Por Sandra Siagian, da IPS –
Jacarta, Indonésia, 14/5/2015 – Em um país extremamente povoado como a Indonésia, onde 250 milhões de pessoas estão distribuídas em 17.500 ilhas e falam 300 línguas, a questão do desenvolvimento tem suas complicações.
A Indonésia é um país de renda média-baixa, com 11,4% de sua população pobre e 65 milhões em risco de cair na pobreza, o que obriga o governo a tomar decisões difíceis sobre onde investir os limitados fundos: educação ou saúde, criação de emprego ou desenvolvimento de infraestrutura?
Para complicar a situação, 62% da população, cerca de 153 milhões de pessoas, vivem em zonas rurais distantes, de onde é difícil chegar à hospitais, escolas e ter acesso à oportunidades de trabalho fora da agricultura; aproximadamente 27% dos habitantes, ou 66,1 milhões de pessoas, são mulheres em idade reprodutiva.
Além disso, esse país do sudeste asiático tem o maior número de pessoas em idade de trabalhar em sua história, tanto em termos absolutos, 157 milhões de potenciais trabalhadores, como proporcionais, cerca de 66% da população.
A conjuntura obriga o governo a criar emprego, mas também dá ao país a possibilidade de obter benefícios de seu dividendo demográfico, que a Organização Internacional do Trabalho definiu como um período em que o crescente número de trabalhadores e trabalhadoras, em relação à sua população total, libera recursos para o investimento público e privado em capital humano e físico. Isso, por sua vez, permite ao país conseguir uma renda maior por habitante, o que impulsiona a economia.
No Fórum Econômico Mundial Ásia Pacífico, realizado entre 19 e 21 de abril na capital da Indonésia, especialistas de todo o mundo pediram urgência ao país no sentido de capitalizar seu dividendo demográfico investindo muito em sua população. Entre os 700 participantes estava o diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Salud Babatuinde Osotimehin, que insistiu que “as pessoas devem estar no centro do desenvolvimento”.
Pode parecer uma receita simples, mas não o é na Indonésia, onde metade da população jovem (entre 15 e 24 anos) pertence a um setor com um dos maiores índices de desemprego do país. Com aumento populacional de 19%, o que representará cerca de 293 milhões de pessoas em 2030, segundo o UNFPA, esse país deverá prestar atenção ao conselho dos especialistas.
Durante o encontro, IPS conversou com Osotimehin sobre como esse país pode tirar proveito do potencial de sua população e sobre algumas estratégias para que a jovem democracia otimize a mutável dinâmica populacional.
IPS: Em que lugar está a Indonésia em matéria de dividendos demográficos?
Babatunde Osotimehin: A Indonésia deve aproveitar a oportunidade demográfica, que segundo previsões atingirá seu pico entre 2020 e 2030. Creio que há consciência neste país de que é um importante processo de planejamento no qual se deve investir.
A Indonésia tem tanto a capacidade de análise como o compromisso político, mas creio que para seguir adiante temos que fomentar um investimento estratégico para aproveitar a vantagem demográfica.
IPS: De que tipo de investimento necessita?
BO: O investimento em saúde, educação e emprego deve aumentar de forma considerável. Os sistemas sociais devem ser fortalecidos, temos que atender a questão do casamento infantil e garantir que as meninas frequentem a escola, terminem o curso e atinjam a maturidade. Devemos garantir que tanto meninas quanto mulheres sejam capazes de tomar suas decisões, isso é primordial.
Todos os jovens devem receber informação sobre si mesmos e sobre seus corpos, e toda mulher deve ter acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva e de planejamento familiar para poder tomar decisões livremente. Contar com educação sexual garantirá a redução de problemas como infecções por HIV (vírus causador da Aids), de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência.
Na área educacional queremos que os planos sejam diversificados para incentivar a capacitação vocacional e empresarial. Devemos poder promover pequenas e médias empresas, que costumam ser a base de uma economia florescente.
IPS: Por que para a Indonésia é especialmente importante se concentrar em sua população jovem?
BO: É importante por muitas razões. Dá aos jovens um sentimento de pertinência e nos assegura que possam participar do desenvolvimento nacional. Os jovens formarão parte da transição demográfica, e é preciso incluí-los para reduzir a fertilidade. Realmente, têm de fazer parte do processo.
Uma vez que se de conta do potencial dos jovens e estes entrem no mercado de trabalho, poderão ter renda e economizar, o que ajudará o crescimento da economia.
IPS: A Indonésia avança na direção correta?
BO: Creio que a Indonésia sempre contou com as políticas necessárias, só precisaria revitalizá-las, para isso são necessários novos investimentos e liderança política.
Antes, o país foi líder em planejamento familiar após implantar um programa nacional nos anos 1970. Mas ficou de lado após a transição democrática na década de 2000, quando foram descentralizados os serviços de planejamento familiar. Creio que o governo se comprometeu a recuperá-lo e várias autoridades comentaram que estão dando muita atenção a ele.
A Indonésia também deve considerar trabalhar no setor privado para ajudar a criar emprego decente. Será muito importante garantir que todas as pessoas, dos jovens aos idosos, tenham uma proteção social que ofereça serviços básicos. Envolverde/IPS