesquisa, desenvolvimento, acordos de distribuição e representação, acordos de transferência de tecnologia e empresas mistas fora da ilha e outras com 100% de capital cubano no exterior.Envolverde/IPS