Por Kenton X. Chance, da IPS –
Castries, Santa Lúcia, 12/8/2015 – O premiado poeta e dramaturgo Kendel Hippolyte, de Santa Lúcia, considera que para cuidar do planeta é necessário que os cidadãos do Caribe considerem a Terra como sua mãe. “Para mim é tão básico: a Terra da qual dependemos e na qual vivemos é nossa mãe e há formas de tratar nossas mães e nos relacionarmos com elas”, disse à IPS o escritor de 64 anos, ganhador da Medalha de Ouro ao Mérito por sua Contribuição às Artes de Santa Lúcia.
“Se tratamos nossas mães como se supõe que as pessoas devem tratar suas mães, tudo tem sentido”, afirmou Hippolyte na conferência climática Vocês e a Imaginação Juntos Pela Justiça Climática, realizada em julho. Esse poeta é um dos muitos artistas do Caribe insular que concordaram em utilizar sua influência na sociedade para educar a população dessa vulnerável região sobre a mudança climática e as ações que podem ser adotadas a título pessoal.
A conferência tratou da criação de um grupo informal de artistas e jornalistas caribenhos, que serão preparados para que somem sua voz, de forma individual ou coletiva, para defender e participar de campanhas de conscientização, se concentrando inicialmente nas negociações internacionais que ocorrerão durante a 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC). A COP 21 deverá conseguir um acordo universal e vinculante e acontecerá em Paris, entre os dias 30 de novembro e 11 de dezembro.
Entre os artistas que aderiram à iniciativa estavam o músico de Trinidad e Tobago dedicado ao gênero calipso, David Michael Rudder, a artista britânica nascida em Barbados, Alison Hinds, dedicada ao gênero soca, e Gamal Doyle, de São Vicente e Granadinas, conhecido com Skinhy Fabulous (Fabuloso Fraco).
Pensando na COP 21, os negociadores do Caribe buscam o apoio de artistas da região para divulgar a mensagem de justiça climática, cujo principal argumento é que a contribuição para a mudança climática dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento (Peid) é mínimo e, no entanto, são os mais afetados pelos seus efeitos negativos. Por isso, os países que são responsáveis em grande parte pelo aquecimento global devem ajudá-los a financiar os esforços de mitigação e adaptação.
O ministro de Desenvolvimento Sustentável, Energia, Ciência e Tecnologia de Santa Lúcia, James Fletcher, apontou à IPS que na COP 21 os Peid pressionarão para conseguir um acordo sólido e vinculante que mantenha o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 a 2 graus centígrados, com relação aos níveis pré-industriais. De fato, os negociadores marcaram o limite de forma determinante com o slogan “1,5 para sobreviver”.
Mesmo se for limitado o aumento da temperatura a dois graus, os países da Comunidade do Caribe (Caricom) registrarão uma redução entre 10% e 20% nas precipitações, afirmou Fletcher. O Caricom é integrado por 15 membros: Antiga e Barbuda, Bahamas, Barbados, Dominica, Granada, Haiti, São Cristóvão e Neves, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Montserrat, e Trinidad e Tobago, além de Guiana e Suriname, na América do Sul, Jamaica, na parte norte do Caribe, e Belize, na América Central.
Com um aumento de dois graus centígrados, o Caribe registrará uma elevação do nível do mar superior ao de outras regiões do mundo. Há modelos sustentando que com dois graus mais em escala global, o nível do mar aumentará um metro no Caribe, segundo Fletcher. Isso se traduz na perda de 1.300 quilômetros quadrados de terras, equivalentes à superfície de Barbados, Antiga e Barbuda, Anguila, São Vicente e Granadinas somadas, acrescentou. Além disso, cerca de 110 mil pessoas, o equivalente à população de São Vicente e as Granadinas, ficarão deslocadas.
Em uma região tão dependente do turismo, 149 centros turísticos sofrerão danos, cinco centrais de energia e 21 aeroportos da Caricom ficarão danificados ou destruídos, e 1% das terras cultiváveis, bem como o entorno dos aeroportos e 567 quilômetros de estradas serão perdidos. Os países do Caribe, famosos pelo sol, o mar e a areia, se apressem em tomar medidas de mitigação e adaptação ao aquecimento global.
No entanto, Hippolyte acredita que as pessoas podem fazer muito mais e, embora exista muita informação disponível para a população do Caribe, é necessário conseguir uma mudança de atitude. “Se a informação chegar ao coração, então seguirá de mãos e depois de corpo com o que fizermos e não fizermos”, destacou.
Na conferência sobre justiça climática, Didacus Jules, diretor-geral da Organização de Estados do Caribe Oriental (Oeco), pontuou à IPS que “a justiça radica na proteção doa mais vulneráveis, sejam pessoas ou Estados marginalizados”. A Oeco é um grupo econômico e político dentro da Caricom, com nove membros.
A maior parte da infraestrutura dos Peid está na faixa costeira e corre perigo por causa do aumento do nível do mar, afirmou Jules à IPS, acrescentando que “as consequências negativas da mudança climática também incidem em como interagirmos entre nós, enquanto pessoas, pois temos que competir por recursos limitados”.
Segundo Jules, “a mensagem de justiça climática deve chegar a todos os rincões da região e não apenas o que é mostrado pelos meios de comunicação globais, que nem sempre dão destaque aos interesses dos Peid. Vemos o poder de nossos artistas. A música do Caribe é uma força global, cujo impacto supera o de qualquer furacão que já tenha nos afetado”, ressaltou.
Apesar da vulnerabilidade e dos desafios, “nos unirmos e utilizarmos nossas vozes pode enviar um forte sinal para que o mundo saiba que somos totalmente conscientes das consequências de não contar com um acordo internacional vinculante em matéria de mudança climática e do impacto nos Peid de nossa região. O importante é que as consequências da mudança climática ameaçam nossa própria existência. Vão nos ouvir”, enfatizou Jules.
“A aliança dos pequenos Estados insulares deixou claro que aspira que se tenha 1,5 grau centígrado como objetivo e limite de temperatura para a ação climática no acordo de Paris”, ressaltou o diretor da Oeco. Envolverde/IPS