Internacional

As leguminosas na recuperação dos solos

A terra armazena nutrientes, carbono e micro-organismos. Foto: Xavi Fernández de Castro/IPS
A terra armazena nutrientes, carbono e micro-organismos. Foto: Xavi Fernández de Castro/IPS

Por Lyndal Rowlands, da IPS –

Nações Unidas, 8/12/2016 – O solo sadio, além de tornar os alimentos mais nutritivos, também ajuda a manter o carbono fora da atmosfera ao armazená-lo sob a terra. Entretanto, em todo o mundo foram degradados mais de 500 milhões de hectares de solos, o que causou a perda de nutrientes valiosos e a liberação de carbono, acelerando o processo da mudança climática provocada pelo homem.

A mudança climática, por sua vez, afeta a produtividade dos cultivos, o que gera um ciclo negativo para os agricultores, afirmou Lucrezia Caon, consultora da Aliança Mundial pelo Solo, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). “Se degradamos o solo, o dióxido de carbono (CO2) fomenta a mudança climática, e esta afeta a produtividade dos cultivos”, explicou à IPS em um evento relacionado ao Dia Mundial do Solo, comemorado no dia 5 deste mês.

O evento foi centrado no papel especial que algumas leguminosas têm na preservação dos solos. Este foi o Ano Internacional das Leguminosas, depois que, em 2015, foi comemorado do Ano Internacional do Solo. Entre as leguminosas estão incluídas ervilhas, feijões, grão-de-bico e lentilha. São particularmente populares no sul da Ásia e na América Latina. Em geral, as leguminosas são mais populares nos países em desenvolvimento do que no Norte industrializado, segundo Caon.

“Das leguminosas, 75% são consumidas nos países em desenvolvimento e apenas 25% nas nações desenvolvidas”, acrescentou a consultora. De acordo com FAO, as leguminosas estão entre os cultivos mais sustentáveis. “São um bom aliado no combate à adaptação climática devido ao conteúdo de matéria orgânica que proporcionam ao solo. Têm sistemas de raízes profundas e, uma vez colhidas as plantas, a raiz morre, mantendo o carbono no solo”, apontou.

As plantas também mantêm o carbono no solo de outras maneiras, pontuou Caon. As folhas que caem são absorvidas pelo solo como carbono orgânico, enquanto as plantas também estimulam a atividade microbiana, que fomenta matéria orgânica adicional. “A matéria orgânica do solo está constituída basicamente pelas folhas e pelos organismos. É realmente uma forma pela qual o carbono pode ser absorvido pelo solo e não pela atmosfera em forma de dióxido de carbono, o que causa a mudança climática e o efeito de gás-estufa”, ressaltou.

As leguminosas são boas para a nutrição e a renda, em particular para mulheres agricultoras que cuidam da segurança alimentar de suas famílias, como acontece nessa aldeia próxima a Lusaka, em Zâmbia. Foto: Busani Bafana/IPS
As leguminosas são boas para a nutrição e a renda, em particular para mulheres agricultoras que cuidam da segurança alimentar de suas famílias, como acontece nessa aldeia próxima a Lusaka, em Zâmbia. Foto: Busani Bafana/IPS

Além disso, as leguminosas são muito mais eficientes em matéria hídrica do que outras fontes de proteína. Segundo a FAO, são necessários apenas 163 litros de água para cultivar meio quilo de leguminosas, em comparação com os 817 litros para a soja e 1.393 litros para o amendoim.

Os benefícios das leguminosas para o solo também podem ajudar a combater a degradação da terra, ressaltou Melchiade Bukuru, diretor do Escritório de Enlace da Convenção da ONU para Combater a Desertificação. “Hoje temos mais de 500 milhões de hectares degradados no mundo, que nos pedem para lhes devolvermos a fertilidade. As leguminosas podem ajudar a restaurar a terra degradada porque levam fertilidade ao solo”, acrescentou.

O processo de degradação da terra, também conhecido como desertificação, ocorre em todo o mundo, segundo Bukuru. “Setenta e oito por cento da degradação da terra ocorre em ecossistemas afastados do deserto. Não conheço nenhum país que não experimente a degradação da terra, por isso é objetivo global conseguir um avanço zero (do problema) até 2030”, acrescentou. (Envolverde/IPS)